quinta-feira, 29 de março de 2012

R49 Visão

Nos sentimentos é assim...
Muitas vezes, quando relembro de algumas passagens da vida, é essa imagem que me vem na mente. Nem tudo foi assim, mas as partes lindas, que me emocionam ao extremo, me levam em espírito para um lugar assim.
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Nesses momentos é um sentimento maravilhoso.
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Vellker
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sábado, 24 de março de 2012

R48 Como fui esquecer?

E agora lembro toda hora...
É assim, como numa tarde de chuva quando sentimos uma melancolia enorme
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Passou das dez da noite e ainda fico me perguntando a cada dez minutos como fui me esquecer? Eu tinha combinado ontem de conversar com a mulher que amo, hoje de tarde e me esqueci, apesar de me lembrar dela o tempo todo. E me vem de novo a pergunta. Com fui me esquecer?
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Ontem quando conversei com ela, para não esquecer, tratei de acertar o alarme do relógio que fica em cima da geladeira. Aí não esqueceria e pronto.
Relógios mostram as horas, mas não sabem as horas
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Só não prestei atenção num detalhe. O número 2 para o relógio é a mesma coisa que duas horas da madrugada e não catorze horas da tarde como eu distraído pensei na hora em que o acertei. O resultado foi que ele fielmente tocou às duas da manhã enquanto eu dormia a sono solto no meu quarto.
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As duas da tarde lá estava eu trabalhando num pequeno galpão que tenho, arrumando incontáveis coisas que há muito tempo estavam na maior bagunça. Enquanto isso, meu amor olhava para uma tela onde meu nome permanecia sumido. Bem de tarde, bem suado, entrei aqui para ver se tinha alguma mensagem. E tinha, a dela, onde pelas palavras transparecia a tristeza que ela sentiu. Depois falei com ela no telefone, mas eu havia perdido a hora, distraido de tudo com essa arrumação.
O coração de uma menininha triste, é o que me vem na mente todo o tempo
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As horas avançam e continuo me perguntando o tempo todo como fui me esquecer? E relembro dessa mulher, revejo seu rosto quando nos encontramos, a alegria quando nos abraçamos e o olhar de tristeza quando chega o momento da separação.
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Tudo o que consegui fazer hoje com meu esquecimento foi isso, deixar seu rosto assim, com essa marca de sentimento. É igual ao rostinho de tristeza de uma menininha, quando alguma coisa não deu certo ou quando escorregou e machucou o joelhinho. E é aí que tenho que cuidar dessa minha menininha.
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Apesar da distância e dos desencontros, me lembro da imagem da menininha e com todo sentimento volto a pensar nessa mulher. Me lembro do céu claro e estrelado que vi há alguns minutos e penso no quanto amo essa mulher.
Existe uma coisa linda no brilho das estrelas, tão linda quanto pingos de amor
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Mesmo com esse esquecimento, essa distração, sei que existe um jardim em seu coração. E com todo esse sentimento que tenho, assim, mesmo distante, com toda a força desse sentir lhe mando uma chuva de amor.
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É certo que existem mais pingos nessa chuva de amor do que estrelas no céu.
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Vellker
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quarta-feira, 14 de março de 2012

