quinta-feira, 21 de abril de 2011

D16 Calor de 40 graus

Que interessante...que divertido...
Tarde de 21 de abril. Meio-dia. Me preparo para sair com deliciosos 30ºC, isso medido em casa, é claro. Aqui é país tropical, calor tem suas vantagens. Conheci uma professora russa que dizia que preferia derreter aqui do que voltar a enfrentar o frio da Rússia de 30 graus negativos. Lembro do asfalto dando a impressão de ter água ao longe e vou trocando de roupa. No asfalto é sempre mais quente.
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Enquanto arrumo as botas, mochila, água e tudo mais, ainda vejo na televisão as notícias de última hora sobre o trânsito. Ora essa, eu aqui imaginando que todos já haviam fugido de São Paulo ontem a noite mesmo, mas nada disso. Alguma coisa deve ter dado errado. Atrás do repórter aparece uma fila inacreditável de carros. Parece que todos decidiram sair na mesma hora e na mesma estrada. Que coisa.
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Ao chegar na pista, vejo que o repórter deve ter filmado algum pedágio aqui perto. Incrível o número de carros que passam. A pista que vai para São Paulo está vazia. Suado, ponho a mão no asfalto e sinto que deve estar uns 40 graus ou mais por aqui. Percebo que meu corpo se adaptou com essas caminhadas. Se me perguntassem como me sinto, diria que parece uma ida até o supermercado. Há meses atrás, quando inciei essas caminhadas, ao voltar desabei em cima da cama, com os pés em fogo e as orelhas vermelhas de sol. O único pensamento que me vinha à mente era sobre testamento e últimas vontades.
Na maioria dos carros aparece a família padrão mecanizada das grandes cidades. O casal na frente e três passageiros no banco de trás. Pouquíssimos carros só com o casal ou com o motorista sozinho. Em alguns carros dá para ver uma senhora entre as duas crianças. Deve ser a avó no meio dos netinhos. Fico imaginando a situação. O sujeito dirigindo há coisa de quatro horas, as crianças pulando e berrando lá atrás e a sogra, que ele odeia, dando palpites sobre tudo. Os motoristas de caminhão estão particularmente cuidadosos hoje, adaptados à velocidade das famílias mecânicas. Que interessante.
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Chego no meio da caminhada e vejo um carro sob a sombra de uma árvore, com placa de São Paulo. Livres do medo generalizado da cidade grande, o casal aproveitou a parada na pista, a sombra e o ar fresco para comer um sanduíche. Fosse na cidade grande já teriam sido ou assaltados ou abordados por uma viatura policial. Dentro do carro está um cachorrinho típico de apartamento. Bem pequenino para ocupar pouco espaço, pêlos cuidadosamente escovados e fitinhas perto das orelhas para parecer sociável para o síndico e para os vizinhos. Que situação.
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Vou caminhando e vendo que, como no último feriadão, todos me olham como se eu fosse de outro planeta. Também pudera. Com esse sol, na contramão e na subida. Continuo a caminhada, chego ao topo e vejo de onde saí há coisa de uma hora.
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Mais uma hora e chego em casa. Calça e camiseta suados e até a mochila molhada de suor. É, meu corpo se adaptou, caminho até a geladeira no maior sossego para tomar um café com leite gelado. Vou esperar o fim do feriadão para sair novamente e ver o retorno das famílias mecânicas de novo.
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Depois de trocar de roupa, olho para as botas e admiro o trabalho do sapateiro, de meses atrás. Vou ter que voltar lá, mas a troca que ele me sugeriu da sola original por sola de pneu de caminhão foi a melhor coisa que já vi. Olhando para as botas e relembrando todas as caminhadas, só agora, depois de uns 200 quilômetros é que vou precisar recolar o solado. Que divertido.

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