terça-feira, 22 de dezembro de 2009

R18 A flor e a pedra

Um sentimento final...
Várias vezes vi esse anjo de pedra na entrada de um cemitério onde fui levar flores para o túmulo da minha família. Hoje relembrei de sua imagem e terminei de repassar uma emoção que tem me deixado de olhos úmidos ao longo desses dias. Desde o dia da morte da minha mãe, sentimentos que eu desconhecia e acontecimentos que eu nem imaginava me vieram pelos caminhos da vida como uma chuva suave vem durante a noite. Mas a dor e a emoção foram intensas. Há pouco menos de um mês ela morreu.

Depois de muito tempo cuidando dela, naquele dia percebi pelo seu olhar que sua morte se aproximava. Ao cuidar dela mais uma vez, notei que o alento de vida que ela tinha até então se apagava em seu olhar. Aquilo era o fim de uma agonia de meses seguidos, onde a dor e o sofrimento tomaram vida em seu corpo. Chamei o médico, mas senti que tudo iria terminar.


Como fotógrafo, tendo já fotografado pessoas em situação de dor, percebi que a dor agora chegava na minha casa. Decidi registrar essa memória em imagens. Aliás a dor não chegava, ela se preparava para partir. Afinal havia meses que a dor estava aqui. Ao pegar minha máquina notei que o único filme que havia me restado era em preto e branco, que sempre uso para fazer uma textura especial de imagem ao fotografar campos e paisagens.E ao mesmo tempo, cenas que expressem um drama da vida.

E aí fiz as fotos que mostrarão sempre cenas com um significado especial para mim. Chamo isso de fotos memoriais. Como as que fiz. Minha mãe em seu descanso final, com o rosto enfim em paz, flores em sua casa e túmulo, uma árvore e uma ferrovia que fizeram parte dessa nossa caminhada. E o anjo do cemitério, como um guardião.

No dia do enterro, deixei junto dela a pequena bonequinha que ela guardava em sua gaveta do armário. Na volta peguei minha máquina e ao caminhar até sua casa fotografei uma velha ferrovia. Há muito tempo atrás minha mãe passou comigo por ela, numa viagem, que para mim, então criança, era só diversão. Me levava até a cidade onde ela havia nascido para conhecer alguns parentes.
Em sua casa, o vaso que ela sempre regava e que havia ficado seco tinha agora uma folhagem renovada e com flores depois das primeiras chuvas de verão. Registrei a imagem e decidi levar as flores para o túmulo. Ao passar na ferrovia, peguei duas pedras. Uma para o túmulo dos avós e uma para o túmulo dela. Em algumas religiões é um costume pelo significado das pedras.

No túmulo deixei a flor e a pedra. Por esses tempos tenho meditado muito sobre sua morte. Reflexão e muita emoção, demais até, mas é inevitável. Sei que nunca mais vou ser o mesmo depois de tudo o que ela sofreu e que eu vi.
Ontem a mulher que amo, com uma suavidade e uma ternura sem conta na voz me disse para não pensar mais nisso, para tentar esquecer. Ela tem toda razão. Sempre que um ente querido morre vamos nos pegar pensando que podíamos ter dito algumas palavras a mais, ter feito alguma coisa a mais. A morte traz esse sentimento. Simplesmente, por mais que tenhamos feito pela pessoa, vamos achar que faltou algum gesto, alguma palavra. Percebi que simplesmente tinha feito tudo o que podia.

Hoje passando na ferrovia e olhando a foto que fiz, pude ver como tinha conseguido um dos melhores efeitos de imagem que já pude fazer. E ao mesmo tempo meditei sobre o sentimento que as flores e a pedra trazem. Levar para o ente querido algo bonito e frágil como uma flor representa a beleza e ao mesmo tempo a fragilidade da vida. A pedra representa a perenidade do sentimento e da lembrança. Mas também nos lembra que sobre certos sentimentos colocamos uma pedra e voltamos à vida. Apesar de tudo ainda estamos vivos. Os sentimentos de dor e reviver se misturam. A flor nos relembra a beleza de ver mais um sol nascente. A pedra nos relembra de
reconstruírmos a vida. No meio dessa reflexão, renascemos para a vida.

Pensei que se existir uma outra vida como dizem, pelo meu desejo as coisas serão diferentes. Um dos filmes que minha mãe gostava de ouvir a música inicial era "O sol é para todos" indicado por um amigo. Ironicamente filmado em preto e branco. Nele havia uma menininha chamada Scout, feliz e alegre, brincando numa cidadezinha. Se existir essa vida, desejo que ela tenha renascido assim, feliz como essa menininha.
Um sentimento com a beleza das flores e a perenidade das pedras.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

R17 Um alvorecer e uma floresta

Alvorecer... Após um período difícil que passei na vida, vejo agora um alvorecer. Pelno de possibilidades e ao mesmo tempo de incertezas.

Ao ver esse dia que começa a brilhar, me peguei pensando se vou caminhar sozinho ou com mais alguém.

Sei que essa alvorada, por mais problemas que traga, já ilumina uma floresta onde caminhamos juntos muitas vezes.