R47 O Oscar também enferruja

Nem consigo acreditar...
O Oscar também enferruja. Pelo menos o que um dia achamos que valia um Oscar em nós
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Com a última cerimônia de entrega do Oscar, decidi dar uma passada nas imagens de filmes memoráveis e que mostravam feitos heróicos dos vários personagens interpretados por ninguém menos do que Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Ora, nas décadas de 80 e 90, eles protagonizaram sempre personagens do bem, fortes, invencíveis e inspiradores de milhões de cinéfilos.
Heróis imbatíveis, invencíveis e que julgávamos eternos. No hospital fazendo exames. Não é possível
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O problema é que logo depois de navegar por algumas imagens dos melhores filmes dos dois, topei com a notícia e a imagem deles internados no mesmo hospital para exames. Coisas da vida. Cheios de tubinhos de soro e medidores disso e daquilo, os nossos heróis de carne e osso que enfrentavam batalhões de inimigos e monstros alienígenas, cheios de machucados mas ainda em pé e atirando bravamente e sempre vencendo no final, mostravam que são realmente de carne e osso. Como o tempo é cruel.
1985. Que sujeito não saia do cinema pensando em treinar como um Rambo? Já 27 anos depois, é outra coisa
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Em 1985 todos em silêncio viam Sylvester Stallone na pele de Rambo entrando destemido num campo de prisioneiros no Vietnã do Norte, onde maldosos soldados inimigos o faziam retornar a uma guerra que vivera há tanto tempo. Pior ainda, russos mais maldosos ainda tornavam tudo mais difícil para o nosso herói, que no final conseguia derrotar todos os inimigos e nos levava para um final feliz.
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Depois de saírem do cinema, boa parte dos espectadores procurava a primeira academia de musculação pensando em se olhar no espelho algum tempo depois, sem dever nada à figura musculosa do herói que alguns minutos antes deixara todos inspirados.
1987. Depois de ver o filme, qualquer um saía do cinema procurando a primeira porta de academia de musculação. 25 anos depois procuramos anti-inflamatórios na farmácia
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Em 1987 quem não ficou se retorcendo na cadeira quando o alienígena caçador de seres humanos, maldosíssimo e perverso caminhou os últimos passos para enfim matar o major Alan, interpretado por Arnold Schwarzenegger, último sobrevivente de todo o pelotão, mas que ainda assim tinha uma última cartada para se salvar?
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Todos os admiradores do herói saíam do cinema procurando novamente a porta da academia de musculação, onde tinham entrado dois anos antes, feito várias perguntas, tinham prometido começar no outro dia e nunca mais tinham voltado, mas dessa vez saíam do cinema com a firme determinação de se matricularem mesmo. Dessa vez era verdade, sério mesmo.
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Seria o fim daquela vida de só erguer copo de refrigerante e balde de pipoca no cinema enquanto os heróis davam o sangue lutando, eram o que os mais afoitos pensavam enquanto caminhavam resolutos até a academia. Pena que a lanchonete ficasse no meio do caminho, com todos aqueles salgadinhos e sanduíches à mostra no balcão. Ora, que mal faria uma paradinha só, a última para comer mais uns quibes, pastéis e beber mais um copão de refrigerante. Era só a despedida de tudo aquilo.

1982. Oito anos antes, Macgyver e suas peripécias nos faziam pensar em entrar para algum serviço secreto
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Relembrando essas coisas, no meio disso tudo, pensando em como realmente o Oscar pega ferrugem, aproveitei para olhar alguma coisa sobre Macgyver, interpretado por Richard Dean Anderson, que se não era um Hércules invencível e ainda por cima era do batalhão de heróis anti-armas e que desarmado era capaz de improvisar as mais inacreditáveis engenhocas e truques usando de cadarço de sapatos para desativar uma mina até produtos de limpeza para imobilizar um assaltante, nos fazia acreditar que sim, seríamos capazes também de fazermos truques geniais como ele. Algum dia, é claro, em alguma emergência. Enquanto isso só o cadeado enroscado nos deixava para fora de casa e tínhamos que tocar a campainha para abrirem a porta. Mas sem dúvida tínhamos essa genialidade do Macgyver dentro de nós, reservada para momentos cinematográficos.
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E depois, em pleno sábado, dia de bailinhos e coisas assim, ainda por cima podíamos ao menos tentar deixar o topete parecido com o dele antes de irmos para a praça dar um passeio e ver as garotas, muitas das quais hoje vemos com o número do manequim vários números acima do que elas usavam na época. E bota número nisso. Pensando nisso tudo, preferi nem olhar as atrizes belas e sensuais daquela época para não ter nenhuma surpresa parecida.
2012. Enfim, o tempo podia ser mais gentil na hora de fazer marcas. Mas Macgyver parece bem feliz
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E não é que aparece a foto do mesmo Macgyver, na mesma situação. Onde foi parar aquele herói genial, de corpo esbelto e mais ágil do que capoeirista? Em todo caso, visitando o Rio de Janeiro, parece feliz e bem resolvido com a vida. Se sumiu o Macgyver que víamos no seriado, pelo menos parece que o sujeito que dá a entrevista dizendo que adorou o Brasil não tem do que reclamar da vida.
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É verdade, mesmo que tenha aumentado vários quilos no peso e vários números no manequim, ao que tudo indica, a vida anda às mil maravilhas para ele. Melhor assim. Um final feliz. Já é grande coisa.
Bem, não adianta fazer isso. O espelho lembra o nome de outro filme, o "O fiel camareiro", de 1983. Só diz ou melhor, só mostra a verdade. O duro é olhar para ela
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Vou até o armário, abro a caixa de fotografias e decido olhar para minha foto de 1983 e me comparar no espelho. Nem consigo acreditar. O Oscar pega ferrugem mesmo ou pelo menos o que achávamos que existia de Oscar dentro da gente. Não acredito que fiquei assim. Bem, nem adianta dar um murro no espelho, uma idéia que me passa pela mente.
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Ele nada mais faz do que apenas refletir o que colocam na sua frente. A gente é que não quis ver esse tempo todo. Que coisa. E depois desses anos todos sem ir na academia de musculação, se eu der o murro e perder para ele, aí é que desanimo de vez.
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Vellker
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sábado, 10 de março de 2012

