quarta-feira, 14 de março de 2012

R47 O Oscar também enferruja

Nem consigo acreditar...
O Oscar também enferruja. Pelo menos o que um dia achamos que valia um Oscar em nós
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Com a última cerimônia de entrega do Oscar, decidi dar uma passada nas imagens de filmes memoráveis e que mostravam feitos heróicos dos vários personagens interpretados por ninguém menos do que Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Ora, nas décadas de 80 e 90, eles protagonizaram sempre personagens do bem, fortes, invencíveis e inspiradores de milhões de cinéfilos.
Heróis imbatíveis, invencíveis e que julgávamos eternos. No hospital fazendo exames. Não é possível
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O problema é que logo depois de navegar por algumas imagens dos melhores filmes dos dois, topei com a notícia e a imagem deles internados no mesmo hospital para exames. Coisas da vida. Cheios de tubinhos de soro e medidores disso e daquilo, os nossos heróis de carne e osso que enfrentavam batalhões de inimigos e monstros alienígenas, cheios de machucados mas ainda em pé e atirando bravamente e sempre vencendo no final, mostravam que são realmente de carne e osso. Como o tempo é cruel.
1985. Que sujeito não saia do cinema pensando em treinar como um Rambo? Já 27 anos depois, é outra coisa
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Em 1985 todos em silêncio viam Sylvester Stallone na pele de Rambo entrando destemido num campo de prisioneiros no Vietnã do Norte, onde maldosos soldados inimigos o faziam retornar a uma guerra que vivera há tanto tempo. Pior ainda, russos mais maldosos ainda tornavam tudo mais difícil para o nosso herói, que no final conseguia derrotar todos os inimigos e nos levava para um final feliz.
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Depois de saírem do cinema, boa parte dos espectadores procurava a primeira academia de musculação pensando em se olhar no espelho algum tempo depois, sem dever nada à figura musculosa do herói que alguns minutos antes deixara todos inspirados.
1987. Depois de ver o filme, qualquer um saía do cinema procurando a primeira porta de academia de musculação. 25 anos depois procuramos anti-inflamatórios na farmácia
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Em 1987 quem não ficou se retorcendo na cadeira quando o alienígena caçador de seres humanos, maldosíssimo e perverso caminhou os últimos passos para enfim matar o major Alan, interpretado por Arnold Schwarzenegger, último sobrevivente de todo o pelotão, mas que ainda assim tinha uma última cartada para se salvar?
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Todos os admiradores do herói saíam do cinema procurando novamente a porta da academia de musculação, onde tinham entrado dois anos antes, feito várias perguntas, tinham prometido começar no outro dia e nunca mais tinham voltado, mas dessa vez saíam do cinema com a firme determinação de se matricularem mesmo. Dessa vez era verdade, sério mesmo.
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Seria o fim daquela vida de só erguer copo de refrigerante e balde de pipoca no cinema enquanto os heróis davam o sangue lutando, eram o que os mais afoitos pensavam enquanto caminhavam resolutos até a academia. Pena que a lanchonete ficasse no meio do caminho, com todos aqueles salgadinhos e sanduíches à mostra no balcão. Ora, que mal faria uma paradinha só, a última para comer mais uns quibes, pastéis e beber mais um copão de refrigerante. Era só a despedida de tudo aquilo.

1982. Oito anos antes, Macgyver e suas peripécias nos faziam pensar em entrar para algum serviço secreto
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Relembrando essas coisas, no meio disso tudo, pensando em como realmente o Oscar pega ferrugem, aproveitei para olhar alguma coisa sobre Macgyver, interpretado por Richard Dean Anderson, que se não era um Hércules invencível e ainda por cima era do batalhão de heróis anti-armas e que desarmado era capaz de improvisar as mais inacreditáveis engenhocas e truques usando de cadarço de sapatos para desativar uma mina até produtos de limpeza para imobilizar um assaltante, nos fazia acreditar que sim, seríamos capazes também de fazermos truques geniais como ele. Algum dia, é claro, em alguma emergência. Enquanto isso só o cadeado enroscado nos deixava para fora de casa e tínhamos que tocar a campainha para abrirem a porta. Mas sem dúvida tínhamos essa genialidade do Macgyver dentro de nós, reservada para momentos cinematográficos.
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E depois, em pleno sábado, dia de bailinhos e coisas assim, ainda por cima podíamos ao menos tentar deixar o topete parecido com o dele antes de irmos para a praça dar um passeio e ver as garotas, muitas das quais hoje vemos com o número do manequim vários números acima do que elas usavam na época. E bota número nisso. Pensando nisso tudo, preferi nem olhar as atrizes belas e sensuais daquela época para não ter nenhuma surpresa parecida.
2012. Enfim, o tempo podia ser mais gentil na hora de fazer marcas. Mas Macgyver parece bem feliz
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E não é que aparece a foto do mesmo Macgyver, na mesma situação. Onde foi parar aquele herói genial, de corpo esbelto e mais ágil do que capoeirista? Em todo caso, visitando o Rio de Janeiro, parece feliz e bem resolvido com a vida. Se sumiu o Macgyver que víamos no seriado, pelo menos parece que o sujeito que dá a entrevista dizendo que adorou o Brasil não tem do que reclamar da vida.
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É verdade, mesmo que tenha aumentado vários quilos no peso e vários números no manequim, ao que tudo indica, a vida anda às mil maravilhas para ele. Melhor assim. Um final feliz. Já é grande coisa.
Bem, não adianta fazer isso. O espelho lembra o nome de outro filme, o "O fiel camareiro", de 1983. Só diz ou melhor, só mostra a verdade. O duro é olhar para ela
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Vou até o armário, abro a caixa de fotografias e decido olhar para minha foto de 1983 e me comparar no espelho. Nem consigo acreditar. O Oscar pega ferrugem mesmo ou pelo menos o que achávamos que existia de Oscar dentro da gente. Não acredito que fiquei assim. Bem, nem adianta dar um murro no espelho, uma idéia que me passa pela mente.
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Ele nada mais faz do que apenas refletir o que colocam na sua frente. A gente é que não quis ver esse tempo todo. Que coisa. E depois desses anos todos sem ir na academia de musculação, se eu der o murro e perder para ele, aí é que desanimo de vez.
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Vellker
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