quinta-feira, 2 de junho de 2011

R37 Não parece haver fim para isso

Lágrimas e lembranças...
Ontem passei mais uma vez na velha ferrovia que hoje faz parte de muitas lembranças que tenho. Gostaria que houvesse um fim para isso, mas não vai ter. Olho para os trilhos, essa continuidade terminando numa curva onde não posso mais ver o caminho. Vai ser assim, sem ver o final disso o resto da vida.
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Quando era criança passei nesta mesma ferrovia num dia de verão, com minha mãe me levando para conhecer a cidade onde ela havia nascido. Ainda hoje me lembro dos campos e matas, da alegria de viajar de trem. Depois a chegada na estação, o passeio na cidade, tudo que deixa uma criança feliz. Até mesmo a estradinha por onde passamos ainda existe.
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Ontem, de novo me peguei relembrando dos dias em que cuidei da minha mãe enquanto ela agonizava, abatida pela doença que a levou ao fim. Nem mesmo quero lembrar disso, a lembrança vem como uma onda de ar frio, que não peço e nem desejo, simplesmente vem, tamanho foi o sofrimento que ela passou e me deixou marcado.
Lembro do olhar dela, entre assustado em certos momentos e com lágrimas em outros, poucas vezes sereno, pela dor que a doença lhe causava. Pouca vezes eu via serenidade naquele olhar, mas cuidava dela como podia. É aí que nos sentimos miseravelmente humanos. Humanos incapazes de fazer alguma coisa, incapazes de fazer um milagre, apenas vítimas do que acontece. E muitas vezes eu via o olhar dela como o de uma menina assustada, com lágrimas descendo e só o que eu podia fazer era cuidar dela, com os olhos úmidos também.
Não queria ficar lembrando disso, mas a dor que ela sofreu foi tão grande que veio a ser parte da minha vida e minha dor também. Olho para o sol se pondo e os trilhos brilhando com sua luz. Gostaria que essa dor tivesse um pôr do sol também.
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O vento volta a soprar. Eu me levanto e caminho. Enquanto atravesso a ferrovia, olho para os trilhos, olho bem para a curva onde os trilhos se perdem e em parte me conformo. Não parece haver fim à vista para essa dor.

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