sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

D11 Um velho muro

Afinal aguentou mesmo...

Acompanhei ontem um trator tirando terra do quintal vizinho onde vão construir um galpão. Conforme combinei com o tratorista, o velho muro do meu quintal foi derrubado, já que as paredes do galpão vão valer por 4 muros de altura.

Me deu uma certa pena ver tudo sendo levado. Anos de existência e muitas lembranças iam embora alí. O trator apesar de levar tranquilamente as placas velhas, confirmou uma coisa. O que segurou o muro no meio de chuvas e vendavais foi o conserto que eu fiz há tempos atrás. Sem saber ao certo como fazer a massa, ao voltar para casa perguntei a um velho pedreiro que trabalhava misturando massa sob um sol como o desses dias, como deveria fazer a mistura.

Talvez cansado pelo calor, me disse que o certo era fazer uma mistura de uma parte de cimento e uma parte de areia, que isso aguentaria qualquer coisa. E lá fui eu, embaixo do mesmo sol fazer a tal mistura, como pedreiro de emergência. E foi feito o conserto em dois grandes buracos, o que me custou um trabalho incrível, pois fui aprender a misturar tudo em cima da hora e até que ficou bem feito, para quem não conhecia nada do ofício.

Com o tempo e com chuvas como as que temos visto por esses dias, ficou uma certeza, a de que o que segurava o muro era o conserto que eu fizera, sem saber, até com a massa forte demais. A parte de cima, olhei num dia de chuva, parecia quilha de navio, separando as águas que desciam do terreno inclinado. A de trás era o costado do próprio titã, navegando sem problemas.

Pois ontem, depois de um bom tempo adiando a construção, veio o trator aplainar o terreno. Ao mesmo tempo em que senti pena do velho muro, vi a pá do trator levantar a parte de trás inteira. Foi como disse o velho pedreiro, aquela mistura aguentaria qualquer coisa.

Ao passar de rente levando as velhas placas com facilidade e derrubando os pilares de cimento, a primeira parte que fiz, apesar de riscada pela lâmina, aguentou firme. O tratorista parou e foi fazer um lanche. Aproveitei para fotografar a cena.

Ouvi depois o barulho do motor sendo religado e fui ver. Aí a quilha de navio como eu a chamava não tinha como resistir, mas sem dúvida, como primeiro conserto que fiz, valeu a pena.

Olhei o terreno, vi um pedreiro preparando as ferragens e pensei no galpão novo cobrindo quase tudo.

Mas senti saudades daquela memória de cimento. Valeu a pena e aguentou muita coisa, mas tudo tem um fim, que nem sempre queremos.

Deu pena mesmo.