domingo, 26 de junho de 2011

R39 Como será?

Preceitos fervorosos...
-
Como de hábito, ao tomar um café agora ao cair da noite, enquanto mastigava uma bolacha liguei meu pequeno rádio a pilha para ouvir as prédicas cristãs da rádio católica Canção Nova. Não tenho religião, sou o clássico ateu que gosta de ouvir essas preleções, afinal são divertidas em boa parte dos casos e interessantes em outros. As rádios evangélicas também fazem um espetáculo à parte com suas perorações de fogo eterno aos descrentes.
-
Algumas vezes ouço, como já conteceu, uma fiel seguidora pedindo a benção e mais do que isso um milagre para a aflitiva situação que vivia. Ao começar a contar o que lhe acontecia como pediu o padre locutor, a ligação caiu. Óbvio, se nem a linha o santo consegue manter no ar parece pouco provável que consiga fazer algum milagre. Em todo caso a vida continua.
E hoje enquanto uma fina garoa surgia no horizonte, esquentei o café e liguei o radinho de pilha e a locutora com grande animação na voz passava as novidades de uma pesquisa feita entre adolescentes onde 60% declaravam que queriam permanecer virgens até o casamento. Inacreditável nos dias de hoje, mas em todo caso ela continuou. Além desses entrevistados, se é que a interferência não atrapalhou o que ouvi, parece que outros 71% disseram que gostariam de recuperar a virgindade. Ora essa, então já deitaram e rolaram, experimentaram o sexo e gostaram. Se querem recuperar a virgindade é para que tudo seja feito a contento da próxima vez. Enquanto pensava de que colégio católico teria saído essa pesquisa, a locutora informou que ela foi feita nos Estados Unidos e com 5.000 adolescentes.
-
Só pode ter sido feita no Bible Belt ou a parte do país chamada de Cinturão da Bíblia, onde boa parte da população é tão conservadora e apegada a dogmas bíblicos que formam um dos contrastes mais interessantes da América. Além de acreditarem na Arca de Noé literalmente, alguns acreditam que Jesus em sua segunda vinda descerá em solo americano.
-
No país que criou a indústria de filmes pornôs, que movimenta bilhões de dólares mundo afora com literalmente milhões de ansiosos fregueses no mundo todo que adoram ver seus filminhos sempre que possível, com a indústria cinematográfica de Hollywood, que passa aos jovens de hoje comportamentos dos mais diversos em relação ao sexo, me parece que esses 5.000 adolescentes foram bem selecionados para essa pesquisa. E mesmo assim a maioria já deitou e rolou como se diz. E o que existe de errado nisto?
Nada, quando o sexo é bem feito, com cuidados e informação que venham de uma boa educação sexual e é gratificante para os dois jovens amantes, envolvendo-os em amor e felicidade. Que o digam os jovens dos países nórdicos, onde essa educação é dada desde a escola básica e todos vivem felizes e descomplicados quanto ao sexo. Nada demais, de errado ou de condenável existe nele. A não ser para os padres, que nunca tendo feito sexo ou nunca tendo casado e menos ainda namorado, como fazem questão de dizer, se bem que não acreditemos muito, se metem a dizer como o sexo deve ser feito ou como o casamento ou uma relação amorosa deve ser vivida, sem nunca terem vivido uma ou como juram, sequer terem visto uma mulher nua, cruzes, pecado dos pecados. E nem mesmo tendo namorado, afinal sua religião condena de tal forma o sexo e impõe tantos tabus, medos e preconceitos sobre ele, que ficamos pensando se boa parte desses padres não trazem dentro de si o recalque de nunca terem vivido o que teriam gostado muito, o sexo em toda sua plenitude.
-
Se bem que com tantos escândalos hoje usualmente noticiados nos jornais envolvendo padres, adolescentes e certas mulheres muito rezadoras mas frequentadoras mais afoitas das igrejas e sempre em busca de um romance, fica a certeza de que se alguns padres tem toda experiência numa relação entre homem e mulher, outros, sempre vociferando contra o sexo, conseguem apenas passar a imagem de homens que de dentro de suas batinas são martelados incessantemente pelo desejo de saber, afinal, como é que será esse tal de sexo? Como serão seus prazeres? Será verdade tudo o que lhes confessam? É tão gostoso assim?
Ah, se desse para sair dessa batina e fazer. Bem, alguns colegas deles já fizeram isso. Mas isso o radinho não fala.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

