quinta-feira, 15 de setembro de 2011

D24 Civilização, afinal

Apesar de tudo, ela aparece...
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Ando pela rua numa tarde quente. Na calçada ao lado anda um adolescente do modo mais deplorável possível, porém rotineiro nos dias de hoje. Já pouco habituado aos costumes civilizados, entre eles o de se vestir, é o tipo que vemos pelas ruas hoje.
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Chinelão, bermuda, camiseta, tudo sujo e boné ensebado enfiado na cabeça. Os cabelos imitando Justin Bieber se esparramam por fora, mal deixando uma fresta para o coitado enxergar. Suponho que seja teleguiado. Na mão um telefone celular tocando uma coisa que chamam de funk no último volume e que alguns críticos malucos ou muito bem subornados dizem que é música. Por um instante me sinto na selva, se bem que os índios tem um comportamento muito mais civilizado e acordes musicais infinitamente melhores, mesmo que só disponham de um bumbo e um tronco para tocarem suas músicas.
Entro na barbearia para o costumeiro corte de cabelo. Enquanto espero que um garoto termine de cortar o cabelo, noto que esse parece civilizado ou tem pais que cuidam de seus modos e principalmente o ensinam a se vestir corretamente.
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Enquanto isso o barbeiro, um velho conhecido, ajusta o som do rádio onde ele sempre sintoniza a mesma emissora. Começa a tocar a inesquecível música de Nat King Cole que se chama "Unforgetable". Inacreditável. O rosto de menino se abre num sorriso. Pelo que posso ver, ele aprecia músicas civilizadas. Nem tudo está perdido.
Ele termina de cortar o cabelo e sai. O barbeiro começa a cortar meu cabelo enquanto a locutora anuncia a próxima música. Novamente nem posso acreditar. Ouço a música "Strangers in the night" na voz eterna de Frank Sinatra. É muito bom cortar o cabelo assim, folheando uma revista velha e ouvindo músicas desse tipo, inesquecíveis e que serão tocadas em qualquer época e cultuadas como música mesmo, com um cantor apresentável com porte e com garbo, civilizado afinal. Saio dali para casa depois de conversar um pouco e olho pela rua enquanto caminho. É verdade, a geração atual, não só ela como até seus avós regrediram até mesmo a comportamentos incivilizados, onde até mesmo colocar uma roupa decente parece estranho aos habitos dos ditos aborígenes mecanizados que andam pelas ruas, quando estariam mais bem adequados a uma selva.
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Mas depois de ouvir essas músicas, de ver um garoto de uns 11 anos admirar músicas que representam o que de melhor temos para ouvir, sentir e apreciar e tudo isto numa barbearia de uma cidade pequena, posso acreditar que a civilização só foi até alí no canto da História e logo volta.

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