Espero com todas as forças do coração, poder refazer esses caminhos como fiz uma vez, acompanhado por uma presença de luz.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

R16 Um dia a ser lembrado

Lembranças de uma vida...

Por esses tempos, por conta da doença da minha mãe mal pude escrever neste espaço. Sofrendo há meses com uma enfermidade que piorava a cada dia, ela ficou sob meus cuidados. Foi uma estrada difícil de trilhar, cheia de pedras e espinhos por onde nunca imaginei passar.

Por conta disso raramente pude voltar aqui para alinhavar alguns textos. Nesse tempo todo aprendi da forma mais dolorosa a ser socorrista, enfermeiro, cuidador e tudo mais que uma pessoa idosa e doente precisa.

Enfim, hoje de tarde ela terminou seu sofrimento fechando os olhos para sempre. Cheguei a visitá-la no hospital para onde a levei ontem e me lembro do seu último olhar, o beijo em sua testa e a despedida. Pensei que ainda voltaria para uma próxima visita, o que me causava grande aflição pois um sofrimento assim tem que ter um fim.

E teve hoje. As dores se foram, ficaram só as lágrimas, poucas, que nesses tempos já derramei muitas. Acima de tudo a sensação de alívio de ver um sofrimento assim terminar começa a refazer a alma.

É madrugada, volto para casa para me alimentar um pouco e me refazer e depois desse breve retorno, saio para estar do lado do seu corpo.

Estou tão cansado. Mas essa estrada de lágrimas ficou para trás. Outras virão, mas são coisas da vida.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

D10 As coisas da vida

Coisas da vida enfim... Após um longo tempo sem poder estar aqui, volto a escrever algumas linhas. Por certo que a vida tem dado motivos e acontecimentos para meditações sobre as coisas que vemos no dia a dia. Mais que isso, sobre as coisas que fazemos, que acontecem. Tudo às vezes muito dolorido.

Essas coisas todas e mais o pensamento que alguns filmes nos trazem, vou colocar aqui em breve.

E apesar de manter o endereço do meu antigo bilogue (desculpem, mas aportuguesei a palavra ) http:vellker.blog.terra.com.br devo dizer aos que tentarem acessá-lo que encontrarão apenas textos sem formatação, mas ainda legíveis, não sei por quanto tempo.

Acontece que há coisa de uns dois meses perdi o acesso a ele. Mais corretamente falando pelo que pude constatar, meu acesso foi retirado.

Pelos textos, dá para entender o porque, mas por enquanto ainda vou mantê-lo registrado aqui.

Enquanto isso a vida vai nos mostrando as coisas dela e algumas situações que com certeza não gostaríamos de ver, menos ainda de estarmos no meio delas.

Mas são coisas da vida.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

R15 Kill Bill - volume 2, capítulo 8

A cruel tutela de Pai Mei...
Foi esse título do capítulo 8 do filme Kill Bill volume 2 que me veio à mente. Após ver o filme ontem para relaxar um pouco, me surpreendi quando minha mãe disse que gostava da música do final do filme, enquanto lhe trazia água. Por vezes um pouco consciente em alguns momentos no longo tempo que tem sido sua doença, repeti a música algumas vezes para ela ouvir, até que ela adormecesse novamente. Sei que é por pouco tempo. Logo acorda com dores pelo corpo todo.

Todo seu tempo nos últimos meses tem sido passado assim. Só agora pude voltar a escrever novamente e não sei por quanto tempo continuo. Quase todo meu tempo tenho cuidado dela. Eu sabia por casos de conhecidos que cuidar de uma pessoa doente é cansativo mas nem de longe imaginava que era, em termos físicos e emocionais, tão desgastante. Pareço aqui ser egoísta. Quem sofre é minha mãe mas pude sentir na pele que a pessoa que acompanha um doente assim passa mal também, especialmente se for um parente próximo.

O triste é ver também o quanto esse sofrimento é inútil, sem mérito e sem sentido. Uma lição cruel que a vida nos ensina. Não pude deixar de fazer um paralelo com a personagem do filme, Beatrix Kiddo, que sob a tutela de Pai Mei, o mestre em artes marciais que de forma impiedosa e cruel a ensina a lutar, após recebê-la como aluna, mas causando-lhe grandes sofrimentos.
Admirando a sua aluna com o passar do tempo, Pai Mei lhe ensina todos os segredos, ao ver a persistência e resistência dela. A heroína do filme tinha méritos e assim seu tutor passa a treinar sua aluna de uma forma especial. Esse treino é que nas aventuras que se seguiram em sua vida, permitiu que ela enfrentasse seus inimigos, sobrevivesse a todas as armadilhas e recuperasse a filhinha pequena que estava em poder do pai, um dos vilões do filme.
Por vezes olho para minha mãe passando pelas dores da doença e não deixo de comparar a vida a um tipo de Pai Mei, com uma tutela de especial crueldade e impiedade. Mas o que se poderia chamar de ensinamento aqui, nada ensina e de nada serve. Nem sei porque acontece. Mas acontece.

