quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

D14 Afinal, as festas...

Ano novo, novas linhas...?
E vamos todos nós para mais uma viagem de festas de fim de ano. Natal no próximo fim de semana, Ano Novo no outro.
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Desde já, todos correndo para ver as passagens ou acertar os últimos detalhes do carro, deixando tudo em ordem. Ninguém quer pensar em mesa de natal numa borracharia no meio da estrada. Ou na frente do guichê fechado na rodoviária.
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Enfim, vai-se o ano que traz outro e continuamos a ter momentos para reflexões aqui.
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Saindo para ver passagens, desejo aos amigos leitores um Feliz Natal e um bom Ano Novo. E de quebra passeio num recanto muito especial para voltar a escrever no primeiro dia do novo ano sobre isso. E mais uma vez agradeço pela companhia dos amigos leitores.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

D13 Caminhando

Mas porquê olham tanto...?
Depois de finalizar esse pequeno texto, saio para caminhar um pouco. Me surpreendo com os motoristas olhando. Caminhar na estrada, se por um lado tem um certo risco, por outro em certos momentos é divertido.
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Carros com famílias inteiras passam olhando. Motoristas dentro de caminhões com um deslocamento de ar que me leva o boné, a mesma coisa. Enquanto isso, me divirto de ver até mesmo carteiras velhas jogadas no acostamento. Claro, nunca achei nada nelas. O sujeito deve ter comprado uma nova no último auto-posto e jogou a velha por aqui.
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Olho para as nuvens ralas e sinto o sol nos pés. É isso mesmo. O asfalto está uma coisa e tanto, mole em alguns lugares. Na visão do topo das subidas dá para ver o ar quente subindo em ondas. Olho o termômetro e leio 40 graus centígrados e continuo caminhando, mais uma subida terminada e ajeito o volume do tocador de MP3.
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Será que é por isso que passam olhando?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

R30 Lembranças da pele

Gotas de suor e lembranças...
Caminhei hoje de tarde perto de uma floresta. Não é difícil se acostumar a um sol de verão, enquanto se vê a chuva chegando bem longe no horizonte. Me lembrando durante a caminhada de duas palavras "sol e aço" vou aos poucos refazendo meu corpo. O sol bate firme, mas o caminhar é seguro. Me surpreendo por ter me habituado assim tão rápido a isso.
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Mas ao mesmo tempo, lembranças caminham com meus pensamentos. Nessa mesma estrada, junto com a mulher que amo, caminhei uma vez. E dessa mesma forma o sol nos pegava. E eu via a pele dela suada, tanto quanto a minha.
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Algumas poucas vezes paramos na sombra da floresta, outra estivemos perto de um riacho, mas em todas as vezes me surpreendia seu sorriso, seu olhar e sua alegria em estar alí comigo. Essas lembranças é que tornam a caminhada de hoje mais suave.
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E ao mesmo tempo trazem uma saudade que parece queimar mais do que esse sol. Mas me animo mesmo assim. Sei que logo estaremos aqui neste caminho novamente. A sede bate forte, a caminhada ainda é longa, mas com a lembrança desses momentos, por alguns instantes me perco nesses pensamentos.
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O tempo vai passando, a caminhada se estende e as lembranças continuam. Acima de tudo a lembrança da pele dela suada, do seu abraço e da florzinha em sua mão. Lembranças assim que tornam esse caminho mais dourado com esse sol agora poente, mas de uma beleza que eu não tinha notado antes.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

R29 O anjo e o sol

Depois de todos os sentimentos...
Na última semana recebi um telefonema me avisando de que um primo meu havia morrido. Após uma longa enfermidade que lhe custou um sofrimento enorme, havia finalmente descansado. A família, que havia feito todo o possível por ele, tinha que confrontar essa perda e a dor.
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Já conhecendo essa dor que então eles sentiam pela primeira vez, fui até o velório. Uma das coisas que sempre fiz em velórios foi manter uma presença apagada, discreta. Afinal o que dizer para as pessoas que perderam um parente? A morte é tão absoluta, tão avassaladora que só nos restam frases quase balbuciantes para dizer, frente à dor e às lágrimas dos parentes.
Ao chegar encontrei sua esposa e seus filhos chorando em volta do caixão. Ao ver seu rosto dele agora em paz, tentei não me emocionar, mas logo vieram as lágrimas. Abracei todos e junto com eles chorei também. Ao mesmo tempo, em seu rosto vi que toda a dor que o marcara havia desaparecido. Exatamente como vi no rosto de minha mãe em seu enterro, o rosto contraído e carregado de dor dera lugar a um rosto plácido. A vida se fora, mas nenhuma dor mais existira no momento final. Esse é o rosto dos que morrem em paz, confortados pelo amor da família em volta.
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Sua esposa e seus filhos haviam dito a ele todas as palavras de amor, dado a ele todo amparo que uma pessoa assim precisa nos momentos da doença e nos momentos finais. Agora choravam a perda que tinham temido, mas eu sabia de uma coisa. Em seus corações, em seu íntimo existia ao mesmo tempo que a dor, a paz de quem havia cuidado e amparado o ser amado. O homem que fora esposo e pai havia tido todo o amor que precisara até o fim.
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Impossível não se emocionar com as lágrimas da esposa, com a dor do filho e com as palavras de despedida da filha cujas lágrimas molhavam seu rosto. Eu via ali uma família que velara por quem amara até o último momento. De forma surpreendente, quando vi, estava ajudando a confortar todos eles. As palavras, o amparo, a forma de dissipar aquela dor, tudo vinha de uma forma natural de dentro de mim. Quando entramos no cemitério, ví a estátua de um anjo, velho conhecido meu de tanto tempo. Ao vê-lo enquanto ajudava a carregar o caixão, pude compreender.
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Sou o último da minha família. Para meu pai, meu irmão e minha mãe pude dedicar essas palavras, esses momentos. Entendi porque então, ao mesmo tempo com lágrimas nos olhos, me portava daquela forma, confortando os que ali estavam pela primeira vez.
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Eu tinha antes dito as mesmas palavras, derramado as mesmas lágrimas, trazido os corpos para o descanso final, nada daquilo me era desconhecido. A mesma estátua que eu sempre vira ali, passando em sua frente indo para o túmulo, de novo estava ali sob aquele sol claro daquela manhã ao mesmo tempo tão triste e tão linda.
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Era triste porque era a perda de uma vida. Esposa e filhos tinham que suportar aquilo, aceitar o inevitável. E era linda porque eu via em suas lágrimas o amor que haviam dedicado a ele, a dor que sentiam. A homenagem final, as lágrimas, a tristeza profunda, desesperada, mas com a certeza de que haviam feito tudo o que era possível, até o último momento. E haviam dado todo o amor possível até o fim. Se a dor os atingia, eu sabia que sempre se lembrariam daquele momento emocionados e com lágrimas, mas nunca com algum fantasma em suas consciências, como o que persegue os que deixaram de dizer palavras de amor, como aqueles que deixaram sozinhos quem lhes estendeu a mão pedindo socorro.
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Eles se lembrariam daquela manhã com dor, mas tão iluminada quanto aquele anjo por tudo o que haviam feito de bom.
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No momento final coloquei sobre o caixão uma flor e ajudei a descê-lo. Abracei cada um deles e suas últimas lágrimas ainda caíam quando nos retiramos. Despedi-me de todos que se iam e enquanto os parentes deixavam o cemitério, peguei uma florzinha no pequeno jardim que ladeia os muros da entrada e voltei, passando na frente do anjo, para deixá-la no túmulo da minha família.
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O dia era claro, as lágrimas já tinham ido, deixei aquela florzinha ali, como uma lembrança e depois de meditar um pouco, me retirei. A manhã continuava linda, o sol de um brilho intenso. Sobre a dor e o amor o sol brilha assim.
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O que podemos fazer, pensei enquanto passava novamente na frente do anjo, é que por tudo o que façamos, ele venha a brilhar dentro de nós, mostrando apesar da dor, os sentimentos mais bonitos que tivemos um dia para quem esteve do nosso lado até o último momento, até a última lágrima.
Apesar das lágrimas, então teremos dentro de nós uma manhã brilhante para ver e não algo para temer.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

