sábado, 29 de outubro de 2011

R46 Perdi o sono e escrevi

Um dia vai acontecer mesmo...
Na noite de sexta-feira conversei com a mulher que amo. Por uma série de circunstâncias acabamos falando sobre a morte. Um dia vai acontecer com todo mundo. Se por um lado é um pensamento incômodo, por outro dá para levar no humor de vez em quando.
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Sabe-se lá se a gente que está aqui fazendo grandes planos no momento seguinte não estará duro no chão. Foi-se a vida. E a gente nem vai no velório. Ou melhor vai, mas não vai dar muita importância para a coisa toda.
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Seja lá como for, por artes desse pensamento acabei perdendo o sono, que conciliei depois lendo um livro de informática para principiantes. Mas antes de dormir, decidi escrever para o meu amor. A gente nunca sabe.
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E assim escrevi:
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"Minha menina, perdi o sono e então vim deixar uma cartinha para você. Talvez você só possa ler depois de viajar, mas se ler amanhã já é um carinho para você.
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Pensamos nessas coisas da vida e da morte e sim, pode acontecer que eu morra ou você morra e estaremos longe, como estamos agora, mas juntos no pensamento. Fico pensando como me sentiria se você morresse amanhã. Acho que ia me sentir perdido mesmo.
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De vez em quando esses pensamentos nos pegam e é até correto examinar o que sentimos, ver que deixamos a pessoa amada feliz, que nos lembramos dela sempre. É o melhor que podemos fazer.
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Pensei depois que conversamos logo à noite...De repente a minha amada se vai...Vou telefonar para ela...
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Mas te achei animada pelo tom de voz, sei que deve estar cansada com seus afazeres, mas sua voz me pareceu bem. Enquanto você falava, o meu cachorro que acha que é o dono da sala, acho que porque falei nele veio se chegando para me fazer festa, brincar e pular em mim, enquanto eu tentava afastá-lo e é claro, como se enfia em todos os buracos do quintal ele não está propriamente cheirando bem.
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E foi pulando em mim e até me lembrei dessas estórias do animal fazer carinho no amigo porque pressente que a hora do sujeito chegou e coisa de uma semana depois ele cai duro mesmo. Que coisa, fiquei meio sem jeito. Aí fui me despedindo de você e tive que trocar de abrigo e pôr o outro de molho no tanque. Mas esse cachorro é um bom amigo. Espero que seja só festa mesmo.
Decididamente falo como você. Não tenho medo de morrer, mas parafraseando Woody Allen, aquele diretor de cinema, tenho que concordar com a frase que ele tornou célebre: "Não é que eu tenha medo de morrer. Só gostaria de não estar por perto quando acontecesse."
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Minha menina, como te disse por vezes pensamos nisso e é até melhor pensarmos mesmo. Não temos como escapar. Mas esse Deus em quem você acredita tanto errou mesmo. Morremos e depois cheiramos mal daquele jeito? Ora essa, seria melhor se a gente morresse e sumisse como uma bolinha de naftalina ou voasse pela sala como uma bexiguinha furada e pronto, guardavam a gente de lembrança numa moldura ou gaveta.
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Mas se a Morte vier quando estivermos juntos, saiba que com todo amor me colocarei do seu lado e sem medo direi para a Morte:
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- Por favor, as mulheres primeiro...
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Um beijo em seus olhinhos e na sua boquinha com amor."