Sei que sua vida não vai durar muito. Aliás o fim da vida será uma libertação para ela dessas dores. Como quase toda a família ela tem crenças em uma vida após esta. Pessoalmente não partilho dessa crença. Mas como posso dizer que ela está errada ou eu estou certo? Volto a me recordar do filme, com um final feliz quando a heroína e sua filhinha estão enfim felizes, juntas e agora seguras depois de derrotados todos os vilões do filme. Na cena final o belo sorriso da mãe abraçando a filha e ao som da música que ela tanto gostou.

Se houver mesmo uma vida após essa, depois de todas essas lágrimas e dores, depois da tutela cruel dessa vida que poderia ser descrita como uma espécie de Pai Mei que desconhece qualquer piedade, espero mesmo que ela possa reabrir os olhos como uma menininha, nos braços de uma mãe sorridente assim.

É o que a vida tem me ensinado.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

R14 Um caminho misterioso

Caminho certo ou atalho...? Por esse dias, com vários problemas na vida, lógico, como todos pude me distrair e passei algumas horas vendo televisão. E acabei assistindo um filme que me fez pensar em certas coisas. Muitas vezes na vida pegamos um caminho certo e se soubermos que ele vai ser longo, claro, pegamos um atalho.

Foi essa a idéia que me passou pela cabeça ao refletir sobre coisas que aconteceram há muito, muito tempo.

Na história desse nosso mundo conturbado existiu um personagem que seguiu uma trajetória singular. Nacionalista fanático, teve para si que seu caminho certo era se alistar para uma guerra para servir ao país que considerava seu.

E viveu coisas inacreditáveis.

Na guerra em 1917, contava ele depois que numa tarde ao ser servida uma refeição aos soldados, ouviu uma voz que lhe dizia para se afastar dos seus amigos. Incomodado fez o que disse ter ouvido. Pouco depois um obus caiu sobre os soldados com os quais ele estava matando todos eles.

Em 1918 foi atingido junto com outros soldados por gás mostarda, extremamente venenoso, mas sobreviveu e foi retirado da frente de batalha para ser tratado num hospital militar. Numa guerra que vitimou 9 milhões de pessoas, ele sobreviveu.

Em 1923, tendo se tornado bem destacado na política de seu país, marchou junto com seus colegas de partido numa tentiva de golpe. As tropas do governo abriram fogo contra ele e seus amigos. 19 deles morreram. Ele sobreviveu.

Já líder de sua nação, em 1939 foi fazer um discurso para os membros de seu partido. Um solitário dissidente político havia colocado uma bomba preparada para explodir ao lado dele. 13 minutos antes da hora marcada, de forma inesperada ele encerrou o discurso e saiu. Na explosão que se seguiu, 8 pessoas morreram e 63 ficaram feridas.

Em 1943, ao fazer uma visita numa das frentes de combate do país que então governava, um dos seus generais, também dissidente, conseguiu colocar uma bomba dentro do seu avião. Ele fez a viagem sem problemas pelo simples fato de que, apesar de acionado, o detonador falhou.

Em 1944, mesmo com conspiradores tendo conseguido colocar uma bomba com quase 1 quilo de explosivo plástico junto dele, ele sobreviveu. Depois soube-se que um dos seus oficiais querendo mostrar-lhe uma posição no mapa havia retirado a maleta do lugar, colocando-a atrás da perna da mesa feita de madeira maciça e se posicionado na frente dele, o que o protegeu da morte certa.

Tudo isso faz a gente pensar se no caso dele a Morte, como a concebemos da forma clássica, na figura de um espírito que viaja incansavelmente pelo mundo colhendo suas vítimas, se nesse caso ela tomou um caminho certo ou foi por um atalho e se perdeu.

Sim, para quem já percebeu pela cronologia, o homem que a Morte deixou de levar nas várias vezes em que teve a chance disso, era ninguém menos do que Adolf Hitler.
O mesmo Adolf Hitler que desencadeou uma guerra, a ll Guerra Mundial, que além de sofrimentos indizíveis nos tristemente célebres campos de concentração, deixou uma conta de 52 milhões de mortos.
De forma estranha, mais uma vez a Morte ou se atrasou ou não tinha mesmo vontade de chegar perto dele. Adolf Hitler teve que obrigá-la a vir visitá-lo ao suicidar-se dentro do seu bunker em 30 de abril de 1945, enquanto tropas russas tomavam a cidade de Berlim.

Seja lá como for, partindo da idéia de que há uma vida após a morte, todos nós ficaremos sabendo afinal de contas o que foi que aconteceu, que caminhos a Morte tomou para que tudo isso acontecesse, se podia ter evitado tudo isso encontrando-se com ele logo em 1917.

O problema é que para sabermos disso, infelizmente, deveremos ter um encontro reservado com a Morte, que nos contará em primeira mão o que realmente aconteceu.

Se lembrarmos de perguntar, porque creio que para saber dessa parte da História, ninguém estará muito preocupado em virar a última página do livro da vida.