L04 O castelo e a queda

Deve ser doloroso...
No aspecto da religião cada um tem sua posição. Alguns vivem como crentes fiéis, uma parte considerável vive em dúvida silenciosa e uma parte menor ainda vive descrente. Estou nessa minoria, a dos descrentes, mais comumente chamados de ateus. Mas nem por isso deixo de acompanhar as religiões. Vez ou outra entro numa igreja. Agrada-me ver em certos momentos a delicadeza da liturgia. Em algumas datas, vejo a procissão de fiéis passando contritos. Em outros dias, mais animado, entro em igrejas evangélicas para ver as pregações furiosas do pastor, ameaçando a todos com o inferno, que ele descreve em cores vivas, aos berros, enquanto que em certas igrejas, o pastor é mais calmo e fala em salvação. Mas no fundo essa fé me parece tão frágil quanto um castelo de cartas.

Acreditar num deus e rezar para ele faz parte do costume das coletividades humanas há milhares de anos, desde que o ser humano estruturou-se em sociedades. Para quem não tem essa crença, é um fenômeno interessante e que pode ser acompanhado com uma certa isenção. Usualmente, sempre que tomo um café, costumo escutar a rádio católica Canção Nova. Alguns momentos da pregação dos padres são francamente risíveis pelos absurdos proferidos em certos sermões. Em outros vê-se como a crença pode ser como uma faca de dois gumes. Se para o fiel é um caminho de consolação, pode ao mesmo tempo ser um caminho de desolação.
Foi o que pude acompanhar na noite de ontem, em um dos programas da noite em que o locutor, um padre chamado Paulinho recebia ligaçõe, para orar pedindo a intercessão de Jesus, Maria e demais santos em nome de quem ligasse para ele com algum problema de saúde ou coisa parecida. Sucediam-se as ligações com pedidos que iam desde pedidos de cura de uma artrite até um bom encaminhamento do pedido de emprego.

Ligou então uma mulher, que em poucas palavras explicou seu caso. Pedia para rezar junto com o padre para que a intercessão de uma divindade cristã a curasse das vertigens constantes que tem desde que sofreu um acidente há muitos anos. Com a voz embargada refez seu pedido e o padre disse a ela para repetir a oração junto com ele.

Aos poucos começou tudo a se embaralhar. Tentando acompanhar a reza do padre pelo rádio e pelo telefone ao mesmo tempo, a pobre mulher se perdia. Prestei atenção e lamentei o acontecido. Se ela tinha tanta fé a ponto de fazer a ligação, era perceptível a forma triste e inapelável com que o pretendido milagre já começava a dar errado só com isso. Mais que todos os ouvintes ela deve ter percebido isso.

Vendo o descompasso entre a reza dele e a da mulher, o padre pediu a ela para desligar o rádio. Ela pediu um instante e então, para completar a tristeza, a ligação caiu. Ficou o padre tentando comunicar-se com a devota, que em momento de extrema necessidade se via, por assim dizer, completamente abandonada pelas divindades que tanto venerava e a quem tinha vindo pedir a intercessão milagrosa. Se nem uma reza e nem uma ligação telefônica era possível fazer direito, o milagre de uma cura então, muito menos. Uma coisa de cortar o coração.

Fico pensando como deve ser a dor desses devotos e devotas quando as coisas saem errado. Em todo caso os padres e mesmo os devotos sempre tem uma explicação. Esse deus está sempre certo e mesmo que o que ele venha a fazer seja um horror, que seja mesmo a coisa mais dolorosa e a que o devoto considere a pior que poderia lhe acontecer, bem ao contrário de suas mais emocionadas orações, para isso os padres já tem a sentença dada: esse deus está certo e pronto. Ele sabe o que faz. Por pior que faça, é o melhor para quem foi na verdade uma vítima do seu ato e que é julgado, por mais horrível que seja, misericordioso. Na verdade dizem os padres, quem assim foi atingido, foi na verdade, agraciado. E recitam palavras da salvação e passam para a próxima ligação, como se nada tivesse acontecido.
Fiquei imaginando a dor da pobre mulher, que quase chorando conseguiu ainda contar da sua aflição e esperava ser segura e salva por essa divindade. E tudo o que pude ouvir alí, me levou a imaginar uma figura triste, que estendeu sua mão para a salvação, deu um passo esperançoso e caiu num abismo.

Resta a ela, em sua situação, refazer o pequeno castelo de cartas da fé. Até que um novo sopro de dor venha derrubar tudo o que foi tão zelosamente reerguido. É mesmo de cortar o coração. Até de quem não acredita nessas coisas.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

R28 O mundo era tão perfeito

Como o mundo era bom naqueles tempos... O filme se chama "Adivinhe quem vem para jantar". Tendo reencontrado um dos grandes sucessos do cinema da década de 60, que assisti no século passado (bem, metade do planeta pode dizer isso) tratei de levá-lo para casa para rever um dos melhores filmes já feitos, que mistura um ótimo elenco, romance, comédia e reexame de relações raciais, que em 1967, ano em que foi feito, foi um filme justamente premiado pela mensagem de respeito e tolerância que levou para o público americano e para o mundo.

Mas esquecido da cena inicial, que havia visto aos 12 anos num pequeno cinema do interior paulista, é que me dei conta de como o mundo era perfeito. O filme começa com a aproximação de um avião a jato. Enquanto ele se aproxima soltando uma quantidade de fuligem proibida nos dias de hoje, a câmera passa para um plano alto e aí a trilha sonora, lindamente cantada, começa. Aí, de forma inevitável e cativante comecei a relembrar das coisas que vivíamos então, num mundo perfeito. O avião, um Boeing 707, com imensas 4 turbinas, grandes consumidoras de querosene e que na época despejavam toda a poluição possível, fora o rugido também proibido nos dias de hoje, é de uma época em que os combustíveis eram baratos, a poluição de hoje era só um assunto desconhecido, aquecimento global era uma coisa nem sonhada e por um instante todos nós nos sentíamos americanos dentro daquele avião, com todo o luxo possível, não brasileiros comendo pipoca dentro de um cinema.

