sábado, 26 de novembro de 2011

L07 Jesus e seus ouvintes

Um apóstolo minucioso...
Confesso como ateu que ouvir a emissora católica Rádio Canção Nova é por demais interessante. As pregações de padres que supõem os ouvintes, nunca foram casados e que falam com total desenvoltura sobre como viver o casamento deixam qualquer um a pensar se o termo "mulher de padre" tem um fundo de verdade mais espalhada por várias paróquias do que podemos imaginar.
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Em certas pregações sobre o sexo, os padres se retiram de forma conveniente e dão a vez a pregadores leigos, esses sim casados e que sempre dizem que deve-se viver o sexo de forma santa. O que será viver o sexo de forma santa? Ficamos sem saber. Já os padres, confrontados com o fato de que detalhar as relações sexuais levaria a conclusões dos ouvintes de que ou eles veem filmes de conteúdo sexual explícito ou pior ainda, fazem o sexo por aí de forma oculta deve ter motivado sua retirada estratégica dos debates e das preleções.
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Entre certos temas, os conselhos sobre evitar e isso por ordem divina, qualquer meio anticoncepcional são carregados de exaltação ao dever do casal de povoar a terra com filhos e mais filhos, despesas por conta deles, os conselheiros divinos aqui não explicam como cuidar da filharada depois. Seja lá como for, com a esmagadora maioria dos casais católicos com apenas dois filhos leva a pensar que antes da palavra divina vem o tamanho do bolso do casal, que os dois consideram entre si sem levar em conta o que o padre pensa. Uma das coisas interessantes é a pregação, essa eternamente repetida pelos padres sobre o casamento indissolúvel e a resposta de Jesus aos fariseus que o questionaram sobre o divórcio, já antes estipulado por Moisés e que sempre foi admitido pelos judeus e pelos protestantes sem problemas.
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No livro de Marcos, capítulo 10, versículo 9, selando sua afirmação de que o casamento era indissolúvel por ordem divina, segundo a anotação do discípulo Marcos, Jesus falando sobre o casamento indissolúvel afirma que:
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"Portanto o que Deus pôs sob o mesmo jugo, não o separe o homem."
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Assim ficou segundo Jesus, selada a sorte dos que casam, obrigados a viverem juntos para sempre. Talvez por isso Jesus preferiu não se casar e cientes da confusão que é o casamento, seus discípulos e os padres católicos que vieram depois também preferiram nunca se casar.
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Mas Jesus admitia sim e de forma inequívoca o divórcio. Segundo as anotações de Mateus, um discípulo talvez inconveniente por escrever fielmente tudo o que ouvia de seu mestre, presente na mesma ocasião, ele deixou escrito no capítulo 19, versículo 9 que Jesus falou da seguinte forma:
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"Eu vos digo que todo aquele que se divorciar de sua esposa, exceto em razão de fornicação, e se casar com outra, comete adultério."
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Pronto. Está aí o trecho incômodo do discípulo mais incômodo ainda, ao que tudo indica mais detalhista do que seus colegas ao anotar as palavras do mestre. E é esse trecho que escrito e reescrito como parte da palavra divina, sempre deixa à vista o que os padres fazem questão de ocultar, que Jesus admitia sim de acordo com as leis de Moisés que o casal podia se divorciar desde que a mulher tivesse cometido fornicação, que nada mais é do que o velho sexo fora do casamento. Coisa que os casais apaixonados sempre fizeram sem esperar pela palavras do padre.
Estava para ouvir mais coisas, mas ora essa, começou a chover e a rádio saiu do ar. Com certeza os padres e locutores não rezaram com suficiente fé para manter a propagação da palavra divina.