O problema é que a Morte, muito gentil, fará isso por nós. Então é só não esquecermos de perguntar na hora certa.

terça-feira, 28 de julho de 2009

D09 Um pedido de desculpas

Coisas da vida...
Assim são certas coisas da vida. Negras como um mar negro, onde estamos perdidos em suas águas sem ter a mínima idéia de para onde ir. Horizonte? Nenhum. Somente a escuridão e o bater de braços, num nado que não se sabe onde vai dar. Ao menos tentar.
Peço desculpas aos poucos, porém bons amigos que aparecem aqui para ler alguns pensamentos.Por esses tempos, com grave doença da minha mãe e cuidando eu dela em minha casa, só em raros momentos como esse posso escrever.

Doença, problemas que aparecem dia a dia e em outra situação da vida me surge a perspectiva da solidão, uma velha conhecida que andava ausente. Mas a vida é feita de coisas assim. Nem todas são boas e as que um dia foram, foram mesmo, ao menos fica a lembrança.
Mesmo assim a vida nos coloca trilhos à frente. Podemos estar a pé. Vemos os trilhos enferrujados, então deduzimos que trens não passam alí há muito tempo. O que fazer?

Caminhar.

Um escritor uma vez esteve perdido num deserto. Sobreviveu porque caminhou, mesmo sem ter certeza de onde iria parar.

Ao menos eu tenho os trilhos. Já é é um rumo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

R13 Uma velha ferrovia

Trilhos, pensamentos e personagens...

Hoje voltei cansado da visita. Entre minha casa e o hospital existe uma velha ferrovia. É também um lugar onde muitas vezes deixo minha mente vagar, pensando em todas as coisas possíveis. Quando me sento perto dos entroncamentos, olho para o reflexo do sol poente que deixa os trilhos como uma marca de luz no chão. Vale a pena ter refllexões nesses momentos. Hoje é um dia frio e foi mais um dia de visita. Minha mãe está internada no hospital, seguindo o mesmo caminho do sol poente. Um dia sua luz desparece no horizonte da vida. Dói, mas a vida é assim. Olho bem os trilhos e me lembro do pequeno sítio onde minha mãe passou sua infância. Estes trilhos aqui na minha cidade, pouco mais de uma centena de quilômetros à frente passam exatamente lá. Sei porque já visitei o velho sítio. Por coincidência, era um dia frio como hoje. Olho para a paisagem, para a bruma fria que passa pelos trilhos e penso quando poderei fazer outra visita àquele lugar. Lembrar das histórias dela, da vida de trabalho no sítio, do amanhecer com as tarefas do dia e depois pegando os cadernos e indo até a escola para as primeiras aulas do curso primário. O aprendizado da vida foi bem mais duro para ela quando perdeu a mãe, afinal a medicina era um privilégio de poucos naqueles tempos. Hoje um hospital simples, mas acolhedor e muito bem limpo assiste sua velhice, mas quando chego lhe trazendo a florzinha do campo que pego todas as manhãs, parece que posso ver aqueles olhinhos de menininha brilharem novamente. Na verdade, ela nesses momentos vira um menininha, como uma de joelhinho machucado, que vem pedir socorro para mim. Faço o possível até conseguir um sorriso e ver um rosto de onde transparece uma sensação de conforto. Sorrio, procuro ocultar minha tristeza e faço o melhor para que ela se acalme. Na saída olho meu rosto no espelho e me pergunto se terei conseguido colocar bem a máscara de um rosto alegre, para lhe passar segurança. Fernando Pessoa dizia que colocamos uma máscara no rosto para ocultarmos o que realmente sentimos e um dia não distinguimos mais a máscara do nosso rosto. E o meu, alí sozinho, é só tristeza. Mas tenho que continuar.
No hospital, entre idas e vindas, notei também as vidas. Estando na ala feminina, notei como uma mulher gravemente doente olha os visitantes. Ela, no leito próximo, parece pedir socorro pelo olhar. Por vezes a enfermeira entra para examinar todas elas e todos nós fazemos perguntas sobre a saúde, alta, coisas assim. Mas o que mais me sensibiliza é exatamente isso, esse silencioso pedido de socorro que vem do olhar dessas pessoas doentes. E o que pude notar é o olhar, igual em tudo. Água, carinho, atenção, serem cobertas com esse frio, é o que pedido que percebemos no olhar. É uma atitude normal do ser humano assim, pedir socorro e esperar que quem está próximo lhe dê esse socorro. Não é como se esperasse. É como se tivesse a certeza de ser socorrido.
Enquanto olhava os trilhos, me lembrei da revista que peguei para ler na sala de espera. Antiga, com folhas faltando, como não podia deixar de ser, trazia as velhas notícias do rumoroso caso do escândalo das ambulâncias e remédios superfaturados. Os culpados por isso seguem com suas vidas sem problemas. Vendo toda aquela dor no hospital me perguntei que tipo de justiça temos que permite isso. Depois, enquanto pensava em tudo isso, passou uma composição de carga. Vagões fechados, o barulho da locomotiva e o zunido das rodas se atritando nos trilhos. E então me lembrei dos filmes em que vemos vagões de carga repletos de seres humanos, sendo carregados para os campos de concentração nazistas. Pensei nas milhares de pessoas que por conta dessa corrupção sofrem com o abandono em hospitais públicos e não pude deixar de comparar esse sistema de justiça que não pune os culpados e ao mesmo tempo permite a exibição de insolência desses criminosos políticos em continuarem roubando e arquitetando novas fraudes. Só porque eles tem a certeza da impunidade, condenam milhares de cidadãos, por assim dizer, a serem enfiados nesses trens de sofrimento. O que é a natural atitude do ser humano em buscar socorro, por conta dessa gente, acaba se transformando em uma viagem ao inferno.
Olhei os trilhos novamente, a bruma havia se dissipado e em seu lugar, mesmo com o ar frio e o sol fraco, os trilhos apareciam com uma beleza que eu ainda não havia percebido, pela umidade se condensando em sua superfície brilhante e pelo reflexo suave que se estendia até desaparecer de vista. O sol poente, os trilhos, o ar frio me batendo no rosto e uma fina garoa começando a cair. Era hora de voltar para casa. Olhei mais uma vez o espetáculo de luz dos trilhos e do sol poente.

