Hoje voltei cansado da visita. Entre minha casa e o hospital existe uma velha ferrovia. É também um lugar onde muitas vezes deixo minha mente vagar, pensando em todas as coisas possíveis. Quando me sento perto dos entroncamentos, olho para o reflexo do sol poente que deixa os trilhos como uma marca de luz no chão. Vale a pena ter refllexões nesses momentos. Hoje é um dia frio e foi mais um dia de visita. Minha mãe está internada no hospital, seguindo o mesmo caminho do sol poente. Um dia sua luz desparece no horizonte da vida. Dói, mas a vida é assim. Olho bem os trilhos e me lembro do pequeno sítio onde minha mãe passou sua infância. Estes trilhos aqui na minha cidade, pouco mais de uma centena de quilômetros à frente passam exatamente lá. Sei porque já visitei o velho sítio. Por coincidência, era um dia frio como hoje.
Olho para a paisagem, para a bruma fria que passa pelos trilhos e penso quando poderei fazer outra visita àquele lugar. Lembrar das histórias dela, da vida de trabalho no sítio, do amanhecer com as tarefas do dia e depois pegando os cadernos e indo até a escola para as primeiras aulas do curso primário. O aprendizado da vida foi bem mais duro para ela quando perdeu a mãe, afinal a medicina era um privilégio de poucos naqueles tempos. Hoje um hospital simples, mas acolhedor e muito bem limpo assiste sua velhice, mas quando chego lhe trazendo a florzinha do campo que pego todas as manhãs, parece que posso ver aqueles olhinhos de menininha brilharem novamente. Na verdade, ela nesses momentos vira um menininha, como uma de joelhinho machucado, que vem pedir socorro para mim. Faço o possível até conseguir um sorriso e ver um rosto de onde transparece uma sensação de conforto. Sorrio, procuro ocultar minha tristeza e faço o melhor para que ela se acalme. Na saída olho meu rosto no espelho e me pergunto se terei conseguido colocar bem a máscara de um rosto alegre, para lhe passar segurança. Fernando Pessoa dizia que colocamos uma máscara no rosto para ocultarmos o que realmente sentimos e um dia não distinguimos mais a máscara do nosso rosto. E o meu, alí sozinho, é só tristeza. Mas tenho que continuar.





Todos nós temos um caminho a seguir. Esse tem sido o meu por esses dias. Muitas vezes é no trilhar dos caminhos da vida que aprendemos muita coisa.
Voltei a lembrar dos trilhos sendo vergados pelo peso dos vagões, pelo zunido forte das rodas atritando e desgastando os trilhos e senti como se minha alma estivesse assim. É verdade, há dor, mas também um aprendizado. Mas em certos momentos, a dor é tão grande que eu preferiria não ter que aprender nada. Mas são coisas da vida. Uma delas é ter que seguir em frente.
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