sábado, 3 de março de 2012

D35 São Paulo não é Estocolmo

Mas os ciclistas paulistanos continuam achando que é...
Morreu ontem na Avenida Paulista mais uma ciclista paulistana, no clássico roteiro desses acontecimentos. Andando de bicicleta no meio de uma via expressa, com carros se digladiando num trânsito caótico, após discutir com outro motorista que avançou para cima dela, terminou se distraindo ao chamar a atenção do motorista, perdeu o equilíbrio e caiu na frente de um ônibus que trafegava no sentido correto, em velocidade correta para e trecho e o mais importante, o motorista mantinha o veículo perfeitamente colocado na faixa destinada aos ônibus, sendo que a ciclista é que se desequilibrou e caiu bem na frente do ônibus, com o que o motorista nada pôde fazer. Lamentemos pela perda dessa vida, tão cheia de promessas.
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Conforme o relato das testemunhas, tanto dentro como fora do ônibus, o motorista dirigia em velocidade normal e pôde apenas frear o ônibus depois de acontecido o acidente. Na foto feita pelos repórteres após o acidente, vê-se o ônibus perfeitamente posicionado no corredor que é destinado a ele e parado a poucos metros do local do atropelamento, o que mostra que sua velocidade era normal para o trajeto. O motorista mal conseguindo falar depois de tudo, ficou em estado de choque olhando o resultado de tudo aquilo.

Na verdade, o motorista ficou olhando o resultado do modo como os ciclistas paulistanos encaram o trânsito de São Paulo. Encaram como se fosse o trânsito de Estocolmo, na Suécia, onde uma legião de ciclistas anda tranquila nas faixas das ruas destinadas aos ciclistas enquanto que os veículos de todos os tamanhos andam tranquilos em suas pistas e ninguém machuca ninguém. E os ciclistas de São Paulo, mesmo sabendo do perigo, saem andando no meio dessa arena de gladiadores motorizados como se fossem invulneráveis a tudo isso, em nome da "liberdade de transitar". O resultado só pode ser esse. E tanto é que dos inúmeros casos diários de ciclistas atropelados, apenas um ou outro vira notícia, talvez porque haja uma equipe de jornalismo por perto, como foi neste caso. O resto vira apenas estatística dos acidentes de trânsito.
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Andar de bicicleta no meio do trânsito de São Paulo só se compara a fazer uma roleta russa, com a diferença de que na roleta russa o sujeito tem mais chances de sobreviver. Morei em São Paulo por alguns anos. Fui do interior para a dita metrópole e na mudança levei minha bicicleta, afinal tinha ouvido falar das manhãs de domingo onde todos andam de bicicleta pelos parques. Assim que fui vendo como era o trânsito por lá, ao ver como como os carros e ônibus se jogavam uns em cima dos outros e como faziam os pedestres darem pulos para escaparem por pouco de serem atropelados, não tive dúvida. Em todos os anos em que morei em São Paulo, deixei minha bicicleta bem guardada num canto do meu apartamento. A dita cuja rodou em São Paulo apenas da calçada até o apartamento e anos depois do apartamento até o caminhão de mudança para o interior, onde hoje roda tranquila.
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Cansei de ver ciclistas descendo a Rua da Consolação disputando espaço com ônibus e caminhões, vi ciclistas indo de um lado para o outro perto da Praça da Sé, outros fazendo voltas na Praça da República como se carros e ônibus estivessem em outra pista. Com as reportagens que volta e meia eram mostradas na televisão sobre acidentes com ciclistas, em momento algum me arrependi de ter deixado minha bicicleta bem guardada.
Podemos fazer uma comparação com países que foram atingidos por guerras civis e tiveram muitas partes do seu território minadas e tornadas perigosas, mortais mesmo para que alguém caminhe por lá. Hoje soldados especializados olham cada metro do terreno e vão localizando e desativando as minas, uma a uma. Ninguém, por mais corajoso que seja, vai sair andando nesses campos minados em nome "da liberdade de caminhar".
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Pois os ciclistas de São Paulo, em nome da tal "liberdade de transitar" tem uma atitude semelhante à de andar aos pulos num campo minado. O que é que um sujeito montado em cima de uma bicicleta de 1,5 mt. de comprimento com uns 5 quilos de peso vai fazer no meio de ônibus e caminhões de 10 mts. de comprimento e 5 toneladas de peso?
Quase sempre, pelo que vemos nos noticiários, vai parar embaixo deles. É uma pena que isso ainda aconteça, mas também é uma imprudência e das suicidas andar de bicicleta numa cidade como São Paulo, com o trânsito que tem, que mais parece uma arena de gladiadores motorizados.
Um dia São Paulo vai ter um trânsito como o de Estocolmo, onde ciclistas e motoristas irão conviver em paz.
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Se até esse dia ainda existirem ciclistas em São Paulo.

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