A trilha sonora no estilo de Ray Conniff, claro era apreciada, se bem que essa trilha é um caso à parte, é linda mesmo de se ouvir abraçado com a mulher amada. Na época, ser elegante e fino e aparentar um certo conhecimento do estilo de vida nas grandes cidades era ter o último disco de Ray Conniff. Quem tinha aparelho de som, coisa rara na época, corria para a discoteca (naquele tempo, discoteca era para vender discos mesmo) A MPB era chata demais por isso só uns 3 ou 4 na cidade ouviam. No caso tínhamos a vitrola monofônica de 78, 45 e 33 rotações por minuto. Bom mesmo era o som estereofônico dos aparelhos High-Fidelity ou os chamados Hi-Fi, que aprendíamos a pronunciar para não dar furo na frente das meninas : rái-fái. De novo, tudo vinha da genialidade dos americanos. E lá íamos nós nos bailinhos de jovens inocentes de tudo, dançando de mãos dadas e corpos separados, sob o olhar vigilante dos pais e mães no que era chamado de "brincadeira dançante". Os carros que víamos no filme, claro, deixavam todos nós nos perguntando que tipo de tesouro a América tinha encontrado afinal? Estávamos acostumados a andar de Volkswagen, o usual da época. Naquele tempo, 4 entre 5 donos de carro tinham um. Ou então o velho Jeep, Rural Willys e coisas assim. Vez por outra, algum parente mais rico de algum conhecido vinha da capital no seu Impala importado, e ficávamos de olho naquela lataria reluzente. Nos filmes da época, quase todos os carros como táxis, viaturas de polícia, carros do vizinho ou do protagonista do filme, eram o lindo e imbatível Ford Galaxie. Por dentro e por fora, nos mostrava o que era ser americano. Luxuoso e bem acabado, uma lataria super reforçada, pára-choques de aço capazes de derrubar um muro e com o consumo em inacreditáveis 3 quilômetros por litro. De gasolina azul, é claro. Mas na época, comprar gasolina era como comprar água mineral hoje.
Terminado o filme, íamos para casa certos de que víviamos no mundo mais perfeito possível. Naquela época, o mundo era dividido somente em bloco capitalista e bloco comunista. Por sorte tínhamos nascido na parte capitalista, ou melhor dizendo, americana. A civilização estava em volta de todos, mesmo que incipiente.

Em casa, antes de dormir, íamos escovar os dentes. E todos nós, com um sabor de vida americana na boca, fazíamos isso usando a pasta dental Kolynos. Ou Colgate. Podia ter coisa mais americana do que essa? Não tínhamos carros de luxo e nem aviões, mas pelo menos a pasta de dentes estava lá. Ou que outra coisa poderia fazer com que nos sentíssemos a um passo de começar a falar inglês no próximo momento, como se de repente nos tornássemos parte da vida que tínhamos visto no filme?

Era um mundo perfeito mesmo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

R27 A menininha, o sol e o aço

Visões numa tarde...
Há coisa de umas duas semanas atrás meu coração descompassou de tal forma que por alguns dias, acreditei, de forma resignada, que não iria muito longe nesta vida. Depois de ter cuidado da minha mãe em seus últimos meses, o coração foi tão exigido nas dores de tal situação, que não me admirava que viesse eu a terminar a vida em breve, estando daquele jeito. Avisei a mulher que amo que talvez não a visse mais. Já duvidava que teria chance para isso. Ela tratou de espantar esses pensamentos do meu coração.

Nem mesmo me animei a ir ver minha Floresta Branca. É assim que chamo um recanto especial para mim, onde a calma, o verde e o perfume das flores relaxam a mente e o corpo de uma forma deliciosa. Bem, ela não é minha. É de todos que se apaixonam pela sua beleza, pela sua magia, que aos poucos se descobre.

Mas aos poucos, dia após dia, meu coração foi voltando ao ritmo normal e logo estava podendo caminhar rápido e firme, respirar tranquilo e sentindo que o corpo voltava ao normal. Pensei, como todos pensam, quanto tempo mais teria. Afinal, quem não medita sobre isso. Assim, refeito, ontem fui até a floresta, rever sua beleza, sentir seu perfume, imaginar que meditações eu teria dessa vez. Tarde, sol começando a descer e lá fui eu, estrada abaixo. Enquanto caminhava, me sentia ao mesmo tempo disposto, mas me lembrava do tremor e da fraqueza de quando adoecera.

Após alguns instantes olhando a floresta, me lembrei das palavras do escritor Yukio Mishima em seu admirável livro "Sol e Aço" que traz em si a delicadeza de uma flor de lembranças e a força do aço de conclusões que ele deixou sobre a vida. Refletindo sobre quando começou seu treino com aço para fortalecer seu corpo então frágil, Yukio deixou estas palavras : "...A natureza deste aço é estranha. Descobri que enquanto eu aumentava seu peso, pouco a pouco, o efeito era como os braços de uma balança; o volume dos músculos colocados no outro prato da balança cresceu proporcionalmente, como se o aço tivesse a obrigação de manter um estrito equilíbrio entre os dois extremos...".

Me senti feliz com tudo aquilo, meditei sobre a fraqueza do meu corpo e decidi empreender o mesmo caminho. Ao mesmo tempo olhava para o sol poente, para o brilho que ele produzia na folhagem das árvores e me deliciava com tudo aquilo. Via a delicadeza das folhagens amparadas na força dos troncos. Estranhamente não sentia receio de que minha vida viesse a terminar alí mesmo. Sentia antes uma profunda gratidão a essa mesma vida por ter me proporcionado esses sentimentos e mesmo aquele momento único de reflexões que me enchiam a mente e o coração. Lembrei da mulher que amo com os olhos úmidos e pensei em como seria bom poder dizer-lhe tudo aquilo num simples abraço.

Olhei para o sol poente com seu brilho característico e comecei a voltar para casa, com uma emoção que me abrasava e me acalmava ao mesmo tempo. Sol e Aço. As palavras do título do livro me voltavam na mente a todo instante.
Foi então que vi, caminhando feliz, uma menininha, com sua silhueta do outro lado do caminho fazendo contraste com o verde da floresta ao longe e banhada pelo brilho do sol poente. Algumas pessoas também caminhavam aproveitando a tarde, mas prestei especial atenção na figura da menininha. Sua imagem era a presença viva do que podemos chamar de ternura e delicadeza. O sol se refletia entre seus cabelos soltos e ela caminhava brincando com as folhagens do caminho.

Olhei para a floresta novamente, me relembrei de todos os pensamentos que tinham vindo na minha mente. Olhei para o sol poente, já um disco de um amarelo suave no horizonte, olhei para a menininha e sua figura dourada, com os cabelos cintilando com a luz do sol, que ainda se refletia sobre ela. Aquele momento era de uma perfeição tão ímpar, que por um instante parei para admirar tudo. Lembrei-me das palavras do escritor e me veio na mente a cor do aço em fusão nas siderúrgicas, trazendo a lembrança de uma força da natureza, uma força extrema. Uma força que mantém as coisas em seu lugar, apoiadas em sua resistência, uma força que é passada aos poucos para nosso corpo, como tão bem o descrevera e tão bem o vivera em sua vida Yukio Mishima.
Ao mesmo tempo prestava atenção na figura da menininha, que era a expressão da ternura e da delicadeza. Me lembrei das folhagens com sua fragilidade também com o brilho do sol se refletindo em seu meio, enquanto estavam seguras pela força do tronco. A força do sol e do aço, as folhagens e os troncos, a delicadeza da figura e dos cabelos da menininha. Pareceu-me que também alí a vida me mostrava com tudo aquilo, que deve existir um equilíbrio entre força e ternura, entre a decisão e o caminho.