L09 Pregador de rádio

Em todo caso, ele sempre tenta...
E a platéia de fiéis toca a acompanhar o pregador ardorosamente
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Há alguns dias atrás, numa noite dessas em que o sono demora a chegar enquanto o tédio ronda os pensamentos, liguei meu radinho na rádio de católicos carismáticos "Canção Nova". Nada por nada pensei que alguma pregação tipo Espírito Santo estaria sendo irradiada e isso seria interessante. Mas era uma pregação normal, de um pregador bem entusiasmado, não lembro o nome, falando em profusão de milagres. Em tom de pregador evangélico, já que católicos carismáticos numa pregação são indistinguiveis de pastores evangélicos, o pregador continuava falando que tantos milagres estavam acontecendo que fiquei imaginando que talvez estivesse pregando dentro de um hospital, curando a todos de uma só vez.
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Mas era a típica pregação em que o pregador fala de forma incessante que milagres estão acontecendo enquanto que a platéia de fiéis entoa cânticos e aleluias e recita os refrões supostamente vindos diretamente do Espírito Santo, que se traduzem num palavreado incompreensível, que eles dizem ser a língua do Espírito Santo, só entendida por ele, é claro.
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E em meio à sua pregação, com tal fervor que eu já imaginava o pregador prestes a decolar em voo direto para o Céu, eis que ele começa a recorrer os velhos estratagemas dos pregadores, sejam eles católicos ou evangélicos. Lógico, as duas religiões não falam isso que pega mal, mas seus pregadores nos dias de hoje tem estudos de psicologia de massas e pregam com um olho na Bíblia e com outro na reação dos seus fiéis. E usam e abusam de um recurso que primeiro os evangélicos emprestaram do espiritismo, no caso uma suposta clarividência e que os católicos carismáticos copiaram direitinho.
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Consiste no truque de primeiro deixar uma platéia animada, sugestionada, como uma torcida de um time de futebol e depois o pregador entra com sua suposta capacidade de saber o que acontece pelo mundo afora.
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E aí ele força as expressões do tipo "você que está com câncer, Deus está te curando agora", "você, que sofreu um infarto, o Espírito Santo está restabelecendo seu coração agora", "você que está sem conseguir andar, Jesus está te tocando agora" e por aí ele vai não só deixando a platéia mais sensibilizada, como ouvintes doentes e aflitos, que mesmo que não tenham as doenças que ele fala, já sentem que pelo menos Deus deve estar olhando para eles agora. E por aí todos ficam felizes. Já é uma grande coisa pelo menos.
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Mas o que se nota nessas pregações é que o pregador sempre fala em milagres bonitos, que tenham um certo charme, um razoável e bem acabado apelo na imaginação dos fiéis. Isso que também é ensinado quando começam a serem treinados para suas pregações. Os santos que ele invocar lá no palco, além de Deus, Jesus e o Espírito Santo, só podem e só devem tomar parte em milagres assim, de classe e elegantes e que tenham apelo até mesmo cinematográfico.
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Nada de milagres pelos quais milhares de fiéis esperam de forma verdadeira e ansiosa, mas que são, na interpretação dos professores de pregação para as massas, desprovidos de apelo visual, que são por assim dizer chulos, escatológicos mesmo.
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Ou como reagiriam os fiéis se o pregador em alto e bom som dissesse que "você que está com hemorróidas, Jesus está tocando em você agora"?. Pronto, com um milagre desses, qualquer imagem de uma intercessão milagrosa em tons grandiosos que os fiéis poderiam ter na pregação cai por terra alí mesmo. Isso se não começarem a dar risadas. Se bem que é provável que boa parte dos crentes esteja esperando por esse milagre mesmo. Mas não tem charme, é escatológico, portanto está banido da pregação.
