quinta-feira, 26 de agosto de 2010

R26 Além do horizonte

Dia após dia, por enquanto...
Vi mais firmemente as coisas assim hoje, que vivo dia após dia. E foi mesmo por ter me sentido mal esses dias todos. Se bem que espero viver uma vida longa ainda, me parece por vezes, que pelas coisas que passei nos últimos tempos, é provável que minha saúde não me deixe ir muito longe. Meu coração foi exigido demais. Não é improvável que eu venha a ter problemas com ele. Acho que serão os últimos problemas que terei, se isso acontecer. Ao mesmo tempo meditando sobre tudo isso, me senti cercado de uma tranquilidade que desconhecia, como o passageiro de um trem, que depois de apreciar a paisagem numa viagem e ainda querendo ver mais sabe que deverá descer numa estação próxima.

Para me distrair um pouco e me reanimar do mal estar que sentia no peito, ao passar numa locadora decidi pegar o filme sobre Charles Darwin, história que já conheço, mas quis ver novamente. Pensei que afinal tantas coisas deixamos de ver e de repente jamais veremos mesmo. Se bem que creio que não nos importaremos muito com isso. Ainda com a dor no peito e com palpitações, comecei a ver o fime. Não poderia ter escolhido melhor. Charles Darwin, a épica viagem do navio Beagle, o obstinado capitão Fitzroy, Darwin escrevendo a teoria da evolução, a história foi me emocionando de tal forma que aos poucos meu coração batia com força. Achei ótimo. Talvez fosse o fim, como saber.

Só a cena em que duas crianças nativas são recebidas pela Rainha Vitória depois de um processo civilizatório é de levar às lágrimas. Enquanto eram conduzidas pelos guardas do palácio, relembrei todas as histórias sobre o tema império, desde Roma antiga até as páginas do livro de Marco Aurélio, um dos imperadores de Roma e depois as histórias do império britânico. Para quem gosta dessas coisas, um voo da mente sobre esse caminhar da humanidade me fez sentir que afinal não seria de todo mal se minha vida terminasse alí mesmo, com esses sonhos e lembranças.
Bem, por enquanto devo ter ganho mais algum tempo. Sabe-se lá quanto. Olhei para meus livros, companheiros de longa data e fiquei feliz pelas histórias do mundo que me deram. Fui até a sala, onde meu bom amigo, um cachorro que já se acredita dono de pelo menos metade dela, se levantou e veio pedir um afago. Fui com ele até o quintal.

Olhando as estrelas me detive nesses pensamentos. A tranquilidade da noite, a meditação sobre talvez estar, quem sabe, a pouco tempo de realmente saber se existe alguma coisa além da vida ou então descobrir o esquecimento absoluto. Surpreendi-me pela sensação de calma, quase uma espécie de baixa, como um soldado ao terminar uma missão.
Com a lembrança das estrelas na mente, me veio o desejo de que a mulher que amo estivesse aqui. Gostaria de estar com ela para o amor, de lhe fazer todos os carinhos, de sussurrar em seu ouvido palavras de carinho, de vê-la quase pegando no sono e cobrir seu corpo com a manta como já fiz tantas vezes e aí beijar seu rostinho e embalar seu sono. Seria perfeito.

Fiquei com lágrimas nos olhos imaginando tudo isso, mas a vida tem dessas coisas. Podemos ter planos e um certo caminhar, mas não o controle das coisas. Me lembrando da imagem dela, penso em vê-la, em sentir seu abraço, em lhe dar parte da minha vida, como ela me deu parte de sua vida.
Ao menos meu coração bate o suficiente para lembrar do meu amor, ver esse filme e sentir estas coisas. Já está bom assim. Me parece uma luz além do horizonte.

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