Voltei pensando que afinal viverei isso tudo, não sei por quanto tempo. Que me esforçarei com o aço e o equilíbrio que ele concede a um corpo ainda fragilizado e que precisa se fortalecer, mas sem querer saber seu limite. Melhor assim. O limite será sentido a cada momento. E a cada vez será maior. Ao mesmo tempo passou a existir mais forte a idéia de ternura que a figura da menininha passou. A ternura pelo amor da minha companheira, a ternura por esses momentos, a ternura por essas visões.
Fui voltando vendo o sol desaparecendo no horizonte e cheguei em casa recebendo seus últimos raios. Pouco depois ele se pôs. Alí na noite que começava, me preparei para viver dias assim, com a força do aço e ao mesmo tempo, tendo aprendido que devo saber carregar no coração a ternura por esses momentos.

Só a magia dessa floresta já é uma força e uma ternura ao mesmo tempo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

R26 Além do horizonte

Dia após dia, por enquanto...
Vi mais firmemente as coisas assim hoje, que vivo dia após dia. E foi mesmo por ter me sentido mal esses dias todos. Se bem que espero viver uma vida longa ainda, me parece por vezes, que pelas coisas que passei nos últimos tempos, é provável que minha saúde não me deixe ir muito longe. Meu coração foi exigido demais. Não é improvável que eu venha a ter problemas com ele. Acho que serão os últimos problemas que terei, se isso acontecer. Ao mesmo tempo meditando sobre tudo isso, me senti cercado de uma tranquilidade que desconhecia, como o passageiro de um trem, que depois de apreciar a paisagem numa viagem e ainda querendo ver mais sabe que deverá descer numa estação próxima.

Para me distrair um pouco e me reanimar do mal estar que sentia no peito, ao passar numa locadora decidi pegar o filme sobre Charles Darwin, história que já conheço, mas quis ver novamente. Pensei que afinal tantas coisas deixamos de ver e de repente jamais veremos mesmo. Se bem que creio que não nos importaremos muito com isso. Ainda com a dor no peito e com palpitações, comecei a ver o fime. Não poderia ter escolhido melhor. Charles Darwin, a épica viagem do navio Beagle, o obstinado capitão Fitzroy, Darwin escrevendo a teoria da evolução, a história foi me emocionando de tal forma que aos poucos meu coração batia com força. Achei ótimo. Talvez fosse o fim, como saber.

Só a cena em que duas crianças nativas são recebidas pela Rainha Vitória depois de um processo civilizatório é de levar às lágrimas. Enquanto eram conduzidas pelos guardas do palácio, relembrei todas as histórias sobre o tema império, desde Roma antiga até as páginas do livro de Marco Aurélio, um dos imperadores de Roma e depois as histórias do império britânico. Para quem gosta dessas coisas, um voo da mente sobre esse caminhar da humanidade me fez sentir que afinal não seria de todo mal se minha vida terminasse alí mesmo, com esses sonhos e lembranças.
Bem, por enquanto devo ter ganho mais algum tempo. Sabe-se lá quanto. Olhei para meus livros, companheiros de longa data e fiquei feliz pelas histórias do mundo que me deram. Fui até a sala, onde meu bom amigo, um cachorro que já se acredita dono de pelo menos metade dela, se levantou e veio pedir um afago. Fui com ele até o quintal.

Olhando as estrelas me detive nesses pensamentos. A tranquilidade da noite, a meditação sobre talvez estar, quem sabe, a pouco tempo de realmente saber se existe alguma coisa além da vida ou então descobrir o esquecimento absoluto. Surpreendi-me pela sensação de calma, quase uma espécie de baixa, como um soldado ao terminar uma missão.
Com a lembrança das estrelas na mente, me veio o desejo de que a mulher que amo estivesse aqui. Gostaria de estar com ela para o amor, de lhe fazer todos os carinhos, de sussurrar em seu ouvido palavras de carinho, de vê-la quase pegando no sono e cobrir seu corpo com a manta como já fiz tantas vezes e aí beijar seu rostinho e embalar seu sono. Seria perfeito.

Fiquei com lágrimas nos olhos imaginando tudo isso, mas a vida tem dessas coisas. Podemos ter planos e um certo caminhar, mas não o controle das coisas. Me lembrando da imagem dela, penso em vê-la, em sentir seu abraço, em lhe dar parte da minha vida, como ela me deu parte de sua vida.
Ao menos meu coração bate o suficiente para lembrar do meu amor, ver esse filme e sentir estas coisas. Já está bom assim. Me parece uma luz além do horizonte.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

L03 Salvos e desaparecidos

Milagre de aspirina...
Dia 19 de agosto de 2010. Já 10 hs. da manhã e estou tomando um café enquanto ouço a rádio Canção Nova com mais um pregador com a prédica do dia. O pregador de nome Daniel relata um milagre. Pela narrativa dele parece milagre. Conta que há algum tempo atrás foi levado por um médico até o leito de uma mulher muito doente. Com AIDS em estado terminal e coberta de feridas a pobre mulher agonizava. Fiquei imaginando a extrema-unção quando ele contou, em êxtase, que Jesus ordenou-lhe que dissesse para a pobre mulher para se levantar e andar, que ela estava curada, porque Jesus agora, naquele momento lhe dava essa graça. E a mulher se levantou e andou. E feita a cura, todos rezaram, se despediram e cada um foi para seu lado

Passados uns três meses o médico o avisou de que a mulher com AIDS agora estava curada, com a mais perfeita saúde, feliz e passeando por aí. A platéia de católicos exulta com o milagre. A pregação continua em tom crescente. O relógio marca 10 e 25 hs.

O pregador Daniel agora recebe ordens diretas de Deus para descer do palco e ir até uma mulher numa cadeira de rodas, que providencialmente estava bem na frente dele. Ordena a ela que se levante e ela, milagre, se levanta. Estava doente de osteoporose mas se levanta. Tudo é fotografado pelo que o pregador conta e a platéia dá pulos de alegria.
Existe no sentimento do ser humano a necessidade de ser amparado e curado, seja como for. Como não poderia deixar de ser, esse sentimento passou para as figuras relatadas como milagrosas na história das religiões. No religião cristã não poderia ser diferente e é, acima de tudo, um sentimento que todo ser humano tem. Não importa se a cura vem de um milagre ou de um bom tratamento médico.