Hemorróidas? Quantos fiéis realmente não esperam por esse milagre?
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Muitas outras situações que afligem o fiel que realmente espera por uma solução milagrosa, infelizmente para os que sofrem desses males, estão no índex de milagres banidos pelos bispos. Um fiel jamais vai ouvir o pregador dizer quase em extâse que "você, que sofre de diarréia crônica, o Espírito Santo está te curando agora". Que milagre mais constrangedor.
Diarréia? É a aflição de muitos fiéis, mas este milagre está banido
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E assim, mesmo com uma legião de fiéis penando com esses problemas e esperando mesmo por um milagre, o pregador passa ao largo desses casos e cita apenas os problemas de saúde que dariam até mesmo um filme no melhor estilo do famoso seriado "Plantão Médico" com seus médicos charmosos e competentes. Ou no mínimo com a genial irreverência do "Dr. House" que sempre salva seus pacientes. Deus, Jesus e o Espírito Santo podem participar apenas e tão somente de milagres dramáticos, como milagres cardiológicos ou neurológicos. Esses outros males constrangedores ficam para o médico do pronto-socorro ou para o farmacêutico que todos conhecem na cidade.
A imagem de milagres que o pregador cita é assim, com charme de cinema
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Estas divindades, razão suprema da pregação, ficam assim preservadas para milagres da cardiologia ou da neurologia, que são milagres mais nobres para a imaginação dos fiéis e mais motivadores. Já a especialidade de proctologia que leva a imaginação dos fiéis a visualizar cenas risíveis ou outras do mesmo naipe, ficam miseravelmente banidas da pregação dos milagres.
E no meio de todas essas pessoas, pode estar Cauã, contando o dinheiro do prêmio
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E aí o pregador recorre a outro truque para continuar sensibilizando seus ouvintes. De sua clarividência, aparece um tal de Cauã. O pregador que em sua clarividência foi capaz de citar vários "vocês" com as respectivas doenças, dessa vez se atém apenas a dizer que "que você, que se chama Cauã e está passando por uma provação". O sujeito, que nas palavras do pregador está passando por uma provação, não precisa ficar aflito. Deus está tocando nele agora mesmo.
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Sabe-se lá quantos Cauãs podem estar ouvindo o programa a estarem com algum problema. E sabe-se lá quantos Cauãs também podem estar ouvindo o programa no rádio do carro zero quilômetro que acabaram de ganhar num sorteio ou melhor ainda, de comprar depois de terem depositado o prêmio da megasena em suas contas. Em todo caso essa pregação sensibiliza os ouvintes.
A verdade é que sem dinheiro não tem milagre, até Jesus deixa a rádio fora do ar
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E algum tempo depois, toda feliz, uma das locutoras do rádio diz que onde tem uma rádio assim, onde você ouve a programação religiosa sem nenhum intervalo comercial? Os fiéis devem concordar. Mas talvez esquecidos que todo mês pagam nos bancos os boletos de contribuição para a "obra da fé", no caso, dinheiro, mesmo, sabe-se lá quantos milhares de reais no total que financiam desde o pagamento do porteiro até o pagamento da locutora toda feliz, porque se a fé move montanhas, infelizmente não move o pagamento do aluguel, água, luz, instalações e todo o pessoal que trabalha dia e noite e espera os salários no fim do mês. Só com a fé, tudo isso não se move nem um milímetro.
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Sem contar a contínua exortação para os fiéis darem ouro. Sim, locutores e pregadores a todo momento falam "daquele ouro que você tiver em casa e puder doar", peças de ouro, coisas do tipo um pequeno anel, uma pequena jóia que não é usada há anos, mas que juntas aos milhares e derretidas viram um belo tijolo de ouro que vai parar no mercado bancário que cuida de transformá-lo em dinheiro. Sem isso, até o Espírito Santo pára de cantar.