Todos nós temos um caminho a seguir. Esse tem sido o meu por esses dias. Muitas vezes é no trilhar dos caminhos da vida que aprendemos muita coisa.

Voltei a lembrar dos trilhos sendo vergados pelo peso dos vagões, pelo zunido forte das rodas atritando e desgastando os trilhos e senti como se minha alma estivesse assim. É verdade, há dor, mas também um aprendizado. Mas em certos momentos, a dor é tão grande que eu preferiria não ter que aprender nada. Mas são coisas da vida. Uma delas é ter que seguir em frente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

R12 A felicidade é uma fuga

Uma estrada suave...

Descobri nesses dias com a mulher que amo que a felicidade é uma fuga. Só se é feliz fugindo. Ou melhor dizendo, só somos felizes quando fugimos. E como fazemos isso? Fugimos um para o outro, para longe das dores da vida. Foi assim que percebi isso. Dói-me a alma? Eu a tenho em meu pensamento. Chego perto dela com essas dores e peço seu carinho e sou feliz alí. Somos felizes. Essa sensação me vem quando olho para seu rosto e vejo seus olhinhos brilhantes, ouço sua voz animada, sinto seu toque suave. Percebo que ela também está feliz.
Decidimos tomar um bom vinho nesse frio. Nem caro precisava ser. Uma coisa simples e boa. Um pouco de vinho em cada taça, ela me desejando tudo de bom na vida, eu a ela também, batemos as taças de leve e sorvemos o vinho. É um momento em que sinto o tempo parar alí na mesa com ela, numa refeição com esse vinho. Seus olhinhos sempre brilhantes, contando todos os casos da vida, as esperanças que acalentamos, sua voz sempre baixa e meiga e seu riso alegre e solto em certos momentos.
Depois, no cair da noite, mais uma fuga ou caminhar, posso dizer assim. O banho rápido enquanto rimos e trememos de frio enquanto nos enxugamos e nos vestimos rapidamente, depois o aconchego no quarto enquanto ainda falamos do frio que cobre a cidade, olhamos o termômetro admirados, os calafrios quando nos deitamos e sentimos as cobertas ainda frias. Um instante e a cama já está aquecida com nossos corpos. Mesmo com o frio, fugimos. Eu fujo para seu corpo, ela foge para o meu corpo. Fugimos e nos encontramos assim, corpo a corpo, pele a pele, o frio esquecido. Beijos, abraços, amor. Uma fuga perfeita.
No dia seguinte, mesmo perto de ficarmos longe, sei que continuaremos fugindo juntos. Mãos que se tocam na chegada, mãos que se despedem na ida, mas sempre mãos dadas. Essa distância não vai durar tanto. Apenas o tempo de lutar contra os problemas da vida, coisas que todo mundo tem. Alguns sozinhos. Eu, depois de um bom tempo sozinho, agora feliz com a companhia dessa mulher que me ama e que eu amo. Que existe em meus pensamentos o tempo todo e que me revive quando está pertinho, juntinho de mim. Volto para casa e olho as taças de vinho, onde ela deixou sua marca de batom, olho para o espelho, onde pedi que ela deixasse a marca de seus lábios e sei que estou preso de uma forma suave e desejada em seu amor.
Penso nas coisas que já vivemos, nas dores e amores em seqüência e tudo me parece uma longa estrada. Um vez já vivi sozinho e gostava de viver só. Hoje já não sei mais viver assim. Olho novamente para essa estrada do sentimento. É uma estrada de fuga. Fuga para ser feliz. Sinto como se para alcançar a felicidade, devesse caminhar com ela sempre nessa fuga. Nós dois fugimos assim para sermos felizes um com o outro. Uma longa estrada, um calor suave, um céu claro, de um azul lindo. É uma doce fuga. Sinto mesmo que parece melhor sempre fugir em busca da felicidade, pois no caminhar nessa estrada é que somos felizes. A felicidade está nesse caminho que fazemos juntos, nessa estrada, que desejo que seja muito longa.

