domingo, 28 de agosto de 2011

R43 Que amigos

De qualquer jeito, está frito...
Durante a semana causou agitação a notícia de que um peão no rodeio de Barretos acabou quebrando as vértebras do pescoço de um bezerro durante o rodeio ao imobilizá-lo. Torcendo o pescoço do animal com toda força, acabou deixando-o tetraplégico na arena. O animal foi sacrificado.
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A grita dos defensores dos animais foi grande, toda a condenação do público e de convidados entrevistados em programas caiu sobre o peão que agora está impedido de se apresentar. Na entrevista que deu, ele afirmou que o bezerro "caiu do jeito errado".
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Ao que tudo indica agora os animais tem que ir para um rodeio tendo que saber direitinho de que jeito afinal eles tem que cair.
Com a agitação de entrevistados, do público e das organizações de defesa dos animais, hoje causou outro tumulto o fato de que um boi saiu do rodeio com as pernas traseiras paralisadas. Imediatamente alvejado por críticas o peão se safou com a constatação de que o animal havia caído com cãibras nos músculos traseiros.
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Enquanto todos se compadecem dos pobres bichos, o que fico imaginando é que esses animais provavelmente estavam em pastos onde, digamos assim, colegas seus foram levados em outro caminhão. Tomando outra estrada o caminhão parou num matadouro, onde longe das vistas tão sensíveis dos espectadores e telespectadores, os pobres bichos foram abatidos e em questão de minutos estavam transformados em linguiças, salames, presuntos, pedaços de carne e seus couros foram para o curtume, onde vão passar a se chamar de cintos, bolsas, sapatos, jaquetas e tudo mais.
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Enquanto isso, quem sabe, em animada roda de pessoas numa mesa discutindo talvez a criação de alguma ONG para a defesa dos bichinhos, a chegada do garçom com uma suculenta picanha interrompe a conversa e todos principiam a trinchar a carne, mastigando com gosto e com elogios ao churrasqueiro esse prato delicioso, que até ontem era exatamente um dos bichos que eles agora se propõem a defender, com unhas e dentes, mas começando com os dentes.
É provável que o animal, talvez já no reino espiritual, se sinta confortado por saber que seu corpo tornou-se alimento daqueles que dizem defender a paz e o bem-estar dos bichos em geral, mas que por uma estranha visão das coisas, preferem afagar com grande simpatia a cabeça dos bichinhos e depois cortá-los em pedaços para comer, deixando de lado qualquer veleidade de uma dieta vegetariana.
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Contando com esses defensores, sem dúvida os bichos estão literalmente fritos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

R42 A receita

Um sabor que procurei muito...
Existiu um tempo, não muito tempo atrás, em que eu não sabia cozinhar. Queria mas não sabia e decidi aprender. Claro, como todo iniciante na cozinha, eu só podia fazer pratos um tanto fora de qualquer receita.
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Me lembro de nas primeiras vezes misturar água, uma cebola picada, um pacotinho de tempêro, um pouco de vinagre e aí deixava esquentar para ver no que dava.
Depois colocava essa mistura em cima do arroz que tinha aprendido a fazer, mastigava a primeira colherada e sentia que ela seria a última daquele prato. Olhava para o caldo que tinha preparado e pensava :
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- Mas porquê o meu não dá certo...?
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É só imaginar que se eu fosse o cozinheiro de algum quartel, na primeira refeição que eu servisse haveria uma rebelião armada.
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Hoje cozinho aceitavelmente, para não dizer bem. Aliás posso deixar a modéstia um pouco de lado. Ainda não aprendi tudo, mas a receita de molho que fui aprendendo a fazer me levou a duas conclusões. A primeira que cozinho bem, a segunda que pude entender porque certas receitas são guardadas a sete chaves.
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E me lembrei de momentos na vida em que amarguei pratos pesados e de péssimo tempêro na cozinha da vida, pratos que me foram servidos porque entrei no restaurante errado na hora errada.
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Seja lá como for, acabei saindo do restaurante e na mesma caminhada da vida encontrei um lugar tão bom, com uma cozinheira tão boa e que me serve pratos tão deliciosos, com um tempêro tão cheio de sabor, sentimento e amor que ao mesmo tempo em que me sirvo de todas essas delícias, me lamento por não ter encontrado essa mulher antes.
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Mas esqueço as lamentações e me dou ao prazer de fazer refeições com ela, agraciado de corpo e alma.
E pela janela dos sentimentos ainda tenho uma vista maravilhosa para apreciar. Pelo menos é uma visão assim que temos quando existe muito amor no coração. E muito sabor também ao repartir a vida com uma mulher assim.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

R41 Frio de repente

Assim, sem esperar...
É assim que acontece uma mudança de tempo. De dias recentes onde brilhou o sol bem gostoso para essa madrugada gelada a ponto de me fazer levantar para arrumar outra coberta. Mesmo ao cair da noite quando saí para caminhar já dava para notar a mudança do tempo.
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Mas pensei que era só um vento frio inesperado e tudo estaria bem. Devia ter prestado atenção no cachorro muito pouco à vontade ao contrário da outra noite.
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O certo é esperar por dias de sol, que parece que estão bem próximos.