terça-feira, 22 de junho de 2010

C01 Pecados de guerra

Um filme para não esquecermos...

"Pecados de guerra" é um filme que impõe perguntas. As mesmas que fazemos hoje no Brasil. Depois do incidente em São Paulo onde um jovem da periferia, mais um, foi espancado até a morte na frente de sua mãe por policiais militares agora presos, é necessário repensarmos o que é nossa polícia. Repensar é a única coisa que uma população indefesa pode fazer por ora. A pergunta que podemos começar fazendo a nós mesmos é porque nenhum jovem que mora no bairro do Morumbi ou Jardim Europa em São Paulo é morto da mesma forma. Os policiais sabem a resposta. Nestes bairros riquíssimos moram importantes autoridades estaduais e federais, políticos, magistrados e outros capazes de triturar até mesmo o comandandate da polícia. Publicado originalmente em 27.05.06 em http://vellker.blog.terra.com.br/

Filme recomendado
Pecados de Guerra

1989 - Direção de Brian de Palma, com Sean Penn, Michael J. Fox - LK-TEL Vídeo

Muitas vezes no cinema percebemos o quanto um filme mostrando outro povo, outro mundo, outros personagens pode na verdade, trazer um reflexo igual ao que vemos nas ruas nesses dias. Baseado em fatos reais, a partir da reportagem e livro denúncia de um repórter americano em 1969, sobre o sequestro de uma jovem vietnamita, que foi levada de uma aldeia por soldados americanos, violentada e morta durante uma patrulha.
Ao retornarem para a base, tentaram ocultar o fato, já que um dos soldados que tentara salvar a moça e quase tinha sido morto por isso, havia denunciado o acontecido para seu líder de pelotão, recebendo como resposta nada além de pouco caso.
No desenrolar da narrativa, ele, ao confrontar-se com a frieza com que não só seu pelotão, mas todos os soldados recebiam o acontecido, começa a se ver ameaçado de morte, escapando de atentados e perdendo a capacidade de distinguir o que é a defesa de uma corporação e a ocultação de um assassinato que levaria todos para a cadeia em suas cidades.

Destaque para a interpretação do ex oficial Dale Dye, que realmente combateu no Vietnã, atuando como conselheiro militar do diretor e também em ponta como ator, no papel do oficial que tenta encobrir tudo com a transferência do soldado.


No final, como foi na realidade, tudo acaba sendo descoberto pela ação da imprensa. Ao mesmo tempo que pensamos em ir para a locadora, podemos saber das últimas notícias sobre a execução de 109 suspeitos nas ruas nos incidentes desta semana e pensamos sobre o quanto podemos estar seguros ou inseguros, se formos vistos como suspeitos por uma tropa armada e assustada nas ruas.

E de como seríamos considerados um pecado de guerra se fôssemos atingidos. Ou como dizia um dos soldados ao tentar evitar a denúncia, no filme ´...O que acontece na selva, fica na selva...´.

O que acontece nas ruas, fica nas ruas, é o que podemos depreender do comportamento do comandante da PM de São Paulo ao falar para a imprensa sobre os 109 mortos que...nenhum suspeito inocente foi morto...

Interessante. Se eram apenas suspeitos, porque foram mortos? E se eram suspeitos, eram suspeitos do quê? Então a polícia admite que apenas a simples suspeita basta para qualquer um nas ruas cair crivado de balas? Estamos vivendo assim o mesmo tempo de insegurança que viviam os cidadãos de países como a Guatemala, El Salvador e Nicarágua de Anastasio Somoza, onde a simples suspeita ou a falta da carteira de identidade levava um cidadão a ser executado porque suspeitavam dele.

Nada poderia ser pior para qualquer um do que ver, que na realidade, essa corporação policial só se preocupa em se defender e defender os que a defendem, sem maiores considerações que não uma espécie de irmandade tribal, excluindo totalmente o cidadão comum de seus cuidados e colocando na alça de mira de sua vingança qualquer um pelo simples fato de parecer...suspeito. Não é preciso ser culpado. Hoje realmente não estamos livres de sermos nos dias que correm, de sermos confundidos com suspeitos.

No entanto percebemos que a suspeição da polícia é extremamente seletiva. Não consta que tenham caído suspeitos que andavam pelos bairros nobres, de gente rica, poderosa e influente, como os Jardins, Morumbi ou Avenida Paulista. Onde mesmo que o passante lá seja suspeito, com certeza terá uma família que será capaz de dar o troco, seja por via judicial, política ou executiva.

Para que um tribunal? Para que um judiciário, um juiz, um promotor, um defensor ou um jurí, se o guarda da esquina pode decidir que você é suspeito e portanto apertar o gatilho...?

Links a verificar:
Guerra do Vietnã
Pecados de Guerra
Defensor comenta as mortes e fala de inocentes atingidos

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