domingo, 20 de novembro de 2011

L06 Acredite se quiser

É assim a chamada fé cristã...ou qualquer outra...
Por esses dias conversando com um colega sobre religião percebi ao longo da conversa que ele deixava à vista algumas dúvidas sobre a crença, sobre fatos religiosos, sobre os personagens da Bíblia, dúvidas que qualquer cristão tem na medida em que o tempo passa, ele cresce e deixa de ser apenas uma criança obediente na missa e aí passa a fazer perguntas, no início a si mesmo, depois a outras pessoas.
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Como é normal, com uma religião já sedimentada na mente e nos costumes, a maioria segue a fé. Esses outros duvidam. No início guardam as dúvidas para si mesmos e em alguns poucos casos passam a considerar inaceitáveis certos trechos bíblicos. É o primeiro passo para deixar de acreditar nesse imenso, caótico e absurdo edfício religioso, tão absurdo que Martinho Lutero dizia que para acreditar, para ser um bom cristão, o seguidor do cristianismo tem que arrancar os olhos da razão, tem que matar em si mesmo qualquer discernimento.
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Eu mesmo deixei de acreditar em Deus há muitos anos atrás em boa parte porque comecei a ler a Bíblia por mim mesmo, depois de uma peregrinação por várias religiões onde fui constatando que tudo era uma racionalização de desejos humanos, uma espécie de amparo teológico contra os medos que afligem qualquer pessoa, com a criação de um Deus e um Messias que nada mais eram do que lendas corporificadas em religiões, criadas em épocas ancestrais da humanidade e recolhidas pelos judeus em suas passagens ora como saqueadores, ora como escravos pela região do Oriente Médio e depois passadas por eles aos cristãos, que se apossaram de seu livro santo dizendo-se o novo povo escolhido. Nos credos cristãos que resultaram disso, sempre foi milenar a leitura dos trechos selecionados pelos padres e pastores sempre ocultando os trechos absurdos de maiores discussões. Qualquer um que tenha frequentado cultos religiosos católicos ou evangélicos sabe disso, que as pregações são a eterna repetição de trechos bíblicos por assim dizer, selecionados pelos pregadores para não levantar dúvidas. Muitas pessoas andam a vida toda com a Bíblia debaixo dos braços sabendo apenas de algumas poucas páginas, eternamente repetidas pelos pregadores. Quando uma pessoa se volta para o ateísmo por finalmente ver o absurdo das religiões, é taxada de má, de dissoluta e triunfo dos triunfos, de condenada à perdição eterna. Triste engano dos fiéis. Como qualquer um deles somos sujeitos a más ações, a boas ações, a uma vida como qualquer outra, mas sem ter medo de perdição eterna, pois para um ateu não existe nem perdição nem salvação. Existe apenas a liberdade de viver a vida como ela é, sem mérito por crer ou demérito por não crer, até o fim que para todos vai chegar. Fora do edifício religioso, a pessoa consegue ver todas essas crenças como uma frágil luz no escuro, dando apenas uma visão distorcida das coisas. E para manterem seus seguidores em obediência, padres e pastores aumentam os medos e crendices dos seus fiéis, aterrorizando seus já trêmulos seguidores com incessantes estórias de perdição eterna, fogo eterno, torturas eternas e coisas assim.
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Para os cristãos católicos fica também o peso de entender como seus piedosos padres tem se envolvido em tantos escândalos sexuais em todos os países do mundo católico, ao mesmo tempo em que pregam castidade e abstinência, escândalos esses que são coisa tão antiga quanto a pregação católica, mas só nos anos recentes mais noticiados. Já os pastores evangélicos, que pregam o exemplo da vida despojada de seus amados profetas, preferem deixar essa vida para seus fiéis e protagonizam escândalos financeiros em suas seitas capazes de deixar qualquer um estarrecido, menos seus fiéis que tanto católicos como evangélicos sempre perdoam seus pregadores.
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No ano passado eu conversava com um primo evangélico que sabe que sou ateu e me disse que 1 bilhão e meio de pessoas que seguem o cristianismo não podem estar erradas. Eu disse que ele deveria considerar a mudança de religião pois outro 1 bilhão e meio de pessoas que seguem o islamismo também não podem estar erradas. Sem contar os outros 3 bilhões de habitantes do mundo que se dividem entre hinduísmo, budismo e crenças diversas. No meio disso tudo uns 20 milhões de judeus se dizem, eles sim, o povo eleito por Deus e seguidores da religião certa. Enfim, cada religião, independente do seu número de seguidores se diz a verdadeira religião e seus seguidores os verdadeiros escolhidos de Deus. O resto vai para o Inferno.
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Assim vez por outra vou deixar aqui algumas passagens bíblicas que são realmente um motivo de embaraço para os pregadores cristãos. Uma coisa como a pregação resoluta de Timóteo falando com autoridade sobre a inferioridade e submissão da mulher como preceito divino é até suave, frente a outros absurdos elevados à condição de palavra divina.
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As incoerências e contradições nas pregações de Jesus Cristo também merecem um citação ocasional. O cristão que por acaso esteja lendo estas linhas logo vai com a família para a igreja? Pois estando com ela deixa de ser digno do seu amado Jesus, como ele mesmo disse, mas isso os padres e pastores sempre deixam de lado.
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Não é fácil mesmo, com todo o peso social e psicológico que as congregações jogam sobre as pessoas ter a coragem de duvidar. Mas é um grande conforto, quando uma vez livres de crendices, medos e superstições, a pessoa consegue encarar um mundo novo, fora dessa procissão no escuro.