Enquanto ouvia a mudança da programação para outro pregador, fui imaginando como são explorados esses pretensos milagres que fazem a multidão de fiéis atingir um estado de ânimo que alcança a histeria. Aí qualquer discernimento fica toldado. É um fenômeno que se repete em qualquer platéia, sejam fiéis católicos ou evangélicos.
Fica uma coisa interessante por perguntar, mas ninguém pergunta na hora porque estraga a alegria do milagre. O pregador Daniel foi capaz de curar uma mulher com AIDS e essa mulher que deveria estender sua graça a outras pessoas simplesmente desaparece. Deveria ter se tornado a maior pregadora do Jesus que a curou, uma verdadeira missionária da fé com seu exemplo e com sua história, arrebanhando mais fiéis para essa causa. Mas no entanto, na semelhança de uma pessoa que apenas melhorou de uma dor de cabeça tomando uma aspirina, apenas sai caminhando e passeando por aí. O médico que a tudo assistiu deveria reportar tal caso em congressos de medicina, pois estará alí com certeza a possibilidade de salvar milhares de vidas mundo afora. Mas não. O médico apenas fecha sua maleta e retira-se sem maiores comentários. O pregador Daniel apenas relata o milagre. Não sabemos quem foi curado, quem era o médico, nenhuma testemunha existe.

Depois "cura" a idosa com osteoporose, que é claro, também cai na obscuridade e como os outros curados perde-se como uma sombra no meio da multidão. Então nessas ocasiões os pregadores dão vazão à sua veia curadora. Milagres de cura de dor nas mãos ou de cura de insônia tornam a prédica edificante. Impressionantes milagres capazes de deixarem Jesus corado de vergonha. Curar dores nas mãos. Curar insônia. Pobre Jesus, ele só ressuscitou algumas pessoas. A continuarem essas curas, a fábrica de aspirinas vai fechar.

É isso que eu chamo de milagre de aspirina. Um "milagre" que os católicos aprenderam com os pretensos milagreiros evangélicos. Levanta-se uma pessoa que está numa cadeira de rodas, atacada por artrite, osteoporose ou coisa semelhante, tão capaz de caminhar como caminha no consultório do médico para exames. Capaz sim de caminhar por uns 10 minutos, quando depois é obrigada a se sentar, mas nos 10 minutos em que caminha na frente do pregador, padre ou pastor, a platéia explode em gritos e aleluias. E depois ninguém mais presta atenção na pobre velhinha outra vez na cadeira de rodas. Jamais vi pastor ou padre algum fazer caminhar quem tivesse perdido as pernas num acidente. Em todo caso, é interessante ouvir tais programas. Fim de noite. Enquanto escrevo essas linhas fico pensando se o pregador Daniel teria feito algum milagre para socorrer um conhecido padre da rádio Canção Nova. O padre Léo, um dos mais conhecidos pregadores católicos, que também sempre falava de curas, testemunhos e milagres, morreu de câncer. Para ele o milagre não chegou a tempo. Nem o milagreiro.

O que fica doloroso para as consciências é que nunca sabemos quem foi milagrosamente curado de uma doença incurável, quem é o paralítico que hoje está caminhando por aí, quem é o cego que voltou a ver. Os padres e pastores apenas dizem que estão por aí, felizes da vida. A única coisa que podemos saber e ver de verdade e sem dúvidas é onde fica o túmulo de quem esperou um milagre.

domingo, 8 de agosto de 2010

E01 A voz do oráculo

Concessão de filões...
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Nos acontecimentos noticiados nas colunas sociais dos dias de hoje, repete-se de forma não muito surpreendente a notícia de que mais um casal de celebridades decidiu pela separação. A separação de um casal que percebe que sua convivência se tornou impossível é coisa das mais civilizadas e denota a maturidade dos dois frente a um fato da vida. O amor também se esgota, tal qual uma mina de ouro. Tornou-se porém corriqueiro que muitas mulheres em tais casamentos acreditem que a mina de ouro é vitalícia e pior ainda, dispõem de leis absurdas feitas sob medida para facilitar o enriquecimento ilícito.
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Nem todas são assim porém. Algumas mulheres, casando-se novas e passando uma vida inteira devotadas ao trabalho diário de manter um lar e uma família e impedidas de trabalhar ou estudar por isso, merecem sem dúvida, no fim de uma relação, uma pensão por parte de seu ex-marido por esse trabalho a que devotaram sua vida e possibilidades de trabalho, estudo e alguma profissão onde pudessem prover seu próprio sustento. E com esse trabalho ajudaram seu ex-marido a alcançar uma posição segura na vida. Novamente nem todas as mulheres são assim.
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Não tem sido uma visão correta de muitas mulheres, que veem no casamento uma espécie de concessão de um filão de ouro, a ser exlorado eternamente às custas de quem um dia foi seu marido. Algumas ex-esposas de celebridades que nem mesmo conheceram direito as chaves da casa que um dia chamaram de "lar" abocanham na Justiça gordas pensões. Ocorre aí uma deformação jurídica: casamentos que não duram nem meses, rendem às suas ex-proprietárias, digamos assim, pensões vitalícias, tudo em nome de uma visão ultrapassada do modelo familiar, onde o homem é visto como eterno e único provedor das necessidades de uma união extinta, enquanto que os direitos referentes a ela só existem de um lado e para sempre. O que acontece com as celebridades é apenas a face visível e comentada do que acontece nesse modelo de união em todos os níveis sociais.
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Texto originalmente publicado em 21.09.06 em http://vellker.blog.terra.com.br

Diamantes são para sempre...outras coisas também...

O viajante ia fazendo sua peregrinação até que num dia de sol chegou ao templo do oráculo. Apesar de não haver ninguém no templo, rezava a lenda que tudo o que fosse perguntado com sentimento seria respondido.

O viajante sentou-se, deixou sua mente viajar nas brumas do espírito e perguntou:
- Mestre, existe neste mundo alguma coisa que dure mais do que o granito? Um espírito com a aparência de um velho sábio surgiu no altar e com a voz calma e ao mesmo tempo imponente respondeu:
- Sim...É o diamante.

O viajante pensou mais um pouco e perguntou novamente:
- E existe algo que dure mais do que o diamante? E o oráculo novamente respondeu:
- Sim...É o amor entre um homem e uma mulher.

E em sua busca pela sabedoria, mais uma vez o viajante perguntou:
- E diga-me Mestre...Porventura existe algo neste mundo que dure mais do que o amor entre um homem e uma mulher?

O espírito com a voz calma, como a dos grandes iluminados respondeu:
- Sim...Existe...

Admirado, o peregrino perguntou novamente:
- E o que existe neste mundo Mestre, que dure mais do que o amor entre um homem e uma mulher?

E a voz do espírito veio rouca, revelando o segredo:
- É a pensão alimentícia... Links a verificar:
Stephany Brito consegue pensão de 140 mil reais

Sátira do site Kibeloco
Pensão de Stephany Brito é revogada

sexta-feira, 30 de julho de 2010

L02 O medo do inferno

Como as coisas são mantidas... Hoje depois de escutar outra vez um padre falando sobre curas e milagres peguei novamente a Bíblia para ler. Foi uma leitura como essa há coisa de uns 20 anos que me fez ter a certeza de que o Deus nela retratado não existe. Se bem que essa é uma conclusão amadurecida no íntimo das pessoas. Mas só mesmo lendo o verdadeiro livro de horrores que é a Bíblia para dar o passo final para o ateísmo. E depois dele, descobre-se que afinal não só existe vida fora da crença cristã, como também ficamos livres de dívidas eternas, pecados cometidos por Adão e Eva, infernos, purgatórios, dívida com Jesus e tudo o mais que os antigos sacerdotes judeus e cristãos inventaram há mais de 2.000 atrás com uma só finalidade: viver às custas dos outros.