Sozinho, eu não teria mais motivos para caminhar.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

R11 Peças da vida

Nem sempre sabemos onde vai dar...
Caminhos da vida são assim. Nem sempre podemos saber onde vai dar. Por vezes parece que estamos em um caminho seguro e sem problemas e de repente, um acidente.

Mas como diz o pensamento comum, são coisas da vida. Uma delas é por vezes estar na beira do rio da vida, sem saber que caminho seguir e ver, ora essa, um brilhante que vem rolando devagar mal e mal ficando junto da margem. E rápido nós o pegamos.
Quem diria, o rio da vida nos deu um brilhante. Olhamos, nos extasiamos com o brilho e por uma das artes desta mesma vida, ele escorrega dos nossos dedos e cai na água, desta vez, azar dos azares, cai margem abaixo. Quem vai desprezar um brilhante?

E pulamos no rio procurando aquela pedra, de brilho tão lindo, que foi água adentro e quem sabe rio abaixo. E agora?

Agora é nos contentarmos com o brilho da lágrima que desce pelo rosto. Ela também brilha como o pequeno diamante que se foi e aí nesse sentir ficamos na dúvida.

Foi o diamante que se foi ou quem chora que partiu nesse rio? Coisas da vida. Rio da vida. Coisas e risos, lágrimas e sorrisos.

Na verdade o rio apenas faz parte do teatro da vida. Não seguimos seu curso, apenas seguimos o roteiro da peça. Até a última página.
Que ela seja linda com quem nos dá a mão para levantar, com quem nos dá amor.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

D08 A vida tem dessas coisas

Coisas da vida...
Este pequeno texto tem uma finalidade. Desculpar-me com os amigos leitores que aqui comparecem vez ou outra para uma leitura.

Estive impossibilitado de escrever nestes dias em que minha mãe esteve hospitalizada, mas mesmo com problemas retomo a partir de amanhã alguns temas da vida.


Nos últimos dias, inquieto em salas de espera, presenciei cenas, vi pessoas e coisas que dariam textos, mas tempo e descanso quase desapareceram, a não ser em raros momentos.
Mais uma vez obrigado aos amigos que por aqui passaram e amanhã refazemos algumas reflexões.

Um grande abraço a todos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

R10 O aprendizado

Amor e dor...

Aprendi com a mulher que amo que o amor tem muitos sabores. Sabor de corpo e alma. E nossos corpos tem muitos. A alma também. Sabor até mesmo das incertezas e das dores que a vida põe em nosso caminho. Aí é amor com dor, mas amor do mesmo jeito.

Aprendi isso numa tarde em que estávamos juntos, peles suadas, corpos cansados e felizes depois de fazer amor e então ouvi aos poucos, bem baixinho, o choro da minha amada, suave, mas carregado. Por si só, era um lamento que pedia para ser ouvido. Apertei-a num abraço carinhoso e nunca esqueço quando senti uma coisa.

O calor suave da lágrima que escorreu pelo seu rosto e caiu em meu braço. Eu então já tinha combinado que ia sair para fotografar uma manifestação. Esqueci tudo isso. Senti que era o momento de ficar alí, perguntar a ela o que era, ficar junto dela naquele momento e saber que dor lhe afligia a alma.

Todas as pessoas tem suas dores, todas as pessoas por vezes em certo dia do caminhar da vida, se vêem num labirinto de tantos problemas que a vida de súbito nos traz. E assim era com ela naquela tarde. A dor no coração veio naquele momento. Uma das coisas que nos consolam nessas horas em que a lágrima de uma tristeza desce, é estarmos junto da pessoa que nos ama e que amamos, então estamos nas mãos de quem nos socorre. Ela me contou a tristeza que lhe machucava os sentimentos, a vida, tudo. E eu aprendi a fazer esse amor com dor, esse momento indelével em que o amor que vivemos nos ensina alguma coisa a mais do amar.

Foi uma das tardes mais lindas que já passei, abraçando minha amada, confortando seu coração, fazendo todos os carinhos que tirei do sentimento, até que seu rosto se descontraiu, ela me abraçou e senti que a amparava.

Amor com dor, foi assim que aprendi que a vida por vezes nos mostra de uma forma que não esperamos, as formas e os sabores do amor além do que julgamos saber. Enquanto ela estava abraçada comigo, nunca lhe disse, mas fiquei de olhos úmidos também.

A vida tem me reservado dores e tristezas nesses tempos. Sei que um dia também vou chorar em seus braços e um dia vou lhe pedir o mesmo carinho, o mesmo socorro.

Amor é assim, sempre uma lição.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

D07 Aviso aos leitores

Página de acesso direto aos textos... Já está disponível aos leitores deste bilogue, para facilitar a navegação, a página que criei que contém uma relação de todos os textos já postados com os respectivos links ligados a eles, o que permite o acesso imediato a qualquer um que seja escolhido pelo leitor, independente de data.

Assim o leitor não precisa recorrer ao sistema de indexação do Blogspot, que não mostra todos os títulos. Facilita a navegação na medida em que os textos forem aumentado.