domingo, 23 de outubro de 2011

R45 A eterna procissão

Crenças, livros sagrados e castigos...
Há muito tempo atrás deixei de acreditar em Deus. Religiões, preceitos tidos como sagrados, a Bíblia e todas essas coisas aparecem aos olhos de quem descrê de tudo isso como uma curiosa e intrincada racionalização de coisas que nunca foram vistas mas são acalentadas pelo sentimento dito cristão. É normal.
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Aos fiéis resta acreditarem em preceitos sem pé nem cabeça. E de certa forma fazer de conta que certas coisas nunca foram ditas ou escritas, para que o culto na igreja não degenere em tumulto, pancadarias e mortes. Vejamos alguns deles, escritos na Bíblia e gravados a ferro e fogo na alma dos cristãos.
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Descrito como um deus de amor, o Deus assim chamado pelos cristãos reservava aos deficientes físicos na época de Moisés, uma discriminação cruel. Dúvidas? Este trecho da Bíblica, em Levítico, capítulo 21, versículos 18 a 23 deixa tudo claro:
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“Há defeito nele. Não se pode aproximar para apresentar o pão de seu Deus. Pode comer o pão de seus Deus, das coisas santíssimas e das coisas sagradas. No entanto não se pode chegar á cortina e não se pode aproximar do altar porque há defeito nele e não deve profanar meu santuário, pois eu sou Jeová que os santifico.”
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É duro mas é verdade. E a procissão continua sob palavras mais inclementes do que o sol de uma tarde de verão.
O Deus de amor, carinhoso e amoroso com seus filhos e que diz amar tanto, também reservou o seguinte castigo para algumas crianças que apenas riram do seu profeta Eliseu em sua inocência infantil, como é mostrado na Bíblia em II Reis, capítulo 2, versículos 23 a 25:
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“E dali passou a subir a Betel. Quando subia pelo caminho havia uns pequenos rapazes que saíram da cidade e passaram a fazer troça dele e lhe diziam: Sobe careca! Sobe careca. Finalmente ele se virou para trás e os viu e invocou sobre eles o mal em nome de Jeová. Saíram então da floresta duas ursas e dilaceraram quarenta e dois meninos deles. E ele seguiu de lá para o Monte Carmelo e de lá para Samaria.”
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Que exemplo de amor. Um Deus amoroso responde prontamente à invocação do mal e depois de cometida a atrocidade, seu profeta, que com certeza devia estar pensando em dizer na próxima cidade em como esse deus é amoroso, dá as costas para tudo como se nada tivesse acontecido. E quanta bondade e compreensão esse Deus revela. Quarenta e duas crianças mortas por esse deus só por causa de uma brincadeira infantil. Se fossem adultos sabe-se lá o que teria acontecido, no mínimo a erupção de um vulcão.
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Se bem que na Bíblia, segundo os cristãos a própria palavra de Deus, conta no livro de I Samuel, capítulo 5, versículos de 9 a 12 que, aborrecido com suas criaturas, Deus decidiu puni-las da seguinte forma:
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“E sucedeu que depois de terem feito dar a volta até lá, a mão de Jeová veio a estar sobre a cidade com uma confusão muito grande e ele começou a golpear os homens da cidade, desde o pequeno até o grande, e começaram a arrebentar neles hemorróidas.”
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É óbvio que as farmácias daquela época devem ter tido um dia de grandes vendas de pomadas para aliviar a dor dos punidos pela ira divina. Talvez pelo pressentimento da Lei Maria da Penha, Jeová decidiu poupar naquele dia as mulheres da cidade. E aguente ouvir o padre ou pastor recitando esse trecho da Bíblia sem rir.
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Se bem que padres e pastores usam de um truque milenar. Essas partes desagradáveis do seu livro santo jamais são ditas num sermão ou exortação. E toca a cobrar o dízimo, que sem isso, nada funciona, nem a palavra divina.
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E ao crente convicto de tudo isso, resta apenas pagar e acreditar piamente em tudo o que seus chefes espirituais dizem ou então que ele lê no chamado livro sagrado. Como disse Martinho Lutero em plena Idade Média, para acreditar, temos que arrancar os olhos da nossa razão.
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Ou se faz isso ou então o Deus amoroso dos cristãos lhes reserva a eternidade dentro do fogo do inferno.
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Que variado leque de bondosas opções esse amoroso Deus oferece.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

R44 Não fizemos tudo

O tempo é assim mesmo...
Eu e minha mulher amada combinamos muita coisa da última vez. E não fizemos algumas coisas, mas o tempo, acreditem, nesses casos é assim mesmo. Se fazemos alguma coisa que tínhamos combinado, vamos pensar depois que não fizemos outra e assim por diante. Mas estivemos juntos, desfrutamos da companhia um do outro, ela me confiou seu amor, seus beijos, me contou das dores da vida batendo em seu coração e lhe dei amor, carinho, atenção, tudo que o que um casal de amantes pede numa relação.
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E um pequeno presente, um bule de louça com flores bem desenhadas, presentes que a gente dá para ficar de recordação, sempre que for usado. E fizemos nosso passeio de sempre numa estrada que leva até a floresta que conhecemos. Coisas assim, pequenas, detalhes, mas que fazem a felicidade de pessoas que estão juntas e que se amam.
A volta, o aconchego da casa, essas coisas todas, o amor de corpo e alma, tudo isso leva a outros momentos que nos fazem esquecer de outros que havíamos combinado, mas amar é assim mesmo.
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Lá pelo meio do ano passado encontrei numa locadora o filme "O morro dos ventos uivantes" um clássico do romance, uma estória de amor, triste, mas como muitas que vemos por aí. E deixei na estante esse tempo todo e aí dessa vez assistimos o filme.
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Quem não chora vendo um filme assim? Eu choro, claro, apenas as lágrimas escorrem. Ela viu e me abraçou. E por momentos assim, acabamos não fazendo outras coisas que tínhamos pensado
Fica sempre alguma coisa por fazer, mas se tivéssemos feito tudo, alguma outra coisa ia ficar por fazer também. E aí pensamos nisso depois, mas sabemos mesmo que depois vamos fazer tudo o que combinamos. É como caminhar por uma estrada cheia de belezas. Podemos ir até alí ver uma flor, mas deixamos de ver uma árvore do outro lado, podemos ficar na beira de um córrego mais adiante, mas deixamos de ver uma pequena trilha do outro lado.
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Sempre fica alguma coisa por fazer, mas amar é assim mesmo, é sempre querer ter alguma coisa a mais para fazer com quem você ama.