Qualquer crente apresenta duas reações quando isso é dito: irritação ou dúvida. Se ficar irritado é crente dos que aceitam tudo o que está escrito na Bíblia, como por exemplo assassinato, genocídio, racismo e roubo, cometidos em nome de Deus e por inspiração de Deus. Se ficar em dúvida, é crente do tipo que leu e não conseguiu acreditar naquilo, mas continua indo na igreja e ainda acompanha a procissão, mas com a sensação de que não quer ir até o fim da missa.


Sejá lá como for, ouvindo o padre e relendo os trechos mais sangrentos do Velho Testamento, me lembrei das notícias de padres envolvidos em escândalos de pedofilia. Quando o padre fala disso, diz que é perseguição contra a Igreja Católica. Do outro lado temos os pastores evangélicos empenhados em comentar isso, mas silenciando quando o assunto é algum bispo dono de alguma igreja envolvido em desvio do dinheiro dos fiéis. Tudo também é atribuído a uma perseguição maldosa.

Olhando as fotos de padres, pastores e bispos tanto evangélicos como católicos, todos barrigudos e que falam em viver como Cristo e a cada ano aparecem mais gordos, vi-os como legítimos filhos de Eleazar, um dos sacerdotes que ao lado de Moisés mais soube viver a vida às custas dos outros. Lembro dos filmes e imagens em que a figura desses dois piratas do deserto aparece glamurizada como heróis míticos quando na verdade eram salteadores e assassinos cruéis.

Mas tudo que era dito e ordenado por eles era anunciado como a palavra divina, que merecia obediência imediata e reverente. Nos tempos antigos sequer se podia pensar em não acreditar ou não fazer o que mandavam sem que se fosse imediatamente apedrejado ainda ouvindo as palavras que descreviam o Inferno, com o que esses sacerdotes conseguiam tudo o que queriam. Obedecer à própria consciência, questionar coisas duvidosas, desacreditar das fábulas da Bíblia era e é ainda pecado mortal.

Vez por outra colocarei aqui algumas das "palavras da salvação" que eles zelosamente passam a vida inteira sem mostrar para seus fiéis, pois as próprias palavras da Bíblia seriam uma vergonha teológica sem tamanho. Aliás as escolas de teologia só ensinam uma coisa aos teólogos: como fazer um verdadeiro trapezismo mental para justificar os crimes ditos inspirados por Deus e ao mesmo tempo atribuir razão e lógica aos absurdos da divindade. Poucas pessoas sabem mas da mais de 1.000 páginas da Bíblia, ao longo de toda uma vida de crença, os fiéis são induzidos pelos sacerdotes a lerem umas 100, isso os leitores mais ávidos. A esmagadora maioria do rebanho cristão se contenta em ouvir prédicas sobre o Gênesis, Moisés, Sermão da Montanha e Apocalipse. Muitos andam 60, 70 anos com esse livro sob os braços e na verdade só conhecem algumas páginas dele. É assim que essa mistificação é mantida.

Volto a atenção para o rádio e ouço o padre no mesmo molde dos pastores evangélicos dizendo que o verdadeiro cristão não segue sua consciência, nem a inteligência, nem a razão e nem a lógica mas sim a consciência divina a qual, é claro, oferece todas as respostas a todas as dúvidas. E só ele é, como não poderia deixar de ser, o representante autorizado da voz divina. Portanto ele exige a obediência dos fiéis e também o dízimo. Nas rádios evangélicas os pregadores seguem o mesmo ritual de induzir seus seguidores à auto-humilhação, deixando no alto do púlpito apenas a figura do pastor.

E triunfantes, padres e pastores, ensinados na velha escola do terror, deixam entrever em seus sermões que ousar acreditar no contrário é o caminho mais certo para o Inferno. Acima de tudo eles só tem isso para mostrar. O Paraíso é só um acessório que vem com o dízimo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

L01 Os homens de preto

A vida em preto...
Um grande sucesso de audiência no mundo todo foi o filme "Os homens de preto" onde Tommy Lee Jones e Will Smith interpretavam dois divertidíssimos agentes de uma organização mundial, destinada a acolher e proteger no nosso planeta alienígenas amistosos em trânsito e a combater sem pena alienígenas perigosos.

Quem não riu com as peripécias dos dois, que além de esbanjarem carisma, distribuiam simpatia em sua visão bem humorada do mundo que tinham que proteger e das tiradas cheias de humor que viviam com os extraterrestres amigos?

Foi de forma parecida que fui ouvindo o programa da conhecida rádio católica "Canção Nova" com as prédicas de um padre sobre como viver santamente o namoro. De certa forma, acredito eu, vestido de preto e falando sobre esse tema que posso supor que lhe é absolutamente desconhecido, o padre pareceu-me na imaginação uma mistura de homem de preto com alienígena. Tem um roupa peculiar e ao que tudo indica chegou aqui há pouco tempo mas se dedica a converter os terráqueos à sua visão do sexo e posso entender que pelas regras da igreja dele, nunca tenha tido a dita relação, alegria dos namorados e preservação da nossa espécie.

Sim, porque em última análise fala sobre o relacionamento sexual, que pretende que seja ouvido e seguido ao pé da letra por sabe-se lá quantos casais de namorados que estejam a ouvi-lo.

Esclareço que sou ateu, crença por assim dizer, a que me converti lá pelos 35 anos, depois de uma mocidade de dúvidas e ao final disso de decidida leitura da Bíblia, quando após ler atentamente o verdadeiro teatro de horrores que dizem ser palavra da salvação, entendi que afinal não existe deus nenhum e acreditem, existe vida plena depois de aceitar-se isso, uma vida até melhor, sem as sombrias nuvens da culpa e da condenação eterna.

Mas gosto ainda de ler as revistas católicas que encontro em salas de espera de consultórios ou dentro de igrejas onde entro quando uma chuva me pega de surpresa. Afinal, além do lugar quieto, você tem onde sentar até que a chuva passe. Destaque para as igrejas como a Universal do Reino de Deus, que oferece o jornal grátis, com bons artigos para reflexão e no fim do corredor, banheiros higiênicos e de impecável brancura.

E fui ouvindo os conselhos do padre, dizendo que o namoro tem que ser vivido santamente e volta e meia lendo cartas de namorados que diziam que viviam seu namoro santamente. Ao que tudo indica viver o namoro santamente é namorar na casa dos pais, com o papai e a mamãe do rapaz ou da moça presentes ao alegre enrosco amoroso dos dois.

Depois o padre advertia, acompanhado pela apresentadora, com conselhos sobre não ser um namoro santamente vivido esses em que o casal vai numa balada, namora dentro do carro ou que pecado, dentro do motel, que horror.

Prosseguindo em pormenores e inclusive condenando o uso de preservativos, essa inocente capinha de borracha, para ele crime dos crimes, o padre fazia uma colorida descrição das formas em que um namoro deve ser santamente vivido.