A página já está destacada na barra lateral direita superior do bilogue "Cartas no Dia" com o nome de "
Índice geral de textos publicados" e o texto explicativo abaixo contém o link para acesso.

Agradeço aos leitores que visitam esta página para leitura e troca de idéias.

terça-feira, 21 de abril de 2009

D06 Uma simples pergunta

Um esclarecimento...
Por esses dias perguntou-me um colega que leu este bilogue o que significa a numeração que coloco antes de cada título. Uma pergunta pertinente.

Ocorre que todo biloguista, na medida em que vai aumentando o número de artigos, fotos e textos postados começa a enfrentar uma dificuldade, no caso a de saber em que categoria se encaixam textos antigos. E ai, se tiver uma quantidade razoável de textos escritos, fica difícil procurar um deles ou para indicação para algum leitor ou para pesquisa.

Apesar dos mecanismos dos provedores para indicar categorias, isso nem sempre é suficiente. É melhor cada biloguista criar seu próprio mapa de textos e categorias. Foi o que fiz há algum tempo no aprendizado que tive no Terra -
http://vellker.blog.terra.com.br - e que refiz aqui, pois vai ser válido para os dois bilogues que passei a escrever aqui no Blogspot.

Um deles como não podia deixar de ser é de política e só política -
http://cartasdepolitica.blogspot.com - e na frente de cada título segue um prefixo, por exemplo, "D06 Uma simples pergunta" como nessa postagem sendo que o "D" indica que o texto é de categoria Diversos e "06" indica que é o sexto texto escrito nesta categoria e após isso vem o título propriamente dito. O "J" de Judiciário usado no bilogue antigo foi passado para política, pois faz parte indissociável da política que vivemos.

Essa classificaçao de postagens ajuda bastante na hora de organizar os textos por ordem em que foram escritos. Quaquer biloguista que já teve que classificar muitos textos que estavam fora de ordem sabe como isso é complicado.

Já no bilogue de textos diversos, esse que agora é lido -
http://cartasnodia.blogspot.com - o código é o mesmo, mas as categorias aumentam e as descrevo aqui. "C" indica Cinema, indicações ou comentários de filmes. "D" indica Diversos, assuntos variados. "E" indica estórias e contos. "R" indica Reflexões e pensamentos. "V" indica vidas e biografias famosas.

Por esses dias ainda vou fazer um índice geral para indicar de forma imediata ao leitor todos os textos escritos, com o link em cada título. É só clicar e ir para o título escolhido.

Agradeço mais uma vez aos leitores que comparecem aqui para uma troca de idéias e para as leituras que são tão caras aos biloguistas.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

R09 Do amor que vivemos

E eu pensava diferente...
Do amor que vivo, quantos sentimentos tenho, quantas idealizações fiz. Para mim parecia que o amor deveria ser como uma cena do filme "E o vento levou" onde Clark Gable beija Vivien Leigh num cenário deslumbrante, onde tudo é perfeito como num grande filme de Hollywood, um épico do cinema.

Nada disso. Descobri com a mulher que amo que o amor é assim, imperfeito como um dia em que vamos sair e chove. Que muitas vezes nos dá a mesma sensação de quando a fita do filme arrebenta e ficamos esperando o filme recomeçar. Ou de quando chegamos correndo para ver a sessão da noite e descobrimos que o filme saiu de cartaz ontem.
Descobri acima de tudo que mesmo com esses problemas, o amor me traz sentimentos que eu não conhecia antes. O de telefonar para ela pedindo que me perdoe pela última briga, onde é claro, meu gênio difícil é que pôs tudo a perder.
Ou a alegria de receber uma ligação dela quando achava que ela não ia ligar nunca mais. E a alegria de ouvir a voz dela toda feliz por receber a minha ligação. E vice-versa.
Mais ainda, a vida no dia a dia, tão imperfeita como os ensaios de um grande filme como esse que gostei tanto, com erros e acertos, mas gostosa de se viver a dois.
Ou o momento em que massageio seus pés com creme e a vejo quase dormindo com aquele carinho e no entanto, ocultas dentro de mim, as dores da vida me molham os olhos. Mas rápido me recomponho ao ver ela toda feliz. E fico feliz também, esquecido dessas dores.
E quando elas me pegam de jeito, lá está ela, com um sorriso que me cativa, com um olhar que não esqueço, me fazendo reviver novamente.
Sei que foi com ela que passei a sentir o amor assim, como um grande filme, onde algumas vezes escrevemos nossos roteiros e nossas falas e por vezes a vida nos dá isso, seja como for, gostemos ou não e mesmo assim a vida não mexe numa coisa, no nosso amor.
O que mais me dá saudade é sempre o olhar dela, eu diria que é um olhar que carrega uma alegria que por vezes me carrega junto, sentir seu perfume, seu abraço e acima de tudo poder me refugiar em seu coração, ser envolvido pelo seu sentimento.
Foi assim que descobri que o amor não precisa ser como um grande filme, uma dessas grandes produções de Hollywood.
Basta que seja acima de tudo amor como esse, que me traz saudade, que me deixe com os olhos úmidos como agora, que faça meu coração bater mais forte como agora e assim todo o roteiro da vida será perfeito.

