segunda-feira, 27 de agosto de 2012

D38 A melhor mesmo?

Quem será que disse isso...?
Há poucos dias eu estava vendo uma entrevista na televisão onde uma moça que provavelmente deve trabalhar em algum serviço de assistência social dava uma entrevista falando sobre a melhor idade e o cinegrafista mostrava um salão de baile cheio de mulheres e homens de mais ou menos 80 anos, talvez os mais novos. 
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Com todos dançando como se estivessem engessados ou quebrados e com a artrite visível na maioria, a repórter sorria fechando a matéria toda feliz falando sobre a melhor idade, que sinceramente me pergunto, é essa aí? 
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Eu dúvido, pois só de estar chegando perto dela fico arrepiado ao constatar as mudanças que ocorrem no meu corpo. Nem vou falar das moças lindas que um dia vi na praça aqui perto e que hoje, no mesmo caminho, estão simplesmente irreconhecíveis. Mas parece um costume de todos chamar essa idade de "a melhor idade".
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Artrite, problemas cardíacos, diabetes, juntas, músculos e nervos que não funcionam mais, remédios para todos os lados, bengala no lugar de chaveiro e movimentos tão ágeis quanto os de uma múmia e o que é pior, em certos casos a aparência é a mesma. Para azedar as coisas em definitivo, os que estão nessa idade geralmente tomam sopa, mas não porque gostam, é que os dentes caíram, fora outras coisas que já caem bem antes. E chamam isso de a melhor idade?
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Depois de ter chegado aos 57 anos razoavelmente saudável e mesmo assim ter problemas, especialmente de constatar como a gravidade parece aumentar a força dela na medida em que os meses passam, só posso discordar de darem esse nome a uma idade que fez com que os espanhóis quando da  descoberta das Américas passassem anos enfiados no meio  das selvas  procurando a mítica fonte da juventude que tinham ouvido falar em estórias de índios.
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Se essa idade fosse tão boa assim, quem iria perder tempo procurando essa fonte?  

Estando nessa idade ainda, já me parece que essa tal de melhor idade é a mesma coisa que estar no convés de um navio afundando e com o mar cheio de tubarões, cada um atendendo pelo nome de alguma doença que só chega nessa tão falada melhor idade. Geralmente quem fala está longe dela, como a repórter que fazia a matéria. Se essa idade fosse tão boa, as mulheres não comprariam creme para alisar a pele, mas sim para enrugar.
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Nesse quilômetro da estrada da vida e tendo chegado pelo menos com o consolo de uma saúde que se não é perfeita ao menos aceitável para esses tempos, perto de amigos meus que se arrastam atrás de médicos o tempo todo, fico pensando no que existe depois da curva e imagino uma coisa.

Será que não dá para fazer o caminho inverso? De volta para os anos 80? Ou 70?
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Que situação.
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