domingo, 27 de março de 2011

R35 Uma bebida amarga

Absinto, reatores nucleares, o mar e um livro...
-
O que se vê abaixo é o jazigo nuclear de Chernobil. Onde antes existia uma usina nuclear na antiga União Soviética, existe hoje esse gigantesco cubo de concreto onde foram colocadas imensas placas de aço e chumbo para isolar o centro do reator que entrou em fusão em 1986, após um mal sucedido experimento de aproveitamento de emissão de energia nuclear residual com o desligamento dos sistemas de proteção. Os técnicos que operavam o reator e tentaram religar os sistemas morreram. Bombeiros, outros técnicos e soldados que trabalharam nos primeiros dias jogando água, cimento, areia e limalha de chumbo sobre o reator morreram semanas depois. Dos milhares de trabalhadores que ergueram essa contenção, centenas morreram ou adoeceram gravemente por causa da radiação que absorveram. O núcleo fundido, agora com boa parte da energia da radiação já gasta após 25 anos de emissão contínua vai deixar uma massa radioativa de diversos elementos criados na reação que vão levar 24.000 anos para se tornaram inertes. É isso mesmo, 24.000 anos é o período de emissão de certos elementos até o esgotamento total de sua energia nuclear.
Perto da usina existe um cemitério de material. Carros, tanques, caminhões, material de construção, guindastes e helicópteros que foram usados nas primeiras semanas de trabalho de contenção da radiação e que se tornaram radioativos pelos detritos que os envolveram hoje são analisado por técnicos russos com duas finalidades: uma a de medir os níveis de radiação que ainda emitem e descrever tudo em manuais técnicos sobre segurança nuclear, outra a de verificar o dia em que finalmente poderão ser desmontados. Todo este material está lá há 25 anos, cuidadosamente cercado por guardas armados. Num raio de 40 quilômetros em torno da usina, não há mais habitantes. A monitoração de fontes de água e dos rios é feita constantemente. Não há como saber se o núcleo radioativo fundido continua no mesmo lugar ou se está aos poucos se infiltrando pelo solo.
Próximo do continente russo onde tudo isto aconteceu em 1986, nos dias de hoje outro trágico acontecimento semelhante se repete após o tsunami que arrasou a parte nordeste do Japão e atingiu em cheio os reatores nucleares de Fukushima e aí aconteceu outro acidente nuclear de forma talvez pior, pois a situação continua ainda crítica e com vazamento de radiação contínua. Pior ainda que Chernobil, os reatores ainda não puderam ser isolados e devidamente enterrados com concreto, aço e chumbo, sendo que os reatores a pouca distância do mar e numa região sujeita a terremotos devastadores, deixam bem poucas esperanças de um futuro sem medos. As consequências estamos vendo hoje, torcendo pelos trabalhadores japoneses, sendo que alguns logo acabarão morrendo, mas continuam bravamente lutando para ao menos melhorar a situação.
-
O que bilhões de telespectadores viram pelas imagens da televisão foi a enorme explosão de um dos reatores, com as chamas aparecendo num clarão e a nuvem da explosão subindo a mais de 500 metros de altura. Detritos radioativos foram jogados no mar pela explosão. Enquanto o governo japonês e a empresa que opera os reatores tentavam acalmar a população dizendo que estavam próximos de controlarem a radiação, funcionários de empresas estrangeiras e de embaixadas foram todos retirados do Japão.
-
É explicável. Dispondo de sistemas de rastreamento nuclear privilegiados que incluem os satélites de observação americanos, franceses, russos, chineses e até do serviço secreto de Israel, o que os operadores desses sistemas viram foi um enorme clarão radioativo na área dos reatores, com vazamento de vapor radioativo subindo a quilômetros de altura na atmosfera o que indicava que a situação estava completamente fora de controle ao contrário do que diziam o governo e a empresa japonesa e passaram essa informação a seus governos que aí avisaram as empresas.
Numa semelhança dolorosa com o que a nação japonesa passou com os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, agora com a destruição provocada pelo terremoto e pelo tsunami, o cenário de destruição lembrava perfeitamente a destruição causada pelos bombardeios americanos durante a 2a. Guerra Mundial. As equipes de socorro salvaram os feridos que puderam, enquanto que a temperatura de inverno abaixo de zero terminava com as chances de muitos sobreviventes ainda presos nos escombros.
-
A marinha americana, mobilizada para exercícios no Mar do Japão nos dias do tsunami, com seus navios e helicópteros já entregou milhares de toneladas de suprimentos, alimentos, remédios e roupas para as equipes de socorro e sobreviventes em missões onde os soldados americanos até mesmo choraram ao verem a situação de destruição que encontraram.
Olhamos nas telas de nossos computadores ou na banca da esquina as notícias sobre o desenrolar da situação. Vendo as notícias de contaminação nuclear que aconteceram nos dias seguintes, podemos entender porque os estrangeiros foram retirados do Japão logo nos primeiros dias. Até mesmo em Tóquio distante 270 quilômetros dos reatores, a medição da água encanada acusou a presença de radiação. Logo toda a água mineral nas grandes e pequenas cidades estava esgotada e hoje vem de outros países, enquanto que a leitura diária da radiação é feita.
Nisso tudo, com o coração dolorido ao vermos o que acontece, o que permanece como um ponto de reflexão são as notícias que vemos em comparação com um texto do Apocalipse na Bíblia. Mas outra coincidência também nos deixa a refletir sobre certas semelhanças de nomes. Chernobil em russo significa Absinto.
-
E no chamado Livro Sagrado podemos ler:
-
"Apocalipse 8:10-11 "O terceiro anjo tocou a trombeta, e caiu do céu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas uma grande estrela, ardendo como tocha. O nome da estrela é Absinto; e a terça parte das águas se tornou em absinto, e muitos dos homens morreram por causa dessas águas, porque se tornaram amargosas."