domingo, 13 de novembro de 2011

L05 A voz do Espírito Santo

Inacreditável, mas divertido...
Como ateu eu não deveria sintonizar meu rádio em emissoras religiosas tanto evangélicas como católicas, mas confesso que é divertido. Afora alguns raros momentos de pregações bem articuladas, o ouvinte desses programas, se não for crente, analisa a parcialidade das religiões em certos momentos e se diverte em outros. Sempre embalados por Deus, Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, como eles mesmos dizem, os pastores e padres católicos embrenham-se na oratória religiosa com os mesmos discursos, apenas variando na religião seguida.
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Em pregações evangélicas e católicas, o furor, a raiva dos pastores e padres contra o assim chamado Diabo se traduz em pregações e exorcismos que devem fazer o pobre microfone se curvar de medo de ser atingido por algum murro que o pastor ou padre esteja dando no Diabo. Nesses momentos são pura fúria e aos poucos vão amansando a voz. Qualquer um que esteja habituado a ouvir essas rádios sabe porque. Chegou o grande momento. Logo estarão falando que tem que pagar o aluguel, tem que pagar a emissora e você, ouvinte, fiel, amigo de Deus, não quer que a obra de Deus pare, não é?
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Então aí ele fala de como colaborar, passa o número da conta dos bancos que recebem as doações e por aí vai. É difícil acreditar que padres ou pastores, capazes de expulsar o Diabo com tanta facilidade, capazes de materializar bençãos e milagres de cura e libertação como dizem, sejam incapazes de materializar cédulas de dinheiro na carteira da igreja. Enfim, o poder divino tem limites e quando se trata de dinheiro, aí fica bem limitado mesmo. Cruelmente vê-se então que a Deus tudo é possível, menos deixar de pedir dinheiro a seus fiéis.
Enquanto isso a massa de fiéis põe a mão no bolso sem pestanejar e a arrecadação cresce a cada dia e constatamos que sem dinheiro não tem milagre. É duro mas é verdade e não há padre ou pastor que consiga mudar isso. E acima de tudo, quem disse que eles querem mudar isso?
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Outra coisa comum aos evangélicos das ínumeras rádios existentes e aos católicos carismáticos que se ouve na divertida rádio católica Canção Nova são as incorporações ou frases inspiradas pelo Espírito Santo, que segundo os pregadores evangélicos e padres, desce até as reuniões de fiéis católicos e evangélicos e lhes transmite inspiração divina, mas de acordo com cada seita, é claro, e assim o Espírito Santo revela um notável espírito apartidário. Diz aos evangélicos que eles estão certos e diz igualmente aos católicos que eles também estão certos. Assim, tomados pelo poder do Espírito Santo, os mais conhecidos pregadores evangélicos e católicos nos transmitem palavras inspiradoras, segundo dizem, mas num dialeto que só encontra paralelo nas reuniões de cristãos. Tradutores não existem. Conseguiram até traduzir os pergaminhos escritos em línguas extintas que depois chamaram de Bíblia, mas traduzir o que o Espírito Santo fala, isso ninguém consegue. Ou não pode, o que explica tudo.
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Ouvindo atentamente o rádio, tanto de pastores evangélicos como de pregadores católicos, tudo o que o Espírito Santo tem a nos dizer se resume nas seguintes sílabas, repetidas à exaustão:
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"Iálábá-lábáliê-láláriê" ou "Alálálálá-bá-luluê" ou "Iesh-málábá-lá-lá-bá" ou "Ilálálá-ulê-láláiê"
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Segundo os pregadores católicos e também evangélicos, essas frases resultam da milagrosa comunicação do Espírito Santo com seus fiéis. Porém, é claro, sabendo da descrença que isso iria provocar, saem-se com a bem engendrada explicação de que na verdade isso é o dom de línguas conforme explicado na Bíblia, quando o Espírito Santo deixa a todos arrebatados.
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E mais, milagre dos milagres. Não é preciso entender o que o Espírito Santo diz, nem é preciso sequer tentar traduzir o que seus seguidores dizem aos pulos e aos berros. Quando ele faz os pregadores e fiéis darem pulos e gritarem sílabas absurdas, ele na verdade está passando para todos os fiéis e seus pregadores o sentimento do que eles realmente devem fazer. Mesmo sendo incapazes de dizerem o que foi que o Espírito Santo disse que deverão fazer, eles acreditam que o farão de forma inconsciente na medida em que viverem suas vidas. Por isso não é preciso entender o que o Espírito Santo disse com essas sílabas totalmente sem sentido.
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Seria maravilhoso se os pastores evangélicos e padres católicos realmente acreditassem nisso e pedissem dinheiro ou se dessem o número das contas dos bancos para os fiéis com a seguinte frase inspirada pelo Espírito Santo:
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"Iálábá-lábáliê-láláriê" ou "Alálálálá-bá-luluê" ou "Iesh-málábá-lá-lá-bá" ou "Ilálálá-ulê-láláiê" Mas em todas as pregações, digamos assim, financeiras, eles deixam o Espírito Santo de lado e na hora de pedirem dinheiro, o fazem em dialeto bem compreensível, fazendo questão de repetir várias vezes na mais comum das linguagens do mais comum dos mortais, o nome do banco onde a igreja tem conta, o número da conta e que dia pagar o boleto. E o mais importante, dizem o mínimo que deve ser doado.
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Sem dúvida, nesses momentos das pregações mais apegadas às coisas materiais que proveem o pagamento das contas de água, luz, o salário, a marmita e o aluguel da casa dos padres, o Espírito Santo e seu dom de línguas incompreensíveis são deixados de lado sem maiores cerimônias.
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Ou isso ou então o Espírito Santo se recusa a tirar dinheiro do bolso. Isso sempre fica por conta dos fiéis.