Fiquei aqui a pensar comigo. Se perguntarmos ao padre se ele já namorou, é provável que diga que não, que iniciou sua vocação sacerdotal cedo. Nem faz idéia do que é namoro. Se quisermos saber se ele já teve relações sexuais, Vade Retro dirá ele empunhando o crucifixo, nunca teve relações sexuais, sua igreja assim o proíbe. Tão coerente quanto isso, só um leigo dizendo numa rádio como os padres devem rezar a missa.

Mas se nunca namorou, nunca teve relações sexuais, como fica a dar conselhos num programa de rádio sobre como deve ser o namoro ou como deve ser feito o sexo? Só restam alternativas nada confortáveis. Ou o padre fala porque deu algumas escapadas para namorar durante sua formação no seminário ou então depois de ordenado foi ver em pessoa como é fazer sexo, para não ter mais dúvidas ao dar conselhos. Fora isso como vai falar do que não faz e não conhece?

As outras alternativas o deixam numa situação de palestrante conhecedor de constrangedores segredos. Ter lido atentamente sobre namoro e ato sexual em revistas ilustradas ou recebido o caridoso conselho e descrição do namoro e do sexo da parte de algum casal da sua igreja. Que mais pode ter sido então? Se não fez as duas coisas, não sabe como é.

Muitas pessoas ainda se lembram do caso de um padre cantor salesiano, que abandonou a batina e se casou com uma conhecida apresentadora de televisão. Se acreditarmos que ele a conheceu, apaixonou-se e largou a batina no mesmo dia para casar, ficamos a imaginar que exatamente por não entender do assunto, perdeu-se ele nos caminhos do namoro, do amor e do sexo por muito tempo e em total segredo, como fazem os namorados hoje em dia, até sentir que essa história de viver tudo santamente é um aborrecimento sem fim. E lá se foi ele, sem medo de ser feliz. Com a desenvoltura que esses padres tem ao falar, podemos imaginar quantos segredos eles tem. Talvez sim, talvez não.

Fui ouvindo o padre em suas admoestações finais e fiquei a relembrar dos dois personagens do filme. Eles pelo menos tinham uma vida divertida, sem culpas e carregada de humor.

Enquanto isso seguem os padres, de preto e numa vida também de preto, pretendendo dar conselhos sobre o que é branco.

terça-feira, 22 de junho de 2010

C01 Pecados de guerra

Um filme para não esquecermos...

"Pecados de guerra" é um filme que impõe perguntas. As mesmas que fazemos hoje no Brasil. Depois do incidente em São Paulo onde um jovem da periferia, mais um, foi espancado até a morte na frente de sua mãe por policiais militares agora presos, é necessário repensarmos o que é nossa polícia. Repensar é a única coisa que uma população indefesa pode fazer por ora. A pergunta que podemos começar fazendo a nós mesmos é porque nenhum jovem que mora no bairro do Morumbi ou Jardim Europa em São Paulo é morto da mesma forma. Os policiais sabem a resposta. Nestes bairros riquíssimos moram importantes autoridades estaduais e federais, políticos, magistrados e outros capazes de triturar até mesmo o comandandate da polícia. Publicado originalmente em 27.05.06 em http://vellker.blog.terra.com.br/

Filme recomendado
Pecados de Guerra

1989 - Direção de Brian de Palma, com Sean Penn, Michael J. Fox - LK-TEL Vídeo

Muitas vezes no cinema percebemos o quanto um filme mostrando outro povo, outro mundo, outros personagens pode na verdade, trazer um reflexo igual ao que vemos nas ruas nesses dias. Baseado em fatos reais, a partir da reportagem e livro denúncia de um repórter americano em 1969, sobre o sequestro de uma jovem vietnamita, que foi levada de uma aldeia por soldados americanos, violentada e morta durante uma patrulha.
Ao retornarem para a base, tentaram ocultar o fato, já que um dos soldados que tentara salvar a moça e quase tinha sido morto por isso, havia denunciado o acontecido para seu líder de pelotão, recebendo como resposta nada além de pouco caso.
No desenrolar da narrativa, ele, ao confrontar-se com a frieza com que não só seu pelotão, mas todos os soldados recebiam o acontecido, começa a se ver ameaçado de morte, escapando de atentados e perdendo a capacidade de distinguir o que é a defesa de uma corporação e a ocultação de um assassinato que levaria todos para a cadeia em suas cidades.

Destaque para a interpretação do ex oficial Dale Dye, que realmente combateu no Vietnã, atuando como conselheiro militar do diretor e também em ponta como ator, no papel do oficial que tenta encobrir tudo com a transferência do soldado.


No final, como foi na realidade, tudo acaba sendo descoberto pela ação da imprensa. Ao mesmo tempo que pensamos em ir para a locadora, podemos saber das últimas notícias sobre a execução de 109 suspeitos nas ruas nos incidentes desta semana e pensamos sobre o quanto podemos estar seguros ou inseguros, se formos vistos como suspeitos por uma tropa armada e assustada nas ruas.

E de como seríamos considerados um pecado de guerra se fôssemos atingidos. Ou como dizia um dos soldados ao tentar evitar a denúncia, no filme ´...O que acontece na selva, fica na selva...´.

O que acontece nas ruas, fica nas ruas, é o que podemos depreender do comportamento do comandante da PM de São Paulo ao falar para a imprensa sobre os 109 mortos que...nenhum suspeito inocente foi morto...

Interessante. Se eram apenas suspeitos, porque foram mortos? E se eram suspeitos, eram suspeitos do quê? Então a polícia admite que apenas a simples suspeita basta para qualquer um nas ruas cair crivado de balas? Estamos vivendo assim o mesmo tempo de insegurança que viviam os cidadãos de países como a Guatemala, El Salvador e Nicarágua de Anastasio Somoza, onde a simples suspeita ou a falta da carteira de identidade levava um cidadão a ser executado porque suspeitavam dele.

Nada poderia ser pior para qualquer um do que ver, que na realidade, essa corporação policial só se preocupa em se defender e defender os que a defendem, sem maiores considerações que não uma espécie de irmandade tribal, excluindo totalmente o cidadão comum de seus cuidados e colocando na alça de mira de sua vingança qualquer um pelo simples fato de parecer...suspeito. Não é preciso ser culpado. Hoje realmente não estamos livres de sermos nos dias que correm, de sermos confundidos com suspeitos.

No entanto percebemos que a suspeição da polícia é extremamente seletiva. Não consta que tenham caído suspeitos que andavam pelos bairros nobres, de gente rica, poderosa e influente, como os Jardins, Morumbi ou Avenida Paulista. Onde mesmo que o passante lá seja suspeito, com certeza terá uma família que será capaz de dar o troco, seja por via judicial, política ou executiva.

Para que um tribunal? Para que um judiciário, um juiz, um promotor, um defensor ou um jurí, se o guarda da esquina pode decidir que você é suspeito e portanto apertar o gatilho...?

Links a verificar:
Guerra do Vietnã
Pecados de Guerra
Defensor comenta as mortes e fala de inocentes atingidos

domingo, 13 de junho de 2010

R25 Dia dos Namorados...sozinho...

