quarta-feira, 14 de abril de 2010

R23 Calor

Nem sempre é o verão...

Ontem conversei com a mulher que amo. Em alguns momentos com os olhos úmidos. Já não me surpreendo mais com esse sentimento que por vezes me bate, com a distância entre nós, que sempre que podemos deixamos de lado e ficamos então juntos.

Talvez seja essa distância ainda nesses tempos que vivemos que mantenha esse amor aceso, apesar de todos os percalços e tristezas que vem de momentos em momentos. O desejo de nos revermos sempre que podemos traz em si uma recompensa que é difícil descrever. Mais que tudo amo vê-la quando nos preparamos para domir, enrolada na manta e sempre antes de fechar os olhos se vira para mim e pede mais um beijo. Olho para sua figura depois, somente os cabelos negros fora da manta e a beijo mais uma vez. Ela se mexe um pouco como se fosse uma criança ganhando um carinho e continua dormindo.

Eu sempre com esse sono difícil estou do lado dela, terminando de ler mais uma página de alguma coisa sobre política, essa a única que sempre lhe dá algum ciúme de vez em quando.

Aos poucos o sono chega e antes que venha de vez já me acostumei a um ritual. Me levanto, fervo água e faço um pouco de chá para ela. Sonolento ainda cuido de misturar um pouco de áçucar que é como ela gosta, ponho o chá na caneca de louça e levo para ela. Nada melhor do que vê-la acordando, ver seu olhar feliz ao pegar a caneca e tomar o chá. Depois arrumo a manta sobre ela, dou-lhe mais um beijo e me deito do seu lado. Aos poucos o sono me leva a sonhar junto com ela.

Momentos assim é que fazem uma relação valer a pena. O momento do descanso da noite repleto de carinho de um e de outro. Ainda antes de pegar no sono me lembro do olhar dela, vivo, cheio de luz qando me conta os casos da vida, seus sonhos e aí adormeço.

Ontem caminhando e sentindo o frio da noite, não pude deixar de ficar de olhos úmidos ao me lembrar de tudo isso. Voltei para casa sentindo essa ausência, mas acima de tudo o sentimento de amor que nos mantém juntos e como vivemos com intensidade cada momento de nossos reencontros, até o dia em que estaremos juntos.

Enquanto voltava tive a sensação plena do que havia dito a ela. Que seu amor cobriu meu coração como se fosse uma manta, deixando-o aquecido, protegido do frio.

Enquanto abria o portão me lembrei de uma paisagem das montanhas. E senti que só essa lembrança e a certeza de nos vermos logo era como se eu estivesse num cenário desses, o sol se pondo na tarde, a névoa fria das montanhas chegando, mas ao mesmo tendo eu divisando na paisagem uma cabana, dessas bem simples, mas acolhedoras, aquecidas, protetoras.

E que entrando alí, me vi envolvido numa onda de calor suave, numa cama simples mas macia, com uma pequena lareira aquecendo tudo. De fora pelas frestas da janela, senti o perfume de flores do campo. Ao me aconchegar na cama, me cobri com a mesma manta que ela usa. Foi só um sonho de um instante, mas um dos mais doces que já tive.

O mais doce de tudo é saber que seu amor recobre meu coração como essa manta. Por isso meus olhos ficam úmidos. Mas a lágrima, se tem um brilho de saudade, tem também o brilho da certeza de estar protegido e aquecido nesse amor.

Sinto essa manta me aquecendo e durmo depois de te dar mais um beijo.