Relembrando o romance de Jorge Amado, é mesmo interessante a pregação da tenda dos milagres.
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Vellker
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quinta-feira, 8 de março de 2012

D36 Informação aos leitores

Recompilação do índice geral de textos publicados...
Após recuperar o acesso ao antigo índice de textos publicados, pude também recompilar e dividir a listagem antiga de textos publicados, deixando o acesso acertado através de links que levam às publicações em separado dos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012 ainda em curso.
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É um pequeno sistema de links para guiar o leitor que queira consultar os textos já publicados com acesso direto. Os links principais e que levam aos índices de cada ano estão localizados na barra superior do lado direito na forma mostrada abaixo: Agradeço aos leitores que frequentam este espaço e com este pequeno acerto a intenção é facilitar a leitura dos artigos e a pesquisa em outros mais antigos, à vontade do leitor. Nos temas políticos, mesmo coisas de muito tempo atrás se relacionam com as de hoje, de uma forma ou de outra.
Mais uma vez agradeço a presença e comentários dos leitores e desejo uma boa leitura.

sábado, 3 de março de 2012

D35 São Paulo não é Estocolmo

Mas os ciclistas paulistanos continuam achando que é...
Morreu ontem na Avenida Paulista mais uma ciclista paulistana, no clássico roteiro desses acontecimentos. Andando de bicicleta no meio de uma via expressa, com carros se digladiando num trânsito caótico, após discutir com outro motorista que avançou para cima dela, terminou se distraindo ao chamar a atenção do motorista, perdeu o equilíbrio e caiu na frente de um ônibus que trafegava no sentido correto, em velocidade correta para e trecho e o mais importante, o motorista mantinha o veículo perfeitamente colocado na faixa destinada aos ônibus, sendo que a ciclista é que se desequilibrou e caiu bem na frente do ônibus, com o que o motorista nada pôde fazer. Lamentemos pela perda dessa vida, tão cheia de promessas.
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Conforme o relato das testemunhas, tanto dentro como fora do ônibus, o motorista dirigia em velocidade normal e pôde apenas frear o ônibus depois de acontecido o acidente. Na foto feita pelos repórteres após o acidente, vê-se o ônibus perfeitamente posicionado no corredor que é destinado a ele e parado a poucos metros do local do atropelamento, o que mostra que sua velocidade era normal para o trajeto. O motorista mal conseguindo falar depois de tudo, ficou em estado de choque olhando o resultado de tudo aquilo.

Na verdade, o motorista ficou olhando o resultado do modo como os ciclistas paulistanos encaram o trânsito de São Paulo. Encaram como se fosse o trânsito de Estocolmo, na Suécia, onde uma legião de ciclistas anda tranquila nas faixas das ruas destinadas aos ciclistas enquanto que os veículos de todos os tamanhos andam tranquilos em suas pistas e ninguém machuca ninguém. E os ciclistas de São Paulo, mesmo sabendo do perigo, saem andando no meio dessa arena de gladiadores motorizados como se fossem invulneráveis a tudo isso, em nome da "liberdade de transitar". O resultado só pode ser esse. E tanto é que dos inúmeros casos diários de ciclistas atropelados, apenas um ou outro vira notícia, talvez porque haja uma equipe de jornalismo por perto, como foi neste caso. O resto vira apenas estatística dos acidentes de trânsito.
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Andar de bicicleta no meio do trânsito de São Paulo só se compara a fazer uma roleta russa, com a diferença de que na roleta russa o sujeito tem mais chances de sobreviver. Morei em São Paulo por alguns anos. Fui do interior para a dita metrópole e na mudança levei minha bicicleta, afinal tinha ouvido falar das manhãs de domingo onde todos andam de bicicleta pelos parques. Assim que fui vendo como era o trânsito por lá, ao ver como como os carros e ônibus se jogavam uns em cima dos outros e como faziam os pedestres darem pulos para escaparem por pouco de serem atropelados, não tive dúvida. Em todos os anos em que morei em São Paulo, deixei minha bicicleta bem guardada num canto do meu apartamento. A dita cuja rodou em São Paulo apenas da calçada até o apartamento e anos depois do apartamento até o caminhão de mudança para o interior, onde hoje roda tranquila.
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Cansei de ver ciclistas descendo a Rua da Consolação disputando espaço com ônibus e caminhões, vi ciclistas indo de um lado para o outro perto da Praça da Sé, outros fazendo voltas na Praça da República como se carros e ônibus estivessem em outra pista. Com as reportagens que volta e meia eram mostradas na televisão sobre acidentes com ciclistas, em momento algum me arrependi de ter deixado minha bicicleta bem guardada.
Podemos fazer uma comparação com países que foram atingidos por guerras civis e tiveram muitas partes do seu território minadas e tornadas perigosas, mortais mesmo para que alguém caminhe por lá. Hoje soldados especializados olham cada metro do terreno e vão localizando e desativando as minas, uma a uma. Ninguém, por mais corajoso que seja, vai sair andando nesses campos minados em nome "da liberdade de caminhar".
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Pois os ciclistas de São Paulo, em nome da tal "liberdade de transitar" tem uma atitude semelhante à de andar aos pulos num campo minado. O que é que um sujeito montado em cima de uma bicicleta de 1,5 mt. de comprimento com uns 5 quilos de peso vai fazer no meio de ônibus e caminhões de 10 mts. de comprimento e 5 toneladas de peso?
Quase sempre, pelo que vemos nos noticiários, vai parar embaixo deles. É uma pena que isso ainda aconteça, mas também é uma imprudência e das suicidas andar de bicicleta numa cidade como São Paulo, com o trânsito que tem, que mais parece uma arena de gladiadores motorizados.
Um dia São Paulo vai ter um trânsito como o de Estocolmo, onde ciclistas e motoristas irão conviver em paz.
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Se até esse dia ainda existirem ciclistas em São Paulo.