quinta-feira, 19 de março de 2009

R08 Sol poente

O brilho de uma lágrima...
Chego agora em casa, ainda me refazendo de um dia pesado. Trabalho com sol a pino e no fim da tarde, por coisas da vida acabei vendo um sol poente que não conhecia.
Vi há pouco o olhar cansado de uma senhora idosa. Seus olhos me fitavam com uma expressão de tristeza, mas mais além da tristeza um cansaço sem igual.
Cansaço da vida. A vida que vi como o fio de uma lâmina. De um lado a vida vivida, de outro uma vida que prometem os crentes, é a vida em glória.
No meio disso tudo, uma lâmina que também descrita pelos escritores de todo mundo, que por certo já se prepara para seu trabalho.
Conversei com ela, tomei sua mão, cuidei de perguntar de o cobertor a agasalhava. Ela se sentia confortável. Mas nos seus olhos pude ver o brilho das lágrimas que desciam aos poucos. Não havia choro, nem sua voz estava alterada. Apenas exprimia o cansaço de uma vida como a de todos nós. Trabalho, sonhos que nunca se realizaram, dores, alegrias, tristezas, tudo isso se fundia em sua voz débil, me falando com mansidão.
E no brilho de sua lágrima, vi esse sol poente de uma vida que se vai, que ainda tem um tempo aqui, mas se vai aos poucos. Assim como o sol poente.
Beijei seu rosto, cobri seu corpo e percebi que ela começou a dormir. Senti uma tristeza sem fim. Busquei amparo na imagem da mulher que amo, especialmente no calor e no brilho vivo do seu olhar. Lembrei-me das vezes em que ela me deu a mão e me ajudou. Fiquei melhor, de olhos ainda úmidos, mas melhor.
Olhei mais uma vez para minha mãe deitada, coberta e aquecida e mostrando para mim, nessa lágrima, o sol poente que um dia também terei em meu olhar nesse momento, talvez também com uma lágrima.
Me sinto tão cansado. Mas é uma estrada que tenho que trilhar.

domingo, 15 de março de 2009

R07 Lágrimas e mãos

Cair e ser levantado...
Meu mundo caiu...

A meus pés caiu, como a garoa suave cai do céu, molhou meu rosto e me reconfortou a alma.

Caiu esse mundo de gotas de carinho, como cai essa garoa, de leve, beijando meu rosto e minha alma.

Caiu com as lágrimas dos olhos da mulher que me ama e que eu amo por me salvar quando caio nas tristezas da vida.

Sempre ela que me dá a mão, me tira as tristezas do coração, ainda assim tendo que suportar as dores em sua alma, em seu ser, conseguindo ainda me trazer esse amor.

Meu mundo caiu assim, como essa garoa de luz que essa mulher me traz com todo amor, refazendo meu mundo.

Que meu mundo sempre caia assim.

R06 O caminho e a canção

Caminhos...
Em certo momento da vida, me dei conta de que trilhava uma estrada conhecida, com uma floresta onde na entrada aparecera um árvore que eu não tinha percebido antes.

E nesse caminhar, vinha comigo a solidão. E pude ver aos poucos que não era má companheira. Apenas prezava o hábito do silêncio.

No mais me deixava pensar nas coisas da vida, nas coisas do caminhar silente.

E no seu silêncio, ela me permitia ouvir em minha mente as músicas da cantora Maysa.

E uma das canções se repetia em meu sentimento, em especial o verso que me marcava o caminhar:

"...Meu mundo caiu...eu que aprenda a levantar..."

sexta-feira, 13 de março de 2009

R05 A mão que nos guia

Do deserto para a garoa...
Quantas vezes estamos assim, perdidos no deserto da vida, procurando por um caminho.

Olhamos no horizonte e sabemos que de tantas direções que podemos tomar, só uma leva ao caminho certo.

Na vida por vezes estamos assim.

E é nesse momento que quem nos ama nos dá a mão e nos leva para o caminho certo.

É no caminhar, ainda ardente, que ouvimos sua voz suave de carinho, de incentivo e de orientação.

É assim que somos amados, é assim que amamos.

Descobrimos esse amor quando o sol ardente fica para trás e uma suave garoa de vida molha nossos rostos.

Aí sentimos que aprendemos a amar também.

quinta-feira, 12 de março de 2009

R04 Nem todos conseguem

Depende de sorte...

Algumas vezes nossa vida é assim, como estarmos perdidos no deserto. Parar não podemos, melhor tentar ir em frente.

Muitos sobreviventes dessa situação, depois de socorridos contaram que depois de certo tempo premidos pela sede e pela fome, com um cansaço que jamais haviam sentido no corpo, passaram a ver caminhos que nunca tinham visto antes.

Alguns se perderam naquela imensidão vazia e deles só restou a lembrança.

Outros seguiram o caminho e alcançaram a salvação.

E ficou neles o sentimento de que nem todos conseguem fazer essa travessia.
E eles mesmos jamais tentariam novamente.