Voltei há algum tempo atrás para a floresta que
tanto amo, que já havia sido derrubada pela metade. Depois da chuva da manhã
fui lá para ver o que havia restado dos lugares onde eu tinha passado tantas
vezes, antigas trilhas entre as árvores que eu ainda conseguia seguir de
lembrança.
Caminhei entre os troncos caídos, sentindo o cheiro
da terra molhada. Ao fundo via a parte da floresta ainda intocada, mas já com
tempo certo para o corte. Nos troncos caídos, foram-se lembranças de passagens da
vida, de pessoas, de sentimentos, de tanta coisa.
Mais forte ainda era a lembrança do perfume das
árvores nas caminhadas quando a noite já estava caindo.
Na primeira vez que vi essa floresta derrubada há
muito tempo atrás, senti uma tristeza profunda. Mas depois soube que tudo ali
era cortado depois de alguns anos de plantio. Aos poucos fui vendo como
cresciam novamente e durante esse tempo todo tanta coisa da minha vida cresceu
e floresceu junto.
Mas a vida é assim mesmo. Veio o corte e fui olhar o
que havia restado. Fotografei tudo para guardar de lembrança e ao mesmo tempo
fui vendo nos dias que se seguiram como pequenos ramos começam a brotar dos
troncos cortados.
Na volta, ao passar por um caminho bem distante para
ver uma árvore que sempre deu floradas lindas, não pude deixar de sentir
tristeza. Também havia sido cortada, mesmo não sendo da floresta.
Mas no tronco ainda úmido de chuva, também já surgia
um pequeno ramo. Vai demorar um bom tempo, mas vou rever as flores que ela dá,
me sentar sob sua sombra, aproveitar seu perfume e depois caminhar para a
floresta novamente.
Demora, mas a vida refloresce.
Vellker