quinta-feira, 17 de setembro de 2009

R15 Kill Bill - volume 2, capítulo 8

A cruel tutela de Pai Mei...
Foi esse título do capítulo 8 do filme Kill Bill volume 2 que me veio à mente. Após ver o filme ontem para relaxar um pouco, me surpreendi quando minha mãe disse que gostava da música do final do filme, enquanto lhe trazia água. Por vezes um pouco consciente em alguns momentos no longo tempo que tem sido sua doença, repeti a música algumas vezes para ela ouvir, até que ela adormecesse novamente. Sei que é por pouco tempo. Logo acorda com dores pelo corpo todo.

Todo seu tempo nos últimos meses tem sido passado assim. Só agora pude voltar a escrever novamente e não sei por quanto tempo continuo. Quase todo meu tempo tenho cuidado dela. Eu sabia por casos de conhecidos que cuidar de uma pessoa doente é cansativo mas nem de longe imaginava que era, em termos físicos e emocionais, tão desgastante. Pareço aqui ser egoísta. Quem sofre é minha mãe mas pude sentir na pele que a pessoa que acompanha um doente assim passa mal também, especialmente se for um parente próximo.

O triste é ver também o quanto esse sofrimento é inútil, sem mérito e sem sentido. Uma lição cruel que a vida nos ensina. Não pude deixar de fazer um paralelo com a personagem do filme, Beatrix Kiddo, que sob a tutela de Pai Mei, o mestre em artes marciais que de forma impiedosa e cruel a ensina a lutar, após recebê-la como aluna, mas causando-lhe grandes sofrimentos.
Admirando a sua aluna com o passar do tempo, Pai Mei lhe ensina todos os segredos, ao ver a persistência e resistência dela. A heroína do filme tinha méritos e assim seu tutor passa a treinar sua aluna de uma forma especial. Esse treino é que nas aventuras que se seguiram em sua vida, permitiu que ela enfrentasse seus inimigos, sobrevivesse a todas as armadilhas e recuperasse a filhinha pequena que estava em poder do pai, um dos vilões do filme.
Por vezes olho para minha mãe passando pelas dores da doença e não deixo de comparar a vida a um tipo de Pai Mei, com uma tutela de especial crueldade e impiedade. Mas o que se poderia chamar de ensinamento aqui, nada ensina e de nada serve. Nem sei porque acontece. Mas acontece.

Sei que sua vida não vai durar muito. Aliás o fim da vida será uma libertação para ela dessas dores. Como quase toda a família ela tem crenças em uma vida após esta. Pessoalmente não partilho dessa crença. Mas como posso dizer que ela está errada ou eu estou certo? Volto a me recordar do filme, com um final feliz quando a heroína e sua filhinha estão enfim felizes, juntas e agora seguras depois de derrotados todos os vilões do filme. Na cena final o belo sorriso da mãe abraçando a filha e ao som da música que ela tanto gostou.

Se houver mesmo uma vida após essa, depois de todas essas lágrimas e dores, depois da tutela cruel dessa vida que poderia ser descrita como uma espécie de Pai Mei que desconhece qualquer piedade, espero mesmo que ela possa reabrir os olhos como uma menininha, nos braços de uma mãe sorridente assim.

É o que a vida tem me ensinado.