Sonhos de um dia... Ontem, Dia dos Namorados. Estou só em casa. a mulher que amo, distante. Nós dois, por contingências da vida estamos ainda distantes, mas o amor floresce em nossos corações. E toda vez que podemos estar juntos, tudo o que sonhamos, vivemos, de corpo e alma.

Ontem, um dia especial de lembranças desse amor. Relembro os dias que já vivemos, penso no reencontro que logo teremos e ao mesmo tempo, se sinto uma alegria profunda, sinto também um tristeza. A única coisa que me deixa melhor é essa trama, diria, esse jardim de lembranças, cheio de flores que nós dois plantamos nesse tempo todo.
Abro o guarda-roupa para pegar mais um agasalho e vejo a marca de baton que pedi a ela que deixasse no espelho. Está lá até hoje, como uma presença. Olho para alguns livros do meu lado na cama e me lembro da figura dela, deitada, quase pegando no sono, quando está aqui, depois que voltamos de um passeio, de um cinema. Me lembro de lençóis molhados de suor e amor das noites de verão e sinto saudades do calor de noites assim. Calor do tempo e calor do amor.

Nessas noites de frio, relembro de quando nos cobrimos e nos abraçamos. Do momento em que ela sempre pede mais um beijo antes de dormir. De ver seu sono chegando enquanto a abraço por trás e sussurro palavras de carinho em seu ouvido. Eu sempre durmo depois disso.

Penso em ver um filme e antes disso lembro dos momentos em que nos emocionamos na nossa cama, assistindo a filmes que mostravam grandes histórias de amor. Lembro de ocultar uma lágrima enquanto assistia o filme "Anna Karenina" com ela, uma história de amor que tira lágrimas de qualquer um.
Ligo a televisão e acompanho uma divertida comédia romântica. No final tudo dá certo para a moça do filme, que termina junto do seu grande amor. Olho mais uma vez para o lado em que ela dorme na cama e por um momento posso sentir sua presença ao fechar os olhos.
Tenho vivido assim, com essas lembranças e sempre que podemos, estamos juntos e então flui todo esse amor guardado por tanto tempo, com essa distância toda entre nós. Um dia não teremos mais essa separação.

É um dia especial mesmo por poder sentir tudo isso. Uma vez assistimos o filme "As pontes de Madison". Quem não abre o coração para o amor vendo um filme desses? E eu alí, junto dela, sentindo sua pele macia, seu carinho, sua emoção vendo o filme. Emocionar-me junto com ela. É coisa que me deixa de olhos úmidos agora.

Lembro dela quando saímos uma vez, seu olhar alegre, ela ajustando a alça do seu vestido, perguntando se estava bem. Estava linda. Seu ombro sempre pedindo um beijo e nós caminhando e conversando e eu sempre notando seu olhar brilhante enquanto ela me contava coisas da vida.

E me lembro também de quando chega o momento da partida, minha ou dela. Quando nos abraçamos e vejo seus olhinhos molhados e os beijo. Se quem diz amar, realmente sente alguma coisa no momento da separação, então ama mesmo.

Assim, nesse dia, tenho lembranças, tenho sonhos e percebo que no fundo não estou só. Lembranças, sonhos e esse amor todo. É como se fosse uma ponte até ela.

Até parece um filme que vimos.

terça-feira, 1 de junho de 2010

D12 O príncipe valente

Vida de cachorro...
Tenho aqui comigo um bom amigo. Usualmente as pessoas referem-se aos seus cães como donos. Fico a pensar se os cães não se portam da mesma forma ao conversarem com seus amigos caninos sobre seus auto-supostos donos, em seu idioma de latidos.

Seja lá como for creio que ele me considera amigo também De toda forma nossa amizade foi crescendo ao longo desses anos. Há 7 anos atrás ganhei esse amigo. Era tão pequeno que nos primeiros dias dormiu numa caixa de sapatos acolchoada. Aos poucos foi preciso uma caixa de papelão, com uma portinha, onde ele se recolhia com ares de proprietário, não só da cixa mas como da casa também. Atravessei como todos os que se aventuram a ter um amigo assim, o martírio de noites ouvindo seus ganidos assim que apagava a luz, até que ele perdeu o medo do escuro.

Com ele já um pouco maior, percebi que a grande diversão dele era dar um pulo e abocanhar lençóis e roupas no varal, que tive que subir. Mas enquanto crescia, era mesmo divertido levá-lo para passear. Buliçoso e curioso, descobria o mundo com seu focinho imenso e suas orelhas sempre em pé. E ao mesmo tempo desenvolvia um desconcertante senso de coragem, todo próprio.

Eu já o vi correr de cachorros pequenos e ao mesmo tempo, alguns quarteirões à frente dar uma corrida em cachorros do mesmo tamanho. Aos poucos percebi que quando ele corria dos pequenos era como se dissesse que só estava de passagem pelo quarteirão e não queria encrenca. Haja visto que quando bem pequeno adotou como mãe uma gata velha que vivia no quintal.
E quando late no quintal da frente então? Uma fúria, mas assim que abro o portão para a visita ou carteiro, ao invés de avançar contra o coitado, passa a latir de uma razoável distância. E depois que a visita vai embora, dá mais uns latidos de advertência, sem dúvida para mostrar que vale a ração que come, enquanto dá voltas no quintal para mostrar a estranhos que alí está um príncipe valente. Depois entra e se deita no canto da sala, seu lugar preferido com cara de dever cumprido.
Mas o dia em que ri mesmo foi quando ele entrou num pasto com uma boiada e latiu corajoso para todos os bois. Os bichos deixaram de comer capim e vieram em peso para cima dele. Até hoje rio ao lembrar de quando vi o olhar desconcertado que ele me lançou, assustado com a manada que vinha para cima dele. Abri o arame farpado e ele dizendo obrigado com o olhar pôs-se a latir valente do lado de fora do pasto. Foi aí que não tive mais dúvidas. Ele era mesmo um príncipe valente, á sua moda, é claro. A boiada veio mansa, acostumada a seguir os latidos do cachorro da fazenda. Mas ele que viu aquilo pela primeira vez, correu o quanto pôde. Para disfarçar, andou pelo resto do caminho todo altivo, como se a boiada é que tivesse corrido dele.

Nessas noites de frio, ao deixar uma porção de ração para ele, abro a cortina de sua casinha e o vejo feliz e relaxado. Lá dentro, com a madeira e o estofamento aquecidos, está um ar quente que o protege do frio. Ele abana o rabo ao ganhar mais um pedacinho de salsicha e fica confortável, pronto para mais uma noite de sono. E de latidos se preciso for.

No outro dia, de tarde, quando o sol já aqueceu o cimento do quintal, ele sai, deita e aproveita esses momentos até começar a esfriar de novo. Mal alguém começa a conversar na rua, ele sai latindo como se fosse um leão, até ver que são apenas vizinhos, que ele já conhece.

Mas volta com cara de missão cumprida e tendo provado mais uma vez que vale a ração que come, ele se deita para aproveitar mais uma dormida sobre o cimento quente, enquanto o sol afasta todo frio.

Não é vida de cachorro, é vida de príncipe. Valente a seu modo, é claro.