domingo, 13 de novembro de 2011

L05 A voz do Espírito Santo

Inacreditável, mas divertido...
Como ateu eu não deveria sintonizar meu rádio em emissoras religiosas tanto evangélicas como católicas, mas confesso que é divertido. Afora alguns raros momentos de pregações bem articuladas, o ouvinte desses programas, se não for crente, analisa a parcialidade das religiões em certos momentos e se diverte em outros. Sempre embalados por Deus, Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, como eles mesmos dizem, os pastores e padres católicos embrenham-se na oratória religiosa com os mesmos discursos, apenas variando na religião seguida.
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Em pregações evangélicas e católicas, o furor, a raiva dos pastores e padres contra o assim chamado Diabo se traduz em pregações e exorcismos que devem fazer o pobre microfone se curvar de medo de ser atingido por algum murro que o pastor ou padre esteja dando no Diabo. Nesses momentos são pura fúria e aos poucos vão amansando a voz. Qualquer um que esteja habituado a ouvir essas rádios sabe porque. Chegou o grande momento. Logo estarão falando que tem que pagar o aluguel, tem que pagar a emissora e você, ouvinte, fiel, amigo de Deus, não quer que a obra de Deus pare, não é?
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Então aí ele fala de como colaborar, passa o número da conta dos bancos que recebem as doações e por aí vai. É difícil acreditar que padres ou pastores, capazes de expulsar o Diabo com tanta facilidade, capazes de materializar bençãos e milagres de cura e libertação como dizem, sejam incapazes de materializar cédulas de dinheiro na carteira da igreja. Enfim, o poder divino tem limites e quando se trata de dinheiro, aí fica bem limitado mesmo. Cruelmente vê-se então que a Deus tudo é possível, menos deixar de pedir dinheiro a seus fiéis.
Enquanto isso a massa de fiéis põe a mão no bolso sem pestanejar e a arrecadação cresce a cada dia e constatamos que sem dinheiro não tem milagre. É duro mas é verdade e não há padre ou pastor que consiga mudar isso. E acima de tudo, quem disse que eles querem mudar isso?
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Outra coisa comum aos evangélicos das ínumeras rádios existentes e aos católicos carismáticos que se ouve na divertida rádio católica Canção Nova são as incorporações ou frases inspiradas pelo Espírito Santo, que segundo os pregadores evangélicos e padres, desce até as reuniões de fiéis católicos e evangélicos e lhes transmite inspiração divina, mas de acordo com cada seita, é claro, e assim o Espírito Santo revela um notável espírito apartidário. Diz aos evangélicos que eles estão certos e diz igualmente aos católicos que eles também estão certos. Assim, tomados pelo poder do Espírito Santo, os mais conhecidos pregadores evangélicos e católicos nos transmitem palavras inspiradoras, segundo dizem, mas num dialeto que só encontra paralelo nas reuniões de cristãos. Tradutores não existem. Conseguiram até traduzir os pergaminhos escritos em línguas extintas que depois chamaram de Bíblia, mas traduzir o que o Espírito Santo fala, isso ninguém consegue. Ou não pode, o que explica tudo.
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Ouvindo atentamente o rádio, tanto de pastores evangélicos como de pregadores católicos, tudo o que o Espírito Santo tem a nos dizer se resume nas seguintes sílabas, repetidas à exaustão:
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"Iálábá-lábáliê-láláriê" ou "Alálálálá-bá-luluê" ou "Iesh-málábá-lá-lá-bá" ou "Ilálálá-ulê-láláiê"
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Segundo os pregadores católicos e também evangélicos, essas frases resultam da milagrosa comunicação do Espírito Santo com seus fiéis. Porém, é claro, sabendo da descrença que isso iria provocar, saem-se com a bem engendrada explicação de que na verdade isso é o dom de línguas conforme explicado na Bíblia, quando o Espírito Santo deixa a todos arrebatados.
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E mais, milagre dos milagres. Não é preciso entender o que o Espírito Santo diz, nem é preciso sequer tentar traduzir o que seus seguidores dizem aos pulos e aos berros. Quando ele faz os pregadores e fiéis darem pulos e gritarem sílabas absurdas, ele na verdade está passando para todos os fiéis e seus pregadores o sentimento do que eles realmente devem fazer. Mesmo sendo incapazes de dizerem o que foi que o Espírito Santo disse que deverão fazer, eles acreditam que o farão de forma inconsciente na medida em que viverem suas vidas. Por isso não é preciso entender o que o Espírito Santo disse com essas sílabas totalmente sem sentido.
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Seria maravilhoso se os pastores evangélicos e padres católicos realmente acreditassem nisso e pedissem dinheiro ou se dessem o número das contas dos bancos para os fiéis com a seguinte frase inspirada pelo Espírito Santo:
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"Iálábá-lábáliê-láláriê" ou "Alálálálá-bá-luluê" ou "Iesh-málábá-lá-lá-bá" ou "Ilálálá-ulê-láláiê" Mas em todas as pregações, digamos assim, financeiras, eles deixam o Espírito Santo de lado e na hora de pedirem dinheiro, o fazem em dialeto bem compreensível, fazendo questão de repetir várias vezes na mais comum das linguagens do mais comum dos mortais, o nome do banco onde a igreja tem conta, o número da conta e que dia pagar o boleto. E o mais importante, dizem o mínimo que deve ser doado.
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Sem dúvida, nesses momentos das pregações mais apegadas às coisas materiais que proveem o pagamento das contas de água, luz, o salário, a marmita e o aluguel da casa dos padres, o Espírito Santo e seu dom de línguas incompreensíveis são deixados de lado sem maiores cerimônias.
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Ou isso ou então o Espírito Santo se recusa a tirar dinheiro do bolso. Isso sempre fica por conta dos fiéis.

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