R38 Uma antiga magia

Com tom azul...
Hoje de forma paciente cortei algumas varetas de madeira. Ajustei as medidas da serra e peguei uma pequena tábua há muito tempo guardada aqui e comecei o corte. Depois, de forma calma lixei e colei todas as varetas atrás de uma fina placa de madeira prensada, como suporte de uma moldura.
-
Sobre a placa espalhei cola e depois colei o retrato de uma das divas de Hollywood, da década de 50. É inacreditável a magia que existe nesses retratos. Na época existia uma forma diferente de se captar a beleza dessas mulheres inesquecíveis, que até hoje atraem os olhares e a admiração de todos.
-
Retratos em preto e branco, alguns com a chamada viragem em azul, que realça sua beleza. As fotos, as roupas, os olhares, as poses de uma sensualidade suave, de uma época que já passou mas que ainda é vista e sentida pelo mundo todo.
-
Terminei de pintar a lateral da moldura, coloquei o retrato na parede e vi uma só coisa. Absoluta perfeição e beleza.
-
Na verdade, uma espécie de magia no tom azul luar.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

D19 Depois de tudo perdido

Apenas um pequeno clique...
Com esta postagem inicial recomeço no novo espaço que criei Cartas do Vellker ainda recebendo retoques finais, o antigo bilogue (aportuguesei a palavra) que mantive por muito tempo no Terra, o velho http://vellker.blog.terra.com.br que ontem, por causa de um pequeno clique, deixou de existir.
-
Há algum tempo atrás pude voltar a acessá-lo e ontem quando salvava textos para republicar, ao rever e apagar algumas postagens que haviam ficado como rascunho, por distração dei o comando de "excluir tudo" e não apenas uma postagem. Quando me dei conta do erro, me senti como o piloto que ao aterrissar vê faíscas saindo debaixo do avião e percebe que, ora essa, esqueceu de baixar o trem de pouso. Claro, fica de orelhas vermelhas enquanto vê a agitação na torre de controle.
-
Por sorte ninguém morreu, a não ser textos e imagens que mantive desde 2006. Textos e imagens que lamento ter perdido. E findou-se a memória do velho bilogue, que agora começo a repostar através do que havia conseguido salvar. Lá aprendi a postar os primeiros textos, refazer a redação, corrigir temas e conjugar imagens com o assunto escolhido. Também conheci muitos amigos da chamada bilogosfera, no Brasil e no exterior e valeu a pena o aprendizado.
-
Na medida do possível, os textos serão repostos ordenados da melhor forma possível. Apesar do tempo passado, vai valer a pena ler de vez em quando.
-
Tento o acesso mais uma vez com uma certa esperança, olho para a mensagem na tela informando que o bilogue não foi encontrado e de vez me sinto como o piloto, que depois de sentir o avião parar na pista, olha para a torre de controle e liga o rádio balbuciando alguma desculpa. Era só ter apertado um pequeno botão e o avião estaria a salvo.
-
No meu caso era só ter dado um clique em outro botão e tudo ainda estaria em seu lugar.
Acontece nos melhores teclados.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

R37 Não parece haver fim para isso

Lágrimas e lembranças...
Ontem passei mais uma vez na velha ferrovia que hoje faz parte de muitas lembranças que tenho. Gostaria que houvesse um fim para isso, mas não vai ter. Olho para os trilhos, essa continuidade terminando numa curva onde não posso mais ver o caminho. Vai ser assim, sem ver o final disso o resto da vida.
-
Quando era criança passei nesta mesma ferrovia num dia de verão, com minha mãe me levando para conhecer a cidade onde ela havia nascido. Ainda hoje me lembro dos campos e matas, da alegria de viajar de trem. Depois a chegada na estação, o passeio na cidade, tudo que deixa uma criança feliz. Até mesmo a estradinha por onde passamos ainda existe.
-
Ontem, de novo me peguei relembrando dos dias em que cuidei da minha mãe enquanto ela agonizava, abatida pela doença que a levou ao fim. Nem mesmo quero lembrar disso, a lembrança vem como uma onda de ar frio, que não peço e nem desejo, simplesmente vem, tamanho foi o sofrimento que ela passou e me deixou marcado.
Lembro do olhar dela, entre assustado em certos momentos e com lágrimas em outros, poucas vezes sereno, pela dor que a doença lhe causava. Pouca vezes eu via serenidade naquele olhar, mas cuidava dela como podia. É aí que nos sentimos miseravelmente humanos. Humanos incapazes de fazer alguma coisa, incapazes de fazer um milagre, apenas vítimas do que acontece. E muitas vezes eu via o olhar dela como o de uma menina assustada, com lágrimas descendo e só o que eu podia fazer era cuidar dela, com os olhos úmidos também.
Não queria ficar lembrando disso, mas a dor que ela sofreu foi tão grande que veio a ser parte da minha vida e minha dor também. Olho para o sol se pondo e os trilhos brilhando com sua luz. Gostaria que essa dor tivesse um pôr do sol também.
-
O vento volta a soprar. Eu me levanto e caminho. Enquanto atravesso a ferrovia, olho para os trilhos, olho bem para a curva onde os trilhos se perdem e em parte me conformo. Não parece haver